Quem é Você?

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A partir do momento que pisei fora daquele estabelecimento fui assaltada por um choro intenso e ressentido, um sentimento mais sombrio que a negritude da noite sem o brilho da lua e das estrelas. Assustei-me com a reação e tentei conter, mas estava longe do meu controle. Eu não podia ser vista assim, e seria pior se tirassem uma foto minha para eternizar esse momento infernal em uma das colunas sociais. E embora fossem muitas desvantagens – como não enxergar um palmo a minha frente por causa das lágrimas estúpidas – a situação apenas se agravava.

Eu precisava de uma pausa e não poderia ser ali, então me dirigi ao espaço vazio ao lado do night club, me escorando na parede e tentando respirar.

Está tudo bem, Faith, não precisa de tudo isso, é apenas mais um babaca.

Repeti as palavras para mim umas quinhentas vezes, e não surtia efeito. Eu só queria saber por que, por que eu não havia sido suficiente? Bati em minha testa algumas vezes, grunhindo de raiva. Raiva por me deixar apaixonar por alguém que sempre foi cheio de segredos, raiva por ele ter insistido em se aproximar de mim, raiva por sentir uma dor tão sufocante e não conseguir fazer parar. Mas como eu adivinharia que por trás de todas aquelas declarações tão genuínas havia um lixo humano ambulante?

— Ei! — o chamado veio de trás de mim e eu não pude ao menos me enganar pensando ser Justin com uma explicação surrealmente plausível por saber que aquele não era seu timbre.

Limpei meu rosto antes de olhar para trás, tendo conhecimento de que era impossível disfarçar o quanto eu estava me desafazendo.

Eram dois homens trajando uma roupa social preta, então logo deduzi estar em uma área proibida, por mais que fosse apenas um beco sem saída.

— Você precisa de ajuda? — o mais alto perguntou, analisando minha expressão destruída com cautela.

Neguei com a cabeça, incapaz de dizer que ninguém conseguiria tirar a faca invisível das minhas costas.

Os dois se entreolharam provavelmente me taxando de louca, e o moreno careca deu um passo calculado em minha direção.

— Nós podemos ajudar você.

Recuei um passo para trás instintivamente. Era tarde da noite e eu estava "encurralada" por dois homens em um beco, minha paranoia era mais do que lógica e bem vinda.

Pigarreei para poder falar.

— Não precisa, obrigada — o som não saiu forte e claro, mas era audível.

Eles olharam para os lados antes de dizer a próxima coisa:

— E você está aqui sozinha? — o mais alto perguntou, avançando mais um pouco para mim.

O gelo desceu por minha espinha, reconhecendo enfim o perigo iminente.

Fiquei irritada com o mundo. Eu não podia ao menos sofrer em paz?! Já estava emocionalmente debilitada de tal forma que afetava meu físico, portanto não era bom momento para precisar das minhas pernas.

Fechei a mão em punho, tentando demonstrar força para que não se metessem comigo.

— Por que querem saber? — rebati, me desencostando da parede e ficando séria, enquanto por dentro rezava o rosário inteiro.

Deus, me ajuda.

Fiz uma análise da situação, eles eram dois enormes, era lógica que nem de um eu podia dar conta. Mas imaginei a cena, enquanto um me agarrava, eu chutaria o outro, espernearia e gritaria. Estávamos perto do night club, não era possível que pelo menos os três homens na porta não me ouvissem.

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