Memórias

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Saímos rápido demais do rancho, sem nos despedir das mulheres da cozinha e acenando rapidamente para Harold quando pegamos minha bolsa. Minha suposição era de que a mensagem em seu celular era do trabalho e que ele estava encrencado. Senti-me culpada por ausentá-lo de suas responsabilidades, mesmo que o convite tivesse partido dele.

No carro o silêncio estava quase mortal, eu podia ver as ruguinhas de estresse em sua testa, os traços camuflados de tranquilidade haviam evaporado.

— Está tudo bem? — perguntei hesitante.

— Claro, e com você?

Ele estava distante. Odiei aquilo, desejando voltar para Wild West imediatamente, quem sabe não poderia aceitar aquela suíte?

— Tudo bem. Eu me diverti muito hoje, obrigada.

Esperei que minha gratidão fizesse aparecer pelo menos o fantasma de um sorriso genuíno, mas aquilo em seu rosto mal se passava de uma esticada estranha na boca. Desisti, afundando em minha frustração e sobrevivendo das memórias de minha tarde encantadora.

Estava muito bem viajando em minha mente quando o medo vindo de um pensamento infeliz me deu um frio na barriga. O carro parou em frente minha casa rápido demais, me deixando mais sufocada. Eu não queria descer.

— Agradeço sua companhia esta tarde, Evans. Espero que tenha uma noite revigoradora de sono.

Neste momento percebi que já o conhecia um pouco pelo menos. Sua fala soou daquele jeito formal ensaiado e bem polido. Eu queria que ele soubesse o quanto aquilo era tudo menos agradável para mim, não era mais funcional, não depois de passar horas com um Justin fascinantemente impulsivo. Era um sacrilégio vê-lo partir.

Pensei em sair sem nada dizer, cheguei a colocar a mão na maçaneta, mas a angústia me fez olhá-lo novamente. Seu queixo estava elevado, os olhos à frente, só me esperando descer.

— Você vai mesmo amanhã?

A incerteza em minha voz fez com me olhasse e finalmente desse um sorrisinho.

— Claro.

Não acreditei nele.

— E como posso ter certeza?

Ele pensou um pouco, então estendeu a mão.

— Me passa seu celular.

Entreguei sem demora, suspeitando que finalmente fosse me dar seu número. Após digitar alguma coisa, ele me entregou de novo. E realmente era. Eu finalmente tinha o número de Justin Bieber. Era tão incrível que me encheu de desconfiança.

— Como saberei se é real?

Justin levantou a sobrancelha, incrédulo com tamanho ceticismo.

— Você é bem desconfiada, não? Ligue agora.

A culpa não era minha se ele não me passava segurança.

Fiz como o recomendado e o celular dele começou a tocar.

— Menos mal — suspirei — Então até amanhã.

— Até.

Fiquei olhando pra ele, esperando, eu só não sabia o que. Por um momento Justin retribuiu o olhar, até que começou a transparecer certa agitação e virou o rosto.

Com desânimo, abri a porta, saindo do carro e atravessando o quintal diretamente para casa. Reuni todas as minhas forças para não olhar, só fracassando quando já abria a porta de casa. Ele continuava lá e olhava para mim com um olhar duro, frustrado, como se me culpasse por alguma coisa. Fiquei quase desnorteada de confusão, acenei e entrei.

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