O tempo me pareceu ter passado incrivelmente rápido quando ele afastou o rosto. Eu estava vergonhosamente ofegante, por isso demorei a criar coragem de abrir os olhos. Ainda estávamos emaranhados, sem vontade nenhuma de diminuir o contato. A primeira coisa que vi foram seus olhos fixos em meu rosto e pensei ver uma angústia profunda dotada de dúvida neles. Fiquei com medo de perguntar, temendo que estivesse apenas com receio de me dizer que aquilo não era o que ele esperava, que não havia significado muita coisa, embora continuasse a me pressionar contra ele.
— Você é terrivelmente magnífica, Faith Evans — admitiu com exaustão — Extraordinária demais para o seu bem.
Dei um sorriso completamente sem graça, tímida demais para discordar dele. Ele que era excepcional com todo seu ser inumano. Contemplei seu rosto, agraciada por poder fazê-lo de tão perto. Tudo nele era perfeitamente alinhado, era um exagero que fosse tão bonito assim.
— Você está com... — tirei minha mão de seu cabelo, impressionada com tamanha ousadia vinda de mim por colocá-la ali, e passei meu dedo embaixo de seu olho esquerdo onde pensei ter visto alguma sujeira — Não quer sair.
— É uma tatuagem — esclareceu, adivinhando sobre o que eu falava.
Examinando melhor percebi a representação de uma cruz pequenina.
— Não havia percebido essa.
— É recente.
Parei de passar o dedão ali, notando que já estava ficando desnecessário. Meu rosto estava esquentando conforme eu tinha consciência de nossa proximidade. Eu podia sentir as batidas de seu coração contra as minhas, o que fazia com que minha pulsação acelerasse.
Contrariando todos os meus impulsos, fiz menção de me afastar, e assim ele permitiu. Foi assustador o sentimento de fragilidade quando seus braços me deixaram.
— E qual a motivação para esta? — questionei com o olhar no curso da água, constrangida o suficiente para evitar seus olhos.
— Hmm... o mesmo das outras — respondeu hesitante.
— Algum dia vai me contar sobre elas? — pensei alto, reparando que eu estava um pouco fraca, abalada com os últimos acontecimentos. Me sentei novamente depois de guardar minha folha no bolso da frente. Escutei Justin se sentando ao meu lado e abracei meus joelhos, temendo que minhas mãos inquietas se estendessem para tocá-lo.
— São histórias. Uma característica de alguma pessoa que cruzou meu caminho — revelou devagar, organizando cada palavra com cuidado, aparentando não querer falar demais.
— Seus amigos? Pessoas importantes pra você? — especulei, ainda covarde para ver seu rosto.
— Não exatamente, mas fizeram parte da minha vida por qualquer período de tempo.
Não aguentei mais e olhei para ele curiosa. Sua expressão estava cautelosa em meu rosto.
Imaginei se eu teria a honra de ganhar uma representação em seu corpo e qual seria. Acabei me lembrando da garota em seu pulso e meu cérebro trabalhou rapidamente em uma teoria. Todas aquelas tatuagens poderiam representar alguma mulher em sua vida, explicaria sua hesitação para me contar o assunto, e eu já sabia que uma era para sua mãe.
E se eu já tivesse uma tatuagem em minha homenagem? A cruz era recente assim como eu em sua vida, e nos encontramos fora da igreja uma vez...
Ele deu um sorrisinho.
— Posso ouvir seus neurônios trabalhando daqui. Qual sua conclusão?
Pensei três vezes antes de decidir que deveria lhe contar para saber se era verdade.
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One Life
FanfictionAparentemente, não havia nada de extraordinário na história dos dois. Eram duas pessoas normais, favorecidas pelo capitalismo, e embora não parecesse, ambos tinham muito em comum. O fato de terem o que quisessem era um deles, mas também aquele senti...