Na terça, Léo postou as fotos da corrida no facebook, e me marcou todo bobo na publicação. Pequenas coisas que eu adorava ver ele fazer. Porque essas pequenas coisas, ele nunca fez com ninguém. E isso tinha todo valor para mim. Por eu saber que eu não era mesmo só uma garota para ele. E fiquei pensando no que eu podia fazer para mostrar isso a ele também. E me lembrei do vestido da Gabi, talvez...
Respirei fundo comigo mesma, me achando o cúmulo da ridícula, peguei o vestido no guarda roupa e dei uma demorada olhada nele me lembrando da foto.
Tranquei a porta do quarto, tirei a roupa, e o vesti. Pensei um pouco, e de repente me senti tão ridícula que fechei até a janela de medo de alguém estar me vendo.
Fui para a frente do espelho já com uma imagem horrenda na cabeça, e quando abri os olhos para olhar, outra vez tive a sensação de que não era eu naquela roupa. Eu ri sozinha me vendo ali. Como podia um vestido me mudar por inteiro daquele jeito? Soltei o cabelo como a Gabi tinha feito naquele dia, e fiquei muda, olhando aquela garota de 20 anos que não parecia um moleque. O resultado foi mais impressionante que o da blusa da Fatinha. Será que eu podia vagar por esse mundo também? Será que eu podia usar uma roupa como aquela e não ser chacota das pessoas? Ou os meninos não me respeitariam mais?
Eu queria tanto mostrar aquilo para o Léo. Eu queria ver a cara dele. Acho que se eu passasse por ele na rua, ele nem me reconheceria.
Meus Deus, eu precisava muito fazer isso.
Tirei o vestido, e o guardei escondido no guarda roupa outra vez, abri a porta e resolvi dar uma volta no Lestat, fazia tempo que ele estava parado. Fui até a garagem liguei a bateria dele e saí, sem saber para onde, só para sentir ele andando, e a sensação gostosa que isso me dava. Eu ainda não sabia se ele viraria um carro de rally, o tal patrocinador não deu resposta. Eu queria muito que ele fosse, mesmo sabendo que esses passeios a toa iam ficar bem complicados. Ele não ia poder desfilar por aí como um carro comum. Mas, se ele estivesse comigo nas competições, eu me sentiria muito mais segura.
Vaguei pela cidade a tarde toda, e caí com ele no anel viário onde pude deixar ele mais soltinho. Eu queria mesmo era ir para os Pires, mas eu havia prometido que não iria sozinha. Então, no fim da tarde voltei para casa. Guardei meu filhote na garagem, e encontrei meu pai no sofá. Me sentei ao lado dele, esperando que ele pelo menos me olhasse. Mas ele não estava ali. Era só um corpo vazio. Me levantei, dei um beijo no rosto dele, e voltei para o meu computador, a tempo de ver Léo me chamando no skype, me sentei na frente do PC, e atendi.
- Oi, gordinha. – Ele sorriu
- Oi Léo, tá tudo bem aí?
- Não. – Ele fechou a cara, e franzi a testa para ele, com o coração disparado de preocupação.
- Não? O que aconteceu? – perguntei assustada.
- Quero você aqui... – Ele fez beiço.
Revirei os olhos. – Nossa, você me assustou, idiota. Achei que tinha acontecido alguma coisa...
- Aconteceu, Elise. – Ele riu. – Eu não consigo dormir, é sério mesmo. Tô doente, parece que a doença se chama Insônia-de-falta-de-Elise-aguda.
Eu ri – Não se preocupe, isso não mata, e tem tratamento.
Ele apoiou o queixo na mão me olhando pela tela com aquela cara de canalha. – E qual é o tratamento?
- Vergonha na cara! – respondi rindo.
- Nossa, acho que vou ficar com o Stitch mesmo, pelo menos ele é mais educado. – Ele riu se afastando da tela.
- Bobo. Mas você tá tomando seu remédio para dormir, né? – Me preocupei.
- Claro, tô de boa... – Ele realmente não gostava de falar sobre isso. - Mas falando sério, gordinha, quinta tem um show massa aqui. Uma banda que faz um cover monstro do Iron. Você tá a fim de ir?
Pensei um pouco, eu nunca fui a um show na vida, eu ia adorar ir com ele.
- Eu vou te buscar a tarde na quinta, depois na sexta a gente vai daqui. – Ele piscava esperando minha resposta.
- Tá, pode ser.
Ele ergueu uma sobrancelha para mim. – O que foi?
- Só tô pensando... Eu nunca fui num show. – fiquei meio constrangida.
- Ah não, a rainha das músicas nunca foi a um show? Fala sério, gordinha... Bom, mais um motivo para a gente ir então, né? - Sorri e assenti para ele. – Então passo aí depois de amanhã, ta?
- Uhum. Tô com saudade também. – falei envergonhada.
- Não posso mesmo ir te buscar hoje? – Ele cerrou os olhos para mim.
- Não, Léo! Eu tenho casa, sabia? – fingi estar brava, porque eu estava morrendo de vontade que ele viesse naquela hora me buscar. – Até quinta, Léo.
Ele sorriu. – Tá, fazer o que... Vou para o bota fora do Vini. Amanhã cedo ele vai vazar para o Canadá.
Bota fora? Será que as senhoritas bundas de fora iam também? Eu não ia perguntar, de jeito nenhum.
– Que legal, manda um beijo pra ele. E deseje boa sorte por mim. – Eu ri. O Vini era tão inteligente. Morar fora devia ser bem legal.
Ele ficou meio emburrado. – Aham.
- E se comporta, hein! – brinquei.
Ele riu. – Claro, gordinha. Só vou mesmo porque é despedida dele. Queria que você fosse também.
Pensei no meu pai, eu não queria ficar tanto tempo longe dele. - Dessa vez vou te dever, Léo. As coisas estão um pouco estranhas, é melhor eu ficar um pouco por aqui. – dei de ombros. Com meu pai daquele jeito, e minha tia já sabendo das corridas, eu tinha que me comportar.
Ele ficou meio confuso, mas não perguntou. – Tudo bem. Até quinta. Te amo, gordinha.
Me despedi, e desliguei. Ouvir o "te amo" sempre me deixava sem graça. Não dava para entender, mas de algum jeito, minha cabeça começava a assimilar aquilo.
Sobre o bota fora... Eu nem queria pensar. Mas só de ele me contar, já era um bônus, com certeza ele iria se comportar. Pelo menos era no que eu acreditava.
Me joguei na cama, pensando se eu usaria o macacão do Du outra vez na próxima corrida. Eu não queria detona-lo. Talvez eu devesse guardá-lo para a minha primeira corrida com Lestat. Eu queria mantê-lo novinho. E o vestido? Será que eu devia levar ele? Talvez para usar no show. Dependeria do meu humor do dia...

VOCÊ ESTÁ LENDO
Elise (Repostando)
Novela JuvenilRespondona, grossa, encrenqueira que não leva desaforo para casa, e com ótimo gosto musical. Elise é a faz tudo de uma equipe de Rally. Viajando com seu pai, seu irmão e os caras da equipe desde os 14 anos, ela foi obrigada á se encaixar nesse meio...