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Felizmente os pontos resolveram se comportar, e começaram a cicatrizar direito, o que dava uma coceira infernal, e mesmo depois que  fui retirá-los, aquela coceira maldita continuava. Na noite de terça pra quarta, Léo dormiu do meu lado, segurando minha mão para evitar acidentes. Apesar dos motivos que me fizeram ficar na casa dele, estava sendo muito bom passar aquele tempo com ele e com a Fatinha.

A mãe e o pai dele foram até me fazer uma visita. A dona Cecília era um amor, tão preocupada, me fez milhões de recomendações, e o pai dele tinha um olhar tão carinhoso para mim que me deixava sem graça. Vendo-os ali eu conseguia pensar em tudo o que o Léo havia me contado, ele havia saído de casa por causa das garotas dele, dava pra ver que ele era muito amado. E sendo filho único, eu consegui ver o vazio nos olhos de Roger por ficar longe dele. Talvez por isso, ele tenha gostado de mim. Por ver que Léo me levava a sério. E acho que também era surpresa para ele, ver seu filho cuidando de alguém.

Na quarta-feira recebi uma visita que não esperava de jeito nenhum. Pouco depois do almoço, Ivan e Manu entraram no quarto depois dele.

Fiquei tão surpresa, que nem consegui disfarçar.

- Ei garota... Tá viva? – Ele brincou se aproximando de mim.

- É, não foi dessa vez. Que ironia, um carro parado quase me matar, né?– brinquei. – Oi Manu.

- Oi Elise, o Léo me contou sobre seu carro. Eu sinto muito. – disse ela meigamente, com um jeito doce que eu invejava.

- Bom, Elise, se eu posso te dar algum consolo com isso... O patrocinador não ia querer ele mesmo. Ele tem outros modelos em mente. – Ivan se sentou ao meu lado na cama.

- Acho que isso não importa muito agora, né? – dei de ombros. – No que ele está pensando?

Manu tomou a frente. – Eu fiz uma lista com alguns dos modelos, Elise, e o Ivan me aconselhou a te informar a faixa de preço. – Ela me entregou uma folha com a lista que tinha uns vinte modelos, eu nem terminei de olhar a lista, e Léo a pegou da minha mão.

- Sério que você colocou um carro de quase 200 mil na lista? - disse incrédula olhando para o Ivan. – Eu recusei o Kicks. Eu não quero um carro caro.

Manu riu na minha frente, e Léo revirou os olhos para mim, ainda vendo a lista.

- O único mais aceitável dessa lista custa 58 mil, mas eu não curti.

- Assim fica difícil né, gordinha? – Léo riu – Você devia mesmo aceitar o Kicks, tô até pensando em um para o ano que vem...

- O que? E o Galak? – fiquei atônita. Como ele podia dizer aquilo? O Galak tinha dois anos...

- Ué, uma hora ele vai ter que se aposentar, né? – ele riu.

Meu queixo caiu, ele não podia estar falando sério.

- Não, eu não quero Kicks nenhum... Para falar a verdade, não tô com cabeça pra pensar nisso, e eu nem sei mais...

- Nem termina essa frase, Elise. Agora é questão de honra te botar na pista. Você vai correr sim, se você não quer escolher, eu escolho pra você e pronto. – Léo disse determinado, devolvendo a lista a Manu.

Fiquei emburrada, mas eu realmente não conseguia pensar em nenhum carro que não fosse o Lestat. Eu podia estar parecendo uma louca varrida, chorando por um Mille de dezoito anos, enquanto eu tinha opções como o ix35, mas a questão era que eu não conseguia me imaginar dentro daqueles carros. Além de caros, eles não tinham nada a ver comigo.

- Bom, então vou tratar com você, Léo. – ele sorriu para mim. – E não se preocupe, Elise, esse fim de semana vou mandar o Regi para uma prova de regularidade. Você tem mais uma semana para se recuperar. E na próxima semana vamos para Brotas, aí você pode acompanhar o Léo, mas até seu braço estar curado, ele vai correr com o Fábio.

- Tá bom. Fazer o que. Meu consolo é que podia ter sido pior. – dei de ombros.

Léo os acompanhou até a porta, e eu nem sabia o que pensar, essa merda de braço ia me atrapalhar por um bom tempo.

****

No outro fim de semana,  implorei ao Léo que me levasse para casa, eu precisava mostrar para minha tia que eu estava bem, e também tinha que decidir o que fazer com os restos do Lestat.

Léo conseguiu um comprador para ele, eu nem queria saber para que, provavelmente ele venderia as peças que sobraram, ainda dava para conseguir algum dinheiro pelo motor e algumas outras peças. Deixei que ele cuidasse de tudo para mim, porque aquilo era como organizar um funeral, e eu não queria participar disso.

Fui no domingo, colocar flores no tumulo do Du. Eu nem tinha visto meu pai depois daquele dia, mas quando voltei para casa, ele estava sentado perto do portão, e me olhou tristemente quando desci do carro.

- Elise... – ele sussurrou.

- Oi. – tentei controlar minha raiva.

- Você está bem? – seus olhos estavam mortificados.

- Agora estou.

- Você vai me perdoar algum dia? – aquele era meu pai de verdade, meu pai antes do Du partir.

- Depende... – o encarei - Você vai se perdoar?... Não só por mim, mas pelo Du também? Se você disser que não, então nem perco meu tempo tentando... Não vai valer nada...

- Elise. – ele se levantou e segurou meus ombros. Passou a mão pela tipóia no meu braço, e ficou olhando a cicatriz do meu pescoço. – Eu sinto muito, eu não sei o que deu em mim...

- Medo, pai. Eu sei, e eu queria ter te contado que eu estava correndo. Mas você nem estava vivo... Eu senti sua falta. - Ele me abraçou, chorando. – Faz uma coisa por mim?

- O que quiser, minha pequena. – ele chorou.

- Volta pra equipe. – pedi o encarando. – Eu quero você comigo, e eu vou fazer você se orgulhar.

Léo se mexeu impaciente atrás de mim, eu sabia que ele estava com receio da reação do meu pai.

- Eu vou tentar, Elise. Te juro.

Léo colocou a mão no meu ombro. – Que bom que você voltou, cara.

- Que bom que a Elise tem você, Leonardo. Eu nunca vou conseguir agradecer o que você fez por ela...

- Não agradeça. Eu fiz tudo, e faria de novo porque eu amo sua filha, Samuka. – sua voz comoveu até a mim.

- Eu sei. Mas você salvou a vida dela...

- Cara, esquece... Bola pra frente... A Elise te quer na equipe. Acho que é o mínimo que você pode fazer, depois de acabar com o bebê dela. – ele sorriu, olhando para mim.

Meu pai assentiu, chorando.

Se ele voltasse mesmo, talvez eu conseguisse perdoá-lo...

Elise (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora