Disparos

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— E como diabos você sabia disso? — Justin questionou intrigado empurrando o armário.

Eu estava ao seu lado esperando que deixasse um espaço escapar para que pudesse ajuda-lo, coisa que ele não permitiria, demasiadamente preocupado com minhas mãos. Em contrapartida, não levava em conta seu peito perfurado, descartando qualquer apreensão minha. Se seus pontos estivessem estourados, o curativo continha o fluxo de sangue, e sua expressão negava qualquer traço de dor.

— Eu sou os olhos e ouvidos desse lugar, meu caro.

Ryan, entretanto, não tentava disfarçar seu estado, massageando as têmporas. Ele precisava imediatamente de um medico.

Conseguíamos ouvir o zumbido da serra que usavam para derrubar a porta cada vez mais alto, competindo com meus batimentos cardíacos apressados. Ciente do fato, Justin dobrou suas forças, e com um gemido final o armário se deslocou o suficiente para deixar a vista um pedaço grande da parede. Prestes a perguntar a lógica do que fazíamos — de tamanha que importância que levara Ryan a atirar na câmera —, o observei abrir o armário medonho e tirar um martelo do tamanho da minha cabeça para chocá-lo com ímpeto contra a tintura. Eles achavam mesmo que havia uma passagem ali.

No início, houve apenas um estrondo e a vibração estranha que me lembrou de minhas pernas momentos atrás, em seguida, abriu-se uma brecha.

— Você tem absoluta certeza de que isso tem uma saída, certo? — confirmou Justin num tom implicitamente ameaçador, arregaçando suas mangas antes do próximo golpe.

Imaginei como seria ficar presa dentro de um buraco na parede e a claustrofobia escalou as paredes do meu estômago.

— Se não confia nas minhas habilidades, teremos um problema serio.

Numa velocidade que eu não teria no meu melhor dia, Justin terminou de abrir a fenda grande o bastante para que passássemos. Teríamos de nos abaixar para entrar naquela toca de coelho, mas nada comparado a ficar e ter que encarar dezenas de assassinos.

Com o serviço pronto, o martelo foi ao chão e seu possuidor descansou as mãos nos joelhos, controlando sua respiração.

— É só cansaço, está tudo bem — me afirmou um pouco ofegante ao flagrar meu olhar aflito — Agora vão, não temos muito tempo.

Ryan já estava se movendo para adentrar o buraco negro, mas finquei os pés no chão, me atentando a ausência do plural na segunda oração.

Nós vamos — corrigi com firmeza.

Os dois me fitaram e depois trocaram um olhar significativo. Ryan entrou na parede, calculadamente se virando de costas.

— Faith — Justin se aproximou exalando persuasão em sua íris clara.

Dei um passo para trás, relutante. Aquilo não estava em discussão.

— Cala a boca Justin, vamos todos entrar no buraco e procurar um médico.

Ele deu um sorrisinho pela estranheza de minha sentença. Para mim não era engraçado.

— Eu sei, só preciso ir mais tarde, vou ficar aqui para empurrar o armário de volta e atrasá-los um pouco, depois encontro vocês.

Mal esperei que terminasse de falar e já estava negando.

— Você acha que eu sou burra? Você não pode enfrentar tantos sozinho, com um você quase morreu! — minha voz beirava a histeria.

Sua mão alcançou a minha, direcionando-a até seus lábios para que desse um beijo.

— Já te falei o quanto é preciosa? — murmurou com mansidão, encarando o fundo dos meus olhos.

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