Nossa Verdade

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Um baque surdo aos meus pés me fez abrir os olhos com relutância e encontrei meu carrasco imóvel ali. Com seu rosto contra o chão, eu podia ver seu cabelo se ensopando do líquido vermelho denso.

O grito se formou em minha garganta.

— Tudo bem, tudo bem, está tudo bem. Ei, olha pra mim.

As mãos firmes de Justin seguraram meu rosto assim que identifiquei sua voz.

— Justin — arquejei, dividida entre o alívio que relaxou parte dos meus ombros e a angústia apertando minha faringe.

Ele limpou meu rosto, se atentando à minha mão e franzindo a testa.

— Eu vou te tirar daqui.

Justin mexeu em algum ponto nas costas da cadeira e as algemas se abriram. Eu observei o homem jazendo à minha frente, entendendo que ele havia tomado um tiro.

— Eu não... ouvi... — o que pensando bem, não seria surpreendente.

— Silenciador de arma, é bem útil — explicou, terminando de libertar meus braços e canelas.

Segurando minha mão esquerda, me ajudou a levantar, tomando, com cuidado, em seguida a direita para que examinasse.

— De um à dez, qual seu nível de dor? — perguntou, pegando um lenço dentro de seu paletó.

Dei um passo para o lado, me livrando do corpo do carrasco. Embora ele tivesse toda a intenção de me machucar, não conseguia ignorar a perturbação por saber que estava morto.

— Faith, ele mereceu isso.

Não cabia a mim julgar quando e se alguém merecia morrer, mas achei mais fácil concordar.

— Não está quebrada, logo estará tudo bem — me tranquilizou, envolvendo minha mão com o lenço branco — O que foi? — questionou o fantasma de humor em minha expressão.

— Você tem um... lenço no paletó.

Ele deu um sorrisinho, complementando com uma piscadela.

— Faz parte do meu charme.

Um charme que eu jurava não ter mais oportunidade de ver.

— Você não deveria ter vindo.

Justin semicerrou os olhos.

— Você não deveria ter vindo. Faith, o que estava pensando? Achei que já havíamos concordado que suas ideias são péssimas — ele lutou para usar um tom mais delicado, motivado por alguma coisa em meu rosto — Você está bem? Preciso ter certeza para que prossigamos.

Eu não estava, e não ficaria durante algum tempo. Mas abafei o sentimento para poder surtar mais tarde, já fora de perigo. Não foi tão difícil, comicamente, estar ao lado de Justin me dava a sensação de segurança.

— Ele não te machucou mais? Se eu pudesse, o deixaria vivo até que te pedisse desculpas e... — um transtorno começou a se apossar de seus olhos.

Me adiantei.

— Está tudo bem.

Ele respirou fundo.

— Ryan vai me dar o sinal para que possamos sair, e então o faremos pela porta da frente. Para isso, preciso que não transpareça alívio ou algo assim. Tudo bem?

Concordei, me abraçando com nervosismo. Meu plano todo fracassara. Bryan não havia feito nada e eu não era forte o bastante para suportar aquele fardo sozinha. Não podia ficar mais nenhum segundo ali, e de nada adiantaria se meus pais não estavam localizáveis. Não queria morrer por nada.

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