22 Adeus

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#Léo

Assisti seus olhos vazios se fechando. Ela estava destruída na cama, e nem sentiu a injeção. Vê-la daquele jeito me destruía por dentro. A merda toda que eu era, e todas as coisas que eu vivi... Nada se comparava ao que eu estava sentindo ao ver a minha gordinha daquele jeito.

Passei um tempo vendo-a  dormir inquieta, perdida no meio de seus pensamentos, e se eu pudesse protegê-la daquilo...

Eu nunca poderia saber o que ela estava sentindo. Eu nunca saberia como é perder um irmão. Eu, filho único, sempre me gabando de não me prender a ninguém...

Eu não estava sentindo só a dor de perder um cara muito amigo, companheiro de trabalho... Eu agora perdia uma parte dela...

Enquanto a olhava dormir, eu me recordava das primeiras corridas do Du, e da irmã desengonçada e respondona dele. Ele, com todo seu talento e cuidado nas pistas, vivia tentando se desvencilhar da chatice pegajosa da Elise. Que cresceu e tomou seu próprio rumo. Ela com 17 anos já manjava mais das planilhas que todos os caras juntos. Alguns diziam que era a sensibilidade feminina para detectar pequenas coisas. Eu ria, dizendo aos caras que ela era mais macho que a gente.

E o Du era como um gavião para defendê-la. Acho que a conexão de irmãos era a chave para que eles se dessem tão bem.

Que merda eu não ter conseguido parar ela a tempo. Que merda eu ter que lidar com isso... Os olhos dele me assombrarão para sempre. E Elise teria que viver sem sua parte, a partir de agora. Eu realmente não sabia o que fazer, nem como lidar com aquilo.

A cobri com o edredom da cama, e fechei a janela do quarto. Desci para o saguão, e o clima de consternação dominava a todos, uma grande maioria já havia partido, mas os que ficaram esperavam no saguão, abalados. Por que há muito tempo não havia um acidente com vitimas numa corrida.

Vini estava jogado no chão ao lado do sofá, Fábio falava ao celular aos prantos. Meu Deus, como esse dia foi terminar assim?

Fui informado pelo organizador da corrida que o corpo estava sendo preparado para voltar a Limeira. Samuka estava hospitalizado em estado de choque, e Elise dopada na minha cama... Eu nem conseguia respirar direito. Como eu podia ajudá-la? O que eu podia fazer? Se eu pudesse tirar dela aquela cena...

Me sentei no sofá do saguão, era por volta das oito da noite, e Regi se sentou ao meu lado.

- Como ela tá, Léo? – Ele quase não tinha voz, e seus olhos estavam tão inchados que desfigurou seu rosto.

- Dormindo. – respondi tentando me controlar – Mandei aplicar um calmante nela...

Ele me abraçou. – Cara... Como isso foi acontecer?

- Não sei... Eu realmente queria muito saber, Regi...

Fábio se aproximou, me abraçando também. – Alguém já avisou a tia dela?

- Cara, não sei de nada... A Elise não tava bem, eu... – Ele bateu nas minhas costas tentando me dar força. – Cara... Ela achou que o pai dela estava gritando com o Du por ele ter amassado o carro... Velho, cê tem noção? Ela achou que ele estava vivo, mesmo depois de ver aquilo. – Não consegui me controlar lembrando do rosto dela quando  se tocou que ele já tinha... Comecei a chorar outra vez.

- Que barra, cara... – Fabio batia nas minhas costas. – Ela vai precisar muito de você agora, Léo.

- Eu sei. – desabei, chorando – Se você soubesse como me odeio por ter deixado ela ver aquilo...

- Como você ia saber? O Afonso era o carro mais seguro... A forma como ele bateu é que foi fatal, Léo. Como você ia saber que ele não estava bem?

- Não sei, cara... Não sei...

Elise (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora