Escolha

508 37 55
                                    

Sua boca estava em uma linha firme, a cabeça elevada, o olhar me sondava. Ele esperava que eu entendesse tudo aquilo sozinha? Parecia que eu estava sendo engolida por uma avalanche de informações era completamente compreensível minha incapacidade de chegar a respostas.

Grunhi de frustração, erguendo as mãos em garra como se pudesse arrancar seu pescoço, então comecei a andar de um lado para o outro, formulando acusações para que se enchesse e confessasse de uma vez. Sua maneira de agir aquela noite me lembrava de filmes da máfia russa que meu pai tanto amava assistir, então relacionei com sua facilidade de invadir lugares, a reação completamente tranquila ao encontrar Erin morta, suas frases que escondiam segredos desde o começo, e cheguei a uma teoria estúpida e absurda. Com essa ofensa, eu faria com que me revelasse a verdade:

— Vai me dizer que é um assassino? — joguei com sarcasmo, ainda olhando o caminho desordenado que eu traçava no quarto.

O contato das minhas sapatilhas com o chão preencheu sua ausência de réplica, mas dessa vez, o silêncio estava mais carregado. Talvez eu tenha exagerado em minha arguição.

Parei em sua direção e cruzei os braços, esperando. Seu rosto se aprofundava na defensiva. Ele também esperava. E esperava o que? Eu não conseguia pensar em nada mais que fosse compatível com as informações que eu tinha.

Então percebi, ele aguardava minha reação como se pudesse se preparar para os meus gritos, julgamentos e protestos. Não fazia sentido, eu não podia responder por uma coisa que não sabia. A menos que soubesse.

— Você não é um assassino, Justin — neguei veementemente.

Entretanto, sua expressão não mudou. Senti como se o mundo todo suspendesse as atividades apenas para se atentar ao que ele diria, crucial para decidir o rumo da humanidade. Demorei um pouco para entender que aquela sensação se limitava a minha composição interior.

Quando sustentar meu olhar penetrante se tornou insuportável, sua atenção se desviou para a parede ao seu lado esquerdo, enquanto travava o maxilar.

Não. Com certeza não era aquilo. Ele só queria acobertar a verdade. De qualquer forma, não o isentava da suposição, não quando estava me matando por dentro.

Disparei em sua direção dando uma sequência de tapas em seu peito para que sanasse minha angústia. Eu só queria que ele abrisse a maldita boca, era tão difícil assim?! Não era possível que sua reputação piorasse comigo depois daquela visão do inferno na night club.

— Me diz, Justin! Me diz!

Não sei dizer se foi por perder a paciência, for realmente persuadido ou os dois juntos; ele segurou meus pulsos para cessar meus ataques e me encarou com firmeza, derrubando as barreiras que o escondiam de mim.

— O que você quer que eu diga? — a frieza em sua voz não passou despercebida.

Carreguei meu olhar de fúria, indignada com a pergunta imbecil.

— Eu não vou repetir tudo de novo, não sou um maldito papagaio! Para de simular retardo mental e aproveita para me dizer quem era aquela desocupada no seu colo! Isso se você ao menos souber o nome dela! — eu queria que minhas palavras fossem facas, estavam tão afiadas quanto.

Meu desejo era de machucá-lo até que sentisse a dor que eu sentia. Seria uma longa sessão de tortura.

— Você já sabe Faith, o que mais posso esclarecer?! É claro que eu menti pra você, te manipulei e feri seus sentimentos. E você nunca entenderá meus motivos — ele começou a avançar para cima de mim, ainda sem me soltar, então fui obrigada a recuar conforme seus movimentos, mas a sensação era de que pisava em cima de mim — Nunca vai entender que a vida humana alheia é só mais um obstáculo para meus objetivos, não vai entender que eu não me importo em ouvir os gritos de dor e que me agrada que implorem para viver. Você nunca saberá lidar com tudo isso, então não me pergunte coisas que não quer saber.

One LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora