— Não acho que seja o melhor momento para contar à eles — expus quando ele perguntou sobre meus planos de mudar de curso.
— Faith, se você esperar muito vai ser prejudicada. Sei que consegue dizer.
Ele deveria parar de ser amável para facilitar meu processo de "despaixonalização".
— Claro. Mas será que não seria bom esperar pelo menos o fim do semestre? Eu posso contar no final do ano, a época em que podemos fazer as mudanças na faculdade.
— Você deve prepará-los para que sua decisão não seja um choque e te faça perder a oportunidade. Tem certeza que quer mudar de curso?
Considerei o argumento, concluindo que ele estava certo.
— Tenho. Eu gosto de pintar, mas como um hobby. Não me vejo sobrevivendo disso.
— Entendo.
Parei o carro no meio fio em frente minha casa, sentindo o desânimo dominar meu estado de espírito. Esse vício me deixaria louca.
Ele respirou fundo e me deu um sorrisinho.
— Quero te levar à um lugar amanhã.
Essas palavras saciaram parte do meu frenesi, não o bastante para que eu o deixasse partir.
— O que você tem em mente?
— Uma surpresa. Na mesma hora de hoje.
Eu já estava ansiosa o suficiente para que ele fizesse isso comigo, não era justo. De qualquer forma, seus olhos bem humorados me avisavam que eu não conseguiria lhe arrancar nenhuma informação.
— Tudo bem.
Não pude resistir ao impulso de ficar o admirando em meu silêncio interior bagunçado. Justin era a prova viva da existência de Deus. Só um deus poderia criar uma beleza assim.
Estava tão absorta em meus delírios que não percebi que ele reparava em meus olhares de fascinação.
— O que foi? — perguntou curioso.
Isso Faith, pareça uma maluca e o deixe descobrir que seu coração agora bate com um propósito humano impulsivo.
O sangue subiu ao meu rosto num jato e desviei a cabeça.
— Nada.
Será que ele sabia o quanto seu silêncio falava? Muito mais do que quando sua boca proferia palavras planejadas e vazias. No momento, por exemplo, ele se perguntava qual problema eu tinha na cabeça. E se chegasse à conclusão certa, estaria rindo da minha estupidez.
— Já que é assim, lamento ter que ir. Obrigado por seu tempo precioso, Evans. Foi um prazer acompanhá-la.
E lá estava toda a formalidade distante e fria que ia e voltava sem aviso prévio. Seria diferente se ele soubesse a verdade? Olhei para seu rosto com insatisfação, tentando adivinhar o motivo de sempre senti-lo escapar entre meus dedos.
Ele não percebeu minha expressão e pegou minha mão, no intuito de beijá-la como uma despedida. Só consegui pensar no sorriso da loira oxigenada do cartório, então rapidamente retirei a mão da sua. Pelo amor de Deus, já havíamos nos beijado, não deveria haver um pouco mais de intimidade entre nós?
— Não quero mais que faça isso — as palavras escapuliram da minha boca rápido demais para que eu as contivesse.
— E qual seria o motivo? — se sobressaltou.
Xinguei-me mentalmente, formulando uma resposta plausível.
Nunca apareceu uma, portanto, ficamos nos encarando.

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One Life
FanfictionAparentemente, não havia nada de extraordinário na história dos dois. Eram duas pessoas normais, favorecidas pelo capitalismo, e embora não parecesse, ambos tinham muito em comum. O fato de terem o que quisessem era um deles, mas também aquele senti...