Coragem

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Pigarreei baixo, experimentando as palavras em minha cabeça antes que pudesse pronunciá-las de forma segura e coerente. Com a menção do quarto, eu não era necessariamente obrigado a contar todas as outras estratégias.

— Hm... Primeiro eu gostaria que não se ofendesse. Compreendo completamente se não quiser fazer parte dele, eu só não queria deixá-la sem supervisão em um lugar perigoso quando me ausentasse.

Ela me encarou, sinalizando que não acompanhava meu raciocínio, desejando celeridade e praticidade. O quase convite se agitou em minha garganta e afirmei a mim mesmo não haver necessidade para estar nervoso. Receber uma resposta negativa não era tão terrível, e eu geralmente conseguia transformá-la a meu favor.

— Bom — pigarreei mais uma vez, desafogando os dizeres — George estará essa noite em um baile na cidade e pensei em ir até ele e requisitar uma promoção ou ao menos uma forma de acessar os contratos, de modo que eu possa ver o seu e procurar o contratante para poder fazê-lo cancelar a demanda ou inutilizarei o documento de outra forma.

Sua testa se enrugou um pouco mais, a cabeça virando minimamente como se pudesse aproximar os ouvidos para ouvir melhor.

— Que outra forma?

Em meu julgamento, neste caso ela não poderia reprovar minha atitude.

— Acho que você sabe como — era o suficiente para que entendesse.

Seu queixo se elevou. Eu estava enganado, a advertência reluzia em seus olhos.

— Não vou deixar que te façam mal — justifiquei com firmeza. Aquele não era um assusto para ser discutido.

Ela apertou os olhos como se questionasse a veracidade da minha motivação, mas de qualquer forma não aprovaria. Melhor, não permitiria. Seus lábios se contorceram, custando a liberar a proposta que faria.

— Essa não é uma opção. Eu quero confrontar essa pessoa, e é meu direito decidir o que se sucederá. Aliás, para que não me passe a perna, irei no bendito baile com você — determinou com o mesmo entusiasmo que o meu.

Eu não podia negar, era conveniente não ter que fazer o pedido e usar todas as artimanhas possíveis para convencê-la a ir comigo. Sabia que parte grande do meu erro fora deixá-la na ignorância, e tentaria ao máximo incluí-la nos assuntos de seu interesse.

— Se é assim que você quer. Estaremos seguros lá dentro.

Eu só não estava certo quando a parte de deixar o contratante vivo.

Faith não esperança que fosse fácil assim conseguir meu consentimento, eu podia ver toda a argumentação na ponta de sua língua ser desconstruída, o que a desconcertou antes que continuasse o diálogo.

— Reservei esse quarto pela manhã —contei, andando até a mesa e deixando a caixa ali, decidindo o melhor momento de entregar. Quando me voltei a Faith, seus olhos estavam mais interessados no objeto do que na conversa — Não queria te deixar em casa desprotegida. E então dependendo de como for a conversa esta noite... — hesitei, temendo ouvir seus gritos de protesto — já comprei passagens para à Califórnia às dez da manhã.

Agora eu tinha toda a sua atenção e incredulidade.

— Califórnia? Amanhã? Eu e você?

Mantive meus olhos ocupados na mesa, organizando a caixa em um canto proporcional como se estivesse em um surto de toc, uma desculpa para não encarar sua repulsa que incomodava as paredes do meu estômago.

— Sim. Dessa forma te manterei fora do perigo e facilitará a proteção dos seus também. Com você a vista conseguirei me aprofundar na pesquisa e deixarei alguém responsável para olhar por sua família.

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