Âncora

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Nem a aversão masculina para a brincadeira pode conter a empolgação do poder feminino mirim. Yasmin amarrou sua blusa branca em minha cabeça como se fosse um véu; Emily colheu algumas flores do jardim e me deu com terra e tudo representando um buquê; transformaram pedaços de mato em alianças; Dan se autodenominou o padre e não havia quem conseguisse impedi-lo, o mesmo com Yasmin para ser a florista e Maxon para levar as 'alianças'. Justin foi obrigado a ficar de costas para não ver a "noiva" antes que o casamento começasse.

— E que comece o casamento! — Dan exclamou com empolgação.

Todos eles começaram a cantarolar a marcha nupcial, cada um em um tom diferente e dando risadinhas por isso. Camile — como se fosse uma cerimonialista — desvirou Bieber e o conduziu ao corredor que as crianças faziam enquanto me escondiam atrás deles.

— E que entre a noiva!

— Você não precisa ficar dizendo isso e primeiro é a florista! — Yasmin correu para o corredor, jogando pétalas que ela arrancara, desfilando graciosamente e cantando ela mesma a clássica música de Whitney "Always love you".

Justin estava bem ao lado de Dan, a testa minimamente franzida e um sorriso engraçado no rosto. Ele estava um pouco desconfortável, era visível, mas eu não sabia dizer se era por estar a mercê de crianças, pela ideia de se casar ou por eu ser a noiva.

Yasmin terminou sua exibição, parando ao lado direito de Dan.

— E que entre a noiva! — ele anunciou já segurando o riso, prevendo a careta que Yas lhe daria.

Saí de trás de Kai, adentrando o corredor de crianças enquanto eles cantarolavam a marcha nupcial outra vez. Por mais que fosse uma brincadeira idiota tive vontade de sair correndo dali, eu esperava que não fosse uma predeterminação do tipo de noiva que eu seria.

Justin me viu parada e olhou o véu improvisado em minha cabeça, dando uma risadinha em seguida. Ver seus olhos humorados dissolveu o sentimento que me plantara no chão, dei de ombros e comecei a caminhar até ele. Era estúpido, mas meu coração estava acelerando a cada passada.

Não tem importância, não tem importância. Repeti insistentemente em minha cabeça.

Não era como se ele realmente estivesse ali por desejar que eu fosse sua, como um símbolo de que me esperaria sempre, como se entre todos os rostos existentes o meu fosse o escolhido para que visse todos os dias ao acordar. E não era como se aquilo significasse algo para mim.

Pelo menos não deveria.

Parei em sua frente respirando fundo, ele pareceu confuso ao ver minha expressão.

Dá as mãos vocês dois — Dan instruiu, exigente.

Justin deu uma risadinha e pegou minhas mãos com tranquilidade, como se de fato não se importasse, nos deixando frente a frente.

Surpreendi-me quando o ar entalou em minha garganta assim que os olhos calmos dele fitaram os meus, fazendo com que eu me perdesse ali, sem esperanças de um retorno, beirando a insanidade. Por que ele fazia com que eu me sentisse assim? Mergulhando cada vez mais fundo num oceano sem oxigênio, entrando numa casa incendiada sem proteção ou água para apagar o fogo, adentrando uma floresta sem trilha visível. Ele era a perdição em pessoa.

— Faith... — escutei sua voz vagar no ar e voltei para o momento presente, reparando que ele repetia as palavras de Dan — Eu vou te amar... — sua testa se franziu de novo com essa frase, dando um aperto no meu coração — Mesmo se você comer meus doces... Mesmo se quebrar meus brinquedos... Mesmo que corte o cabelo e faça birra.

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