Queimando

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Joguei-me no sofá, com a cara nas almofadas, desgastada emocional e fisicamente.

Escutei Flê dar uma risadinha, afagando minha cabeça.

— Manhã difícil? — especulou.

— Terrível.

Recebi um combo de constrangimentos sem pedir. Incluía comentários pela faculdade sobre meu quase beijo com Charles, e o mistério de quem seria o "o galã dos olhos claros", um escândalo de Hanna por ela saber disso por outros, mais um escândalo de Hanna por meu relato de contato físico com Bieber, e para finalizar, um pedido de desculpas à Charles.

— Desculpa digo eu, não sabia que tinha namorado — ele dissera.

Descobri mais tarde que foi péssimo responder apenas "imagina" porque todos agora queriam saber quem eu estava namorando. Como se não bastasse todos esses desastres, recebi nota baixa em "História da arte V", me lembrando o quanto eu queria mudar de curso.

— Quer contar?

Choraminguei, recordando que prometa uma explicação para Flê hoje.

— Tudo bem, ainda não está pronta, eu entendo, mas pelo menos vá almoçar, depois suba para ver o pacote que chegou à você.

Pacote? Eu não havia encomendado nada.

Embora estivesse curiosa, obedeci as ordens de Flê para não me causar mais problemas. Mastiguei devagar a salada maravilhosa que ela me tinha feito, agradecendo por isso no fim.

Subindo para meu quarto, me deparei com uma caixa quadrada media no meio da cama, e assim que abri a tampa vi o bilhete:

" Querida Faith,

meu saldo se encontra negativo com sua pessoa, portanto, convido-lhe para uma tarde de fuga comigo. Os trajes para nosso passeio devem te dar uma pista. Se aceita, vista-se e me encontre bem em frente à sua casa às 13:00. Prometo compensar minha falha,

Jb."

Percebi um sorriso se formando em meu rosto, sendo ampliado quando examinei os equipamentos de cavalgar. Apenas por um momento cogitei se deveria aceitar o convite, imaginando com que cara eu o olharia depois do que acontecera. Só de pensar minhas bochechas se avermelhavam. E se ele perguntasse o que havia significado? Mesmo que tivesse passado boa parte da noite refletindo sobre isso não cheguei a lugar algum. A única coisa que eu sabia é que havia sido bom. Muito bom. Inexplicavelmente bom. Talvez se o visse as peças se encaixassem e eu parasse de ficar confusa. Eu sempre odiei ficar confusa.

Estava decidido, eu iria. Só era óbvio que nosso último combinado tivesse me traumatizado, então esperei — impaciente por quinze minutos, andando em círculos pelo quarto — até uma hora para olhar na sacada e ver se ele estava mesmo lá fora antes de me trocar.

Fiquei aliviada quando o vi encostado em seu porshe elegantemente, com os braços cruzados fitava minha janela, dessa forma acabou me flagrando. Seu sorrisinho curioso deu um desarranjo em meu coração e minha barriga se embrulhou. Isso seria mais difícil do que eu imaginava.

Mais rápido do que eu achava possível, me vesti com aquela calça bege, a camiseta branca e a espécie de bota preta. Fiz um rabo de cavalo alto, verificando se não havia nenhum fio fora do lugar a não ser minha franja falsa do lado esquerdo. Peguei minha bolsa preta transversal, segurei o capacete e as luvas nas mãos, descendo as escadas aos pulos.

— Flê vou sair com amigos, estou com meu celular, não sei bem a hora que volto. Te amo! — gritei por sobre o ombro rapidamente, impedindo que me fizesse perguntas desnecessárias.

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