Indelicadezas

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Meu estômago girou e eu me perguntei como havia chegado esse tanto de gente em poucos minutos. Eu gostaria que fossem menos fissurados com horários.

Paralisada no topo da escada, percebi seus olhares de expectativa e admiração ao fazerem uma análise em mim, mas duas pessoas me olhavam com uma atenção redobrada e um pouco exigente. Claro, meus pais.

Deixei meus olhos caírem no chão, lembrando-me que seria repreendida por isto mais tarde. Apoiei-me na barra lateral e movi um pé na frente do outro com cuidado, policiando-me para pelo menos deixar a cabeça elevada. Para meu pai, um Evans não deveria abaixar a cabeça para nada.

Terminei de descer os degraus, feliz por não tropeçar e fazer da festa um caos hospitalar, assim, soltei o vestido que eu segurava com a mão suada.

— Aí está ela! — meu pai anunciou com orgulho, como se todos já não tivessem me visto, e me senti um produto de sua empresa.

Levantei os olhos o vendo vir até mim com Eleanor ao seu lado, pendurada em seu braço, ambos com a expressão tranquila demais para quem havia enganado a dona do evento. Um sorriso resplandecente se espalhava por seus rostos, brilhando tanto quanto seus trajes elegantes que combinavam.

As palmas atingiram meus ouvidos ao mesmo tempo que meu pai me entregava uma taça de champanhe, como todos tinham em suas mãos. Minha mãe não gostava da bebida, mas aliás, o que seria de um evento sem champanhe? Segundo eles, nada. Às vezes mamãe trapaceava e tomava água gasificada fingindo ser champanhe.

Sorri abertamente para os rostos variados de desconhecidos e familiarizados. Algumas dessas pessoas frequentavam todas as festas Evans, mas meu pai gostava de inovar seu "público".

Identifiquei Hanna ao lado do filho dos Peters e ela me deu uma piscadela. Me surpreendi com sua rapidez para se arrumar e arranjar um partido, contive o riso imaginando a longa conversa que teríamos sobre seu jogo de sedução com Wren.

Todos esperavam que eu dissesse alguma coisa, então tratei de pensar rápido e controlar o rubor que subia por meu pescoço.

— Obrigada por virem, eu realmente fico muito grata. Espero que apreciem meu mundo tanto quanto eu mesma — levantei um pouco a taça com um sorriso calculado.

Eles bateram palmas outra vez.

— Deixe-me lhe apresentar Jhon Vincent, dono de um dos museus mais importantes da America do Norte — meu pai colocou a mão em minha cintura, soltando minha mãe e me guiando.

— Pai, já quer minhas obras num museu?

— Temos que pensar também no futuro — ele piscou para mim e eu balancei a cabeça numa reprovação humorada. Eu realmente não estava muito bem com ele, mas demonstrar isso em público seria um tolice tamanha.

Pelos próximo quarenta minutos meu pai fez questão de me apresentar para umas vinte pessoas, as quais esqueci os nomes, embora ele afirmasse ser extremamente importante que eu decorasse. Pedi para que me deixasse sentar por um segundo, e mesmo com olhares repreensivos, consegui permissão.

Me direcionei à sala e encontrei um sofá inteiro vazio. Por algum motivo, nessas festas as pessoas gostavam de ficar em pé, provavelmente para não amassar suas roupas, mas até que nesse evento em particular fazia sentido. Resisti a tentação de tirar o salto e apenas cruzei as pernas, observando um de meus quadros pendurado na parede à frente. Algumas pessoas estavam paradas em frente à ele, avaliando e conversando entre si. Me senti nervosa para saber o que comentavam, ao mesmo tempo que a responsabilidade me tomou. 30 segundos de descanso era o suficiente par a anfitriã da festa que deveria estar explicando seus quadros.

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