Pequenos Segredos

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— Se eu te soltar você vai gritar? — indaguei inutilmente. Faith não me contaria a verdade, não devia mais nada a mim.

Ela apertou os olhos e fez sinal negativo com a cabeça.

Não me deixei enganar.

— Ouça, se você chamar Willian por socorro serei obrigado a imobilizá-lo como legítima defesa, e não querermos que alguém se machuque, certo?

Aquilo foi como encharcar de álcool suas labaredas de raiva.

— Eu não vou te machucar, Faith — afirmei com seriedade, olhando no fundo de seus olhos a fim de transmitir-lhe segurança.

Passaram-se alguns instantes enquanto ela me sondava, a respiração desacelerando. Aparentemente mais calma, tentou libertar a boca outra vez, e assim permiti, vigiando cada movimento seu com cautela.

— O que você quer? — cuspiu as palavras, cruzando os braços.

Eu podia notar que ainda decidia se deveria gritar. Com toda aquela hostilidade, me surpreendia não ter o feito no segundo em que a libertei.

— Conversar — respondi desarmado.

Seu rosto formou um sorriso cínico.

— E o que teríamos para conversar dentro de um banheiro público?

Ela assoprou a franja para o lado quando seus olhos ficaram cobertos, preferindo preservar as mãos preparadas para reagir a qualquer investida minha. O restante do cabelo estava preso em um rabo de cavalo, deixando a mostra boa parte de sua pele coberta no tronco apenas por uma camiseta fina de alça branca. Faith também parecia ter se vestido para me atrair, ela me teria de joelhos somente com aquela calça skinny jeans.

Estávamos demasiadamente próximos, eu podia sentir o calor de sua pele emanar para mim, me convidando a tocá-la e transformar nossa respiração em uma só. Sua presença finalmente me afetava.

— Tenho em mente outras coisas que podemos fazer dentro de um banheiro — meus olhos automaticamente caíram em sua boca entreaberta de indignação.

— Desaparece — resmungou, empurrando meu peito.

Recuei alguns passos, lhe dando liberdade para ir até a pia. Seu jeito de caminhar era confiante, fazia questão de transparecer na postura que não dava a mínima para mim.

Me encostei no mármore, recuperando o foco que me trouxera até ali.

— Tenho apenas algumas horas para cumprir o prazo, Faith — contei com lamúria.

Sua atenção estrategicamente não saiu das mãos que lavava, e eu até poderia pensar que não havia me ouvido se não fosse pela ruguinha de estresse no meio de sua testa.

— Então o que, está pedindo permissão para me matar?

O deboche explícito não era completo, resquícios de mágoa circundavam sua voz.

— Não. Você não entendeu. Se até amanhã eu não resolver isso, eles mesmos vão se certificar de que o trabalho seja feito — a ansiedade em minhas palavras fez com que me olhasse, mas ainda inalcançável, secando as mãos na própria calça, seu costume ecológico.

— Isso deveria me assustar?

— Sua denúncia à polícia foi inútil e desnecessária, se está contando que possam te ajudar.

Era fácil ver que estava decepcionada, frustrada, queria gritar, espernear, provavelmente me matar. Uma agitação que ela conteve na profundida de seus olhos, engolindo o sentimento como faria com um vegetal do qual não gostava. Agrião, para ser mais específico.

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