— Sim, esse é definitivamente uma surpresa — admiti reconhecendo a voz de John Meyer fluindo pela acústica boa de sua sala.
Ele estava com os olhos atentos em meu rosto, abstraindo cada emoção minha a julgar a playlist de seu aparelho de som, então deu de ombros para meu espanto.
— Não sabia que os góticos das trevas gostavam de músicas tristes românticas, a pauta diária deveria ser a fixação pela morte — refleti, provocando-o e trocando de faixa com o controle pequeno em minhas mãos.
Justin desviou os olhos, banalizando a questão.
— Creio que uma renovação no repertório não é ilícita.
E mais John Meyer.
— Você deveria ter me avisado sobre isso antes, também gosto dele, poderíamos aprender uma canção juntos.
Ele quase sorriu.
— É recente, mas aprendi uma. Se ainda quiser depois posso te ensinar, antes me deixe te dizer o que estou tentando há alguns minutos.
Neguei com a cabeça e me levantei do seu colo, desviando o assunto:
— Você me disse que tinha alguns instrumentos aqui, onde estão?
Justin suspirou, me fitando com o olhar superficialmente acusador.
— O que? — perguntei com inocência.
Ele não se deixou enganar.
— Você está me enrolando.
Fingi estar intrigada, embora soubesse que o único efeito seria prolongar, o que era minha intenção.
— Não estou — neguei.
— Faith, pensei termos chegado à conclusão de que apenas a verdade nos dará a direção.
Relaxei os ombros me rendendo, mas segurei sua mão e deixei meus olhos ali, tentando ser convincente.
— Eu vou ouvir a verdade, só quero ver seus instrumentos primeiro.
Eu quase podia ouvir seu cérebro trabalhando em uma rota alternativa antes que propusesse.
— Posso tocar uma das músicas para você, depois você me deixa falar. Os instrumentos estão num quarto do segundo andar, mas o violão está aqui na sala de treino.
Treino.
Impedi que o julgamento infestasse minha cabeça, me focando no oposto.
— Você quer tocar violão do jeito que está?
Ele revirou os olhos, fazendo menção de se levantar.
— Eu fui baleado, não amputei os braços. Isso é como bater o dedinho do pé para mim.
Coloquei a mão na frente para que não se movesse.
— Tudo bem, eu pego, mas você sabe que se estourar os pontos....
— Você vai jogar álcool e sal, rir da minha cara e me levar no hospital — completou, entediado.
Contive qualquer traço de humor e assenti para que me levasse a sério, me levantando.
— Muito bem, que seja feita sua vontade no leito de morte.
Me encaminhei para o já conhecido cômodo perturbador da casa, não tendo boas memórias dali. Estávamos mesmo na mesma semana? Parecia já fazer um século que eu vivia aquele impasse, os momentos leves e divertidos ao seu lado faziam parte de um século passado.
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One Life
FanficAparentemente, não havia nada de extraordinário na história dos dois. Eram duas pessoas normais, favorecidas pelo capitalismo, e embora não parecesse, ambos tinham muito em comum. O fato de terem o que quisessem era um deles, mas também aquele senti...