JUSTIN.
Tempo que decorre corre e vai embora
Marca que existe hoje não existia outrora
As folhas não mais rodopiam e os parques se esvaziam
O inverno invade e bate uma... Saudade?
Involuntariamente minha testa se vincou de desaprovação. Aquela não era uma palavra precisa e lógica, portanto não deveria estar em meu vocabulário. Mais uma indicação de que meu cérebro estava em pane, todos os neurônios desprovidos de armas estavam em guerra, desnorteados por não saberem ao certo a qual causa serviam.
— Você está me ouvindo, garoto?
O toque nada sutil de desprezo na voz de Brad era costumeiro, principalmente quando se dirigia a mim. Não importava o que eu fizesse, sempre era defeituoso aos seus olhos. Efetivamente, eu sabia que aquela era uma guerra de poder, meu tio tinha conhecimento do meu potencial e temia o fato de George substituí-lo como administrador da filial por alguém mais eficiente. Eu, no caso. Seu trabalho em campo chegava a ser grotesco e rudimentar.
Por todas essas razões, levantei lentamente meus olhos monótonos em sua direção do outro lado da mesa preta para mini reuniões, ridicularizando sua autoridade irrisória.
— O que te faz pensar que não estava, Brad? Meus ouvidos são extremamente sensíveis à sua voz.
Suas narinas inflaram de ira e o canto da minha boca se repuxou satisfatoriamente por atingir meu objetivo.
— Eu te dou 24 horas para concluir o pedido, caso contrário, o caso será repassado. Guilherme demonstrou interesse em cumpri-lo — vociferou.
Todo traço de humor em meu rosto cedeu para perversidade. Eu me endireitei na cadeira para que não restasse sombra de dúvida do meu apontamento.
— Meus casos são exclusivamente meus.
Ele sorriu com deboche, empurrando seu assento para trás e se pondo em pé, sinal de que a reunião estava acabada e ele não seria contrariado.
— Então espero que consiga concluí-lo até a mesma hora de amanhã. Você sabe que não gosto de dever favores ao departamento de polícia e quanto isso afeta nossa reputação.
Me ergui apoiando as mãos na mesa, me inclinando em sua direção com o olhar fixo e ameaçador.
— Você não faz ideia do que posso fazer em vinte e quatro horas.
Sua postura não se abalou e ele abotoou distraidamente seu paletó para desvalorizar minha palavra.
— Espero que isso não seja uma ameaça ao administrador, você conhece as normas, sabe o quão severa é a punição por apenas uma afronta.
Imaginei que pudesse queimá-lo vivo apenas com o olhar intenso de ódio que jogava em sua direção. Minhas mãos imediatamente agarraram a beira da mesa e eu podia sentir as moléculas destrutivas e impulsivas subindo pelas pontas dos meus dedos. Embora nada mais naquele momento me fizesse feliz do que quebrar as vértebras do seu pescoço, contive o impulso com toda a quota do meu superego.
— E eu espero que saiba com quem está mexendo. Você sabe que também tenho minhas influências, tio.
Seu olhar se voltou para mim e ele pode perceber minha luta interna para ficar imóvel. Isso o agradou mais do que deveria. Ele me deu uma piscadela.
— Boa sorte, sobrinho — murmurou, encerrando a conversação.
Deixei meu lugar ruidosamente antes que ele pudesse se mover e escancarei a porta. Butler, até aquele instante invisível no canto da sala como testemunha do acordado, me seguiu, alcançando-me apenas no meio do corredor depois de sua voz desvelada.
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One Life
Fiksi PenggemarAparentemente, não havia nada de extraordinário na história dos dois. Eram duas pessoas normais, favorecidas pelo capitalismo, e embora não parecesse, ambos tinham muito em comum. O fato de terem o que quisessem era um deles, mas também aquele senti...