A claridade invadia meu quarto acertando diretamente em meu rosto. Pisquei algumas vezes para tentar abrir meus olhos definitivamente, completamente desnorteada. Uma vez acordada, fitei o chão enquanto esperava meu cérebro me situar, me informando pelo menos o dia. As informações vieram devagar, primeiro constatei que era sexta-feira, portanto, deveria ir à faculdade. Tateei embaixo do travesseiro à procura do meu celular. Dez e meia da manhã. Mais uma falta. Parabéns, Faith.
Depois entendi o porquê de não ter ouvido o despertador, eu havia dormido muito tarde por ficar conversando com Justin. Um sorriso crescia em meu rosto conforme eu recordava de tudo, do nosso casamento no orfanato, um furto no cartório, sua confiança em mim para que eu encontrasse informações sobre sua mãe, seu coração acelerado por minha causa. Justin exalava estabilidade em si mesmo, era insano pensar que eu poderia causar alguma confusão em suas emoções. Justo, já que ele quase estava me pirando completamente.
Eu só não me lembrava de ter me despedido dele e de como havia parado em minha cama se estávamos conversando no sofá.
Levantei animada por reviver estas memórias e saber que também sairíamos hoje para um lugar indeterminado. Na verdade, seria suficiente que ele apenas aparecesse, eu ainda não havia superado o trauma.
— Bom dia, Faith. O dia está bonito, não? — Flê reparou em minha expressão assim que desci saltitante pelas escadas.
— Por que não estaria? — dei um beijo em sua bochecha, indo diretamente à mesa de café.
Peguei o maior pedaço de bolo de chocolate que havia ali, só isto poderia me deixar feliz por no mínimo duas horas.
— Viu um passarinho verde? Ou isso teria ver com seu ânimo após tomar decisões? — ela me sondou, parando do outro lado da mesa para me olhar.
Escondi meus olhos no suco que eu servia, não tendo certeza do quanto Flê poderia ler em minha expressão. Provavelmente, não seria adequado lhe contar que Bieber se esgueirara para meu quarto no meio da noite.
— Amo tomar decisões. Minha decisão dessa vez é não decidir nada, deixar de ser neurótica para as coisas desenrolarem naturalmente.
— Você sem neurose? Teria que nascer de novo! — ela me provocou.
Era verdade, então não discuti, apenas dei uma risadinha.
— Faltou à faculdade outra vez por que menina? Se seus pais souberem disso...
Ops.
— Não consegui acordar — respondi com a maior inocência que pude.
— Aposto que não conseguiu é dormir. Mas quer saber de uma coisa? — ela levantou a mão, sinalizando que escavaria o mais profundo de sua sabedoria — Macho nenhum vale mais do que uma boa noite de sono.
Eu não esperava por essa, minha gargalhada foi incontrolável.
— Flê! — repreendi — Raul sabe disso?
Ela e o marido nunca aparentaram desarmonia para pensar numa coisa dessas. De fato, eles eram minha meta de relacionamento. Raul sempre foi muito respeitoso e amável com Flê.
Ela fez um muxoxo, abanando com a mão.
— Ele sabe que minha prioridade sou eu mesma depois dos meus filhos. Você não pode elevar ninguém acima de si mesma, fica mais fácil de ser destruída.
— Fique tranquila, não farei isso.
Ela não parecia ter acreditado em mim, mas resolveu deixar para lá ou armazenar o assunto em sua caixinha para desenterrá-lo no momento mais apropriado.

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One Life
FanficAparentemente, não havia nada de extraordinário na história dos dois. Eram duas pessoas normais, favorecidas pelo capitalismo, e embora não parecesse, ambos tinham muito em comum. O fato de terem o que quisessem era um deles, mas também aquele senti...