Péssimo dia para ser Faith Evans

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— Você sabe que não tá fazendo sentido algum né? — Hanna andava de um lado para o outro quase desgastando o piso — Tem certeza que não está de ressaca? Justin queria te amolecer, então ofereceu bebida, você por estar nervosa aceitou, ficou muito bêbada e perdoou ele, depois acordou toda bagunçada e ficou com remorso, então seu cérebro inventou toda uma história para compensar! O manipulador e atrativo Justin Bieber com terríveis planos para te seduzir.

Sentada como estava com os cotovelos apoiados nas coxas, esfreguei minhas têmporas, sentindo que minha cabeça explodiria.

— Sua teoria é falha, eu não bebo e não sou tão criativa assim — retruquei com a voz cansada.

Por mais que fosse irritante, tentar convencer Hanna de que era verdade estava estimulando minha racionalidade. Não havia como negar, os fatos confrontavam minha vontade, sem espaço algum para as ilusões do meu coração, órgão idiota que me levara até ali, diluída em fracasso no meio de tanta gente. Minha sorte era todos estarem tão apressados, correndo contra o relógio para chegarem ao seu destino. Eu não fazia ideia de qual era o meu, mas era claro que também estava de passagem.

Uma cena em especial me chamou a atenção, paralela ao cenário corriqueiro da estação, embora tão pertencente ao espaço que servia como um de seus alicerces. A garota de estatura média com o cabelo afro trabalhado nos cachos enormes procurava algum refúgio nos braços franzinos do menino com franja escura que lhe cobria os olhos, misturando-se com as lagrimas bruscas que escorriam por seu rosto.

Me senti constrangida de estar presenciando a cena tão íntima, mas não conseguia parar de olhar, imaginando qual deles estava indo embora e por que. O modo como se agarravam um ao outro era prova de que ainda existia sentimento. Ou talvez ele pudesse estar mentindo sobre isso e muitas outras coisas. Se fosse, ela saberia reconhecer? E se soubesse, conseguiria simplesmente manda-lo embora excluindo todas as vivências que experimentaram juntos? Uma mentira poderia deslegitimar tudo? Na minha realidade, emaranhada como estava ao restante, podia. Ela voltava pelos tecidos da minha mente, corrompendo cada gesto, cada palavra, me retratando como a pessoa mais ingênua existente.

Então os invejei, mesmo que não soubesse o que estavam vivendo, não poderia ser tão ruim quanto estar na minha pele. Se fosse, ela não estaria com os olhos úmidos de admiração presos a ele. Estaria?

— Não surte agora! — Hanna chacoalhou meus ombros, olhando em meus olhos com a inquietação de quem não era ouvida. Seria cômica sua contradição se não fosse trágica — Temos muito o que pensar. Por um absurdo da vida isso é mesmo verdade ou você realmente acredita nisso.

Ela estava assustada e eu queria conseguir acalmá-la, mas não conseguia engolir o desespero entalado em minha própria garganta.

— É verdade Hanna Marin! Eu não tenho nenhum motivo para inventar uma coisa dessas, e não estou delirando para encontrar mais razões que me afastem dele. Já te disse que descobri sobre ele ser um assassino na segunda, a novidade é apenas essa demanda específica de acabar com a minha vida mais do que emocionalmente — falei tudo de uma vez, destruindo todo o meu avanço de autocontrole.

Hanna se agachou na minha frente para que pudesse me olhar nos olhos, semicerrando os seus.

— Talvez seja melhor pra você existir uma alternativa que não envolva me esconder tais coisas, principalmente de que o cara com o qual estou saindo apenas está comigo para te atingir — seu tom de voz ameaçado transparecia o quanto estava chateada.

E mais essa.

Choraminguei, jogando a cabeça para trás com as mãos no pescoço.

— Eu sei que devia ter te contado, eu só não sabia e muito menos sei agora como lidar com isso! Eu já estava arrumando um jeito de te proteger dele, Justin já havia dado um aviso ontem que me arrumou tempo para encontrar a melhor forma de agir.

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