Nasci para Matar

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— Eu sinto muito — lamentei. Não imaginava como devia ser a dor de perder um irmão, se Caleb se fosse eu perderia o chão.

Caitlin moveu a cabeça levemente, mas parecia mais querer mudar de assunto do que aceitar minhas condolências.

— O que mais quer saber?

Eu não sabia se queria mesmo saber, mas em algum momento minha mente decidiu que era melhor saber com o que lidava do que vagar pelo escuro.

— O que a família dele é afinal? — as palavras saíram obrigadas da minha boca, e contive o impulso de tapar os ouvidos.

Ela franziu a testa, tendo dificuldades para uma classificação.

— Uma companhia de assassinos de aluguel tradicional, alguma coisa assim.

A essa altura eu não deveria ter me surpreendido, mas meus olhos se arregalaram de choque.

— O que quer dizer com tradicional?

Ela deu de ombros, indiferente, dominando o assunto como se fosse o alfabeto.

— Você sabe, que existe há muito tempo, passou por gerações. Eles não construíram o nome de um dia para o outro.

Se eles eram tão conhecidos assim, eu não entendia como nunca deixaram escapar nada para a imprensa de forma que eu não os encontrasse na internet. Talvez fossem temidos o suficiente para sua fama se espalhar apenas oralmente, não ousariam irritá-los.

Eu estava negando com a cabeça inconscientemente, o pote de salada de frutas era a única coisa que me agarrava a lucidez. Ele parecia tão deslocado em minha mão, simples demais para a complexidade do momento. Enfiei mais um punhado na boca e mastiguei devagar para digerir tudo aquilo com cuidado.

— Você está bem? Seus olhos estão meio loucos — Caitlin parecia preocupada. Deveria ser mesmo perturbador ter um desconhecido em surto no meio de seu refúgio. Eu sabia bem como era a sensação.

Aquela era uma pergunta idiota, era claro que eu não estava bem e não ficaria tão cedo. Então não me dei ao trabalho de responder, necessitando de apenas mais uma resposta para poder finalmente escapar daquele lugar corrompido por maldade. Cada móvel ali vinha de sangue inocente, e conseguir conviver com aquilo tornava Caitlin tão cruel quanto eles.

— Por que estão atrás de mim? — meu único palpite era como pagamento por ter entrado na night club estúpida.

Isso me fez lembrar o motivo pelo qual havia me metido naquela situação. E mais essa, será que Hanna estava bem? E outra, Guilherme estava bem?

— Não sei, Justin foi descobrir isso. Na verdade, ele já deve estar chegando, saiu era umas sete horas — ela olhou no relógio, refletindo.

Não dava para negar que meu primeiro pensamento era o motivo de sua demora, mas imediatamente bani o altruísmo e me foquei no que deveria me importar, eu tinha pouco tempo para fugir. Comi apressada ao saber que meu tempo havia chegado, engolindo rápido.

— Pode me dar um pouco de água? — pedi como o primeiro passo de uma estratégia.

Sem questionar, ela se levantou.

Não tinha como ter certeza de que ela falava a verdade quanto a ter seguranças na porta, mas eu podia arriscar e jogar meu charme super funcional para eles. Uma rota alternativa não deu certo da última vez que tentei, e no fim a porta estava mesmo desimpedida.

Quando Caitlin virou de costas eu me agachei, engatinhando atrás do sofá até chegar em frente à porta e me colocar em pé com a adrenalina fluindo mais uma vez em meu sangue. Estava levando a mão à porta quando o trinco se moveu me dando um susto pelo movimento inesperado. Não deu tempo de assimilar o ocorrido antes que a porta se abrisse e a figura maligna entrasse. Eu esperava que depois de tudo pudesse vê-lo com outros olhos, não foi exatamente assim.

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