Instável

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Esperei que ele se acalmasse com a esperança de que me contasse o que estava acontecendo. Justin havia me tirado no meio da aula — tecnicamente — para falar comigo, não era possível que não quisesse me dizer nada.

No mesmo instante percebi que era completamente possível, Justin Bieber não era lá muito previsível.

Ele se soltou do meu abraço, e se sentou no chão, deixando a cabeça nas mãos; a esquerda, com a qual havia socado a parede, estava sangrando.

Meu primeiro pensamento foi em consertar o que eu podia ver, então corri para o carro, torcendo para que estivesse aberto. Agradeci quando a porta se abriu com facilidade e peguei minha garrafa de água dentro da minha bolsa, juntamente com o lenço branco que eu sempre carregava ali. Voltando, Justin não havia se movido um centímetro, imóvel como uma estátua.

Agachei-me junto a ele e deixei a garrafa de água no chão, puxando delicadamente sua mão. Ele me olhou para identificar minhas intenções, mas não deixei que isso me atrapalhasse. Joguei um pouco da água nos ferimentos e passei o lenço para limpar, fazendo isso com cuidado.

— Pensei que tivesse ido embora — sua voz disse baixo.

— Eu não te deixaria aqui — retruquei, jogando mais um pouco de água.

Era uma sorte o chão ainda ser de concreto.

— Seria mais inteligente ir.

Amarrei o mesmo lenço em sua mão e olhei para ele.

— Eu não queria assustar você — lamentou.

— Não me assustou — menti.

Ele fez uma careta, sabendo que eu estava mentindo. Eu deveria saber que não acreditaria.

Sentei-me ao seu lado, segurando sua mão boa na minha e olhando fixamente em seus olhos.

— O que aconteceu?

Justin olhou para frente para que eu não o influenciasse diretamente. Não era justo se ele usava justamente dessa artimanha comigo. Por isso, coloquei a mão em seu rosto, virando para que olhasse em meus olhos.

Ele franziu a testa, distraindo-se por um instante do que o perturbava por causa da minha fisionomia, depois balançou a cabeça.

— Dispensaram um amigo meu do trabalho hoje.

Joguei-lhe um olhar desconfiado. Não poderia ser isso. Era uma reação e tanto para uma demissão.

— É serio, Faith. Ele tem uma... Família. Por que eles não se importam? — seus olhos se fecharam, se acalmando para que não perdesse o controle outra vez.

Talvez fosse mais complicado do que eu estava imaginando. Ele podia ter uns quinhentos filhos e não ter a quem pedir ajuda, talvez não soubesse fazer outra coisa também.

— Eu posso ajudar. Posso dar algum dinheiro para ele e falar com meu pai para que o empregue em algo que queira — propus.

Ele abriu os olhos, me fitando com uma emoção desconhecida.

— Não creio que possa ajudar. Não tem o que fazer. Ele já voltou para o lugar de onde veio.

Sua mão escapou da minha para que cobrisse o rosto outra vez, apertando as têmporas.

— Me conte alguma coisa. Por favor, me distraia — pediu com pressa.

Revirei meu cérebro para pensar em algo que não fosse preocupação com seu estado no momento.

— Descodifiquei o livro de registros — contei ao me lembrar.

— Como? — sua curiosidade mal era genuína.

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