Não houve tempo suficiente para que eu conseguisse lidar com aquilo, embora Justin tenha respeitado meu espaço em silêncio após fazer uma ligação para avisar as autoridades sobre um barulho estranho na casa de Erin.
— Tem certeza de que quer ficar na faculdade? Não acho que você tenha condições — ele falou baixo e hesitante como se tivesse medo de que eu me quebrasse a qualquer momento.
Respirei fundo para responder.
— Tenho. Preciso encontrar Willian.
Eu procurei palavras em minha mente, afinal quem precisava de consolo era ele, mas nem olhá-lo nos olhos eu podia. Aquele sentimento ruim me consumia, roubando meus mínimos raciocínios.
Fiquei imóvel por um instante, ele também não me apressou, então olhei as horas no celular, era quase o fim da última aula, seria melhor esperar a manada começar a sair. Era bom ter mais tempo para reconstruir meu emocional.
— Faith, eu sinto muito que tenha presenciado isso — sua voz ainda estava cuidadosa, e pela visão periférica podia perceber seus olhos em meu rosto,
Planejei responder. A voz entalou na garganta. Engoli em seco. O aperto continuava. Era claro, se eu fosse responder começaria a chorar. Portanto, apenas acenei com a cabeça, tentando cessar todas as informações que giravam em minha cabeça. Eu não podia pensar nisso agora, apenas segura e sozinha entre quatro paredes.
O silêncio predominou até que eu visse duas garotas saírem pelas portas da faculdade. Abri a porta de carro e desci, me sentindo o ser mais inútil da face da terra. Por que eu não conseguia dizer pelo menos uma palavra de conforto?!
O restante das pessoas começava a sair, e com o olho em Willian para garantir que não me visse, me infiltrei entre elas, percebendo alguns olhares sobre mim. Nem me importei em me preocupar com o motivo. Fui até a porta e voltei, simulando que estava saindo. O carro de Justin não estava mais ali. Segui direto para o estacionamento.
Os olhos de Willian estavam feito águia na multidão e imediatamente ele me encontrou. Sua expressão era confusa ao analisar a minha.
Faith, disfarce melhor.
Ele abriu a porta do carro e saiu assim que me aproximei.
— Gostaria de dirigir, senhorita Evans?
Dei um sorrisinho, negando com a cabeça e entrando direto na porta do carona. Willian não me forçou a conversar, mesmo percebendo que havia algo errado. Também não me desgastou com uma bronca por ter desaparecido no dia anterior, e isso afetava diretamente em seu emprego. Senti-me mal por colocá-lo numa posição ruim por horas. O que Bryan faria se não me encontrassem? Colocaria toda a culpa em Willian e o esmagaria como se fosse uma formiga. Eu não havia pensado por esse lado. De fato, essa era a coisa que eu menos fazia antes de agir, pensar.
— Desculpa por sumir ontem. Eu esqueci totalmente — eu disse com a maior sinceridade que pude, era o mínimo que eu devia fazer.
— Não se preocupe com isso, senhorita.
Sua generosidade só me fazia sentir mais culpa. Eu não podia fazer nada direito.
— Por favor, me chame de Faith.
— Como desejar senhori... Faith — ele se corrigiu no final da frase, quase me fazendo sorrir.
Fiquei grata assim que chegamos a casa e passei direto para meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Flê pensaria que meu isolamento ainda era causado pela discussão com meus pais, então eu tinha tempo até que resolvesse subir para ver como eu estava. Joguei a bolsa no chão mesmo e me desmanchei na cama, deixando os olhos na parede lisa e bege. Abracei o travesseiro contra meu peito, lamentando mais uma vez a perda dos meus ursos de pelúcia. Deixei-me consumir por completo da sensação que assolava meu peito desde que encontramos Erin. Era incrível como um instante podia mudar tudo.
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One Life
FanfictionAparentemente, não havia nada de extraordinário na história dos dois. Eram duas pessoas normais, favorecidas pelo capitalismo, e embora não parecesse, ambos tinham muito em comum. O fato de terem o que quisessem era um deles, mas também aquele senti...