Ansiedade

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Eu não conseguia respirar.

Bom, o mecanismo do sistema respiratório eu sabia, inspire pelo nariz, o oxigênio passará para os seus pulmões, e depois, expire para eliminar o gás carbônico. Era uma tarefa simples, e por mais que eu soubesse que meu corpo estivesse fazendo isso involuntariamente, o oxigênio não parecia estar acertando o caminho. Minhas mãos estavam alarmantemente gélidas, meu estômago prestes a desabar, e meus ombros estavam tensos o suficiente para que eu passasse um dia inteiro na massagista.

— Vai ficar incrível — Caleb colocou a mão sobre meu ombro, sentindo minha tensão refletir por todo o cômodo.

— Não sei se incrível o suficiente para alguns dos convidados — segurei sua mão com ternura, demonstrando gratidão pelo apoio.

Não era de hoje que ele estava ao meu lado, como meu irmão dois anos mais velho, Caleb cumpria muito bem seu papel. Seu sorriso de covinhas costumava pelo menos me acalmar, era extremamente familiar e reconfortante em meio ao caos. Seus olhos castanho escuros estavam geralmente dotados de uma serenidade influenciável, embora seu corpo fosse grande o bastante para entrar numa briga de luta livre, ou ao menos fazer um papel de galã em algum filme pretensioso.

— Queria que você estivesse aqui amanhã — suspirei insatisfeita, passando meus olhos ao redor da sala que transbordava os quadros pintados por mim.

Ser uma estudante de artes em Harvard podia ser interessante, eu adorava grande parte do curso, e talvez estivesse cometendo um crime por não ter certeza de que queria isso para o resto da minha vida quando eu estava terminando o quinto semestre. Como consequência, eu não tinha confiança o suficiente para uma exposição, mesmo que eu amasse pintar, uma coisa que me distraía, me acalmava. Então, eu tinha um bom acervo de quadros em casa, e meus pais, que foram os responsáveis pela minha escolha de curso, não desistiram até me persuadir a fazer uma exposição inaugural, mesmo que eu ainda não estivesse com diploma em mãos.

— Alguém tem que representar os Evans — ele passou o braço em cima dos meus ombros com uma pitada de sarcasmo na voz.

Nossa vida se baseava em status, aparência e elegância. Por mais que tentassem negar, essa era uma grande prioridade para meus pais. Era uma grande responsabilidade ser filho de Bryan e Eleanor Evans, gestores de uma das empresas mais bem sucedidas dos Estados Unidos da América.

Que sorte a nossa.

— Vai levar a Cassie? — olhei para seu rosto a fim de captar qualquer emoção que aparecesse.

— Não sei — confessou com indecisão e me soltou, ficando desconfortável. Esse não era um de seus assuntos preferidos.

Não insisti, seu relacionamento iô-iô era última coisa com a qual eu precisava me preocupar agora.

— Você deveria dormir para estar bem disposta amanhã — e lá estava ele me dispensando.

Revirei os olhos pela sua tentativa.

— Não se preocupe, não vamos falar dela, mas se quiser se retirar, fique a vontade.

Ele deu de ombros e encarou o quadro à nossa frente.

— Conseguiu convencê-los a expor este? — seu tom era um pouco surpreso.

Dei um sorriso de satisfação, esta fora uma luta a mais nas minhas conquistas.

— Eu concordei em fazer a exposição, o mínimo que poderiam fazer era me deixar escolher os quadros.

Passei para o cômodo seguinte, a entrada da casa, espaço que também utilizamos para pendurar os quadros, tendo em vista que era basicamente vazio, com apenas a escada grande de veludo, o lustre de cristais e uma pequena mesa no canto com as flores preferidas de mamãe, orquídeas.

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