Sessões de Tortura

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Minha cabeça devia estar pesando uns dez quilos, e só ficara assim quando Jeremy morreu. Me arrastei para um bar em Miami com Ryan. Eu não sabia se bebia por estar chateado ou aliviado. Na dúvida, bebi pelos dois.

Uma sirene soava perto do meu ouvido, e tateando a cama encontrei o responsável pelo som do inferno. Meu aparelho celular. Eu tentava abrir os olhos enquanto o colocava na orelha.

Bieber? Cara... Onde você tá?

Reconheci a voz de Ryan conforme acostumava minha vista à claridade vinda da janela, repetindo sua pergunta para mim mesmo. Olhei para os lados, identificando um quarto de hotel.

Num estalo dolorido, recobrei a consciência e vasculhei a cama à procura de Faith. Ela não estava. O sol brilhava muito alto, me levando à suspeita de que nos atrasávamos para o voo.

Tudo bem, não dá tempo. Talvez você tenha mudado de ideia, mas de qualquer forma...

Saltei da cama depressa para procurá-la no banheiro com um pressentimento ruim.

— Ryan, diga de uma vez.

O banheiro estava vazio. Voltando para o quarto, vislumbrei um papel dobrado no meio da mesa com uma caneta e seu celular novo servindo para segurá-lo no lugar.

O pressentimento ruim subiu na escala, descendo com ímpeto pela minha espinha.

Faith está aqui na Companhia, ela disse que foram ordens suas.

FAITH.

"Você vai me odiar agora, eu sei. Pelo menos o sentimento é recíproco, huh? Nós sabemos que fugir não é uma escolha inteligente. Como você disse, sou apenas um meio, e comigo longe, podem usar outra pessoa. Isso se não usarem alguém para me atrair de volta. Não dá para proteger todo mundo.

Pense positivo, talvez Bryan dê a eles o que querem e tudo vai ficar bem. Na pior das hipóteses, você se livra de mim. Obrigada por tentar me proteger mesmo que eu não tenha compreendido suas motivações. Por favor, vá procurar seus irmãos. Você disse que mudaria por mim, se era verdade, o faça por eles. Deus vai te ajudar.

Te desejo toda a força do mundo,

Com muita pressa, Faith"

Olá, eu sou seu cérebro e estou aqui para que usufrua de decisões racionais, caso você não tenha notado.

Eu sentia cada célula auto preservativa do meu corpo me reprovar veementemente. Todos os meus músculos estavam rígidos, prontos para a fuga que me cutucava com insistência. Mas eu não ia desistir agora, estava fazendo o certo, rejeitando meu egoísmo. Tinha o conhecimento da escassez em alternativas. O prazo de Justin havia acabado, e eu sabia no fundo do meu estômago que o próximo profissional não seria tão condescendente. Por mais perturbado que fosse, não podia ignorar o fato de Justin nutrir algum sentimento por mim. Ele tinha toda a capacidade de me ferir e não o efetivara. Sendo assim, achei adequado deixar uma carta. Eu apenas lamentava a destruição iminente do quarto.

Mal podia acreditar que conseguira enganá-lo. Era praticamente impossível fugir dele, ainda mais com meu histórico fazendo com que me olhasse em alerta de segundos em segundos. De fato, ele demorou a adormecer, e após algumas tentativas, consegui fazer com que respirasse de sua própria coletânea. Não sabia ao certo a quantidade necessária, então talvez tenha exagerado na concentração colocada na fronha do travesseiro. Eu estava melhorando minha habilidade de fuga, e conjecturei outro potencial profissional. Uma espiã dos Estados Unidos. Cresci assistindo Três espiãs demais, portanto a ideia era muito bem recebida.

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