05 - Memorial Day

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     A segunda feira chega e eu tenho que me arrumar para o trabalho, embora seja feriado. Hoje é a última segunda feira do mês, então nos Estados Unidos, é o feriado anual do Memorial Day. O dia de hoje é para lembrar os homens e mulheres que morreram enquanto serviam nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Também é quando se marca o início da temporada de férias de verão por aqui. As pessoas tem o costume de colocar flores e uma bandeirinha americana em cada sepultura em vários cemitérios, então a floricultura tem de estar aberta pelo menos neste domingo, já que é uma data especial. Eu nunca reclamo de ter que levantar cedo no domingo quando é Memorial Day, porque agora também faço parte dos Estados Unidos e também se torna um dia especial para mim. A loja irá fechar ao meio dia e depois disso, também irei ao Graceland Cemetery prestar as minhas homenagens. Está tudo tumultuado de pessoas querendo comprar flores para levarem aos cemitérios, mas nós três conseguimos nos safar, terminando todos os trabalhos um pouco mais de meio dia e meia. Nos despedimos na porta da floricultura e vamos para nossos lados.

     Durante os dias que se sucederam os acontecimentos com o tal estranho que desmaiou em meus braços, não tem um dia sequer que eu não lembre dele, nem que seja uma vez no dia. As vezes me pego pensando, ora em seu rosto pálido me pedindo ajuda antes de desmaiar, ora em toda sua beleza mesmo estando deitado em uma cama de hospital. Beleza essa que eu não tinha conseguido prestar tanta atenção na hora do sufoco na frente da livraria. Não sei como é possível eu ainda conseguir lembrar tão nitidamente da sua voz no hospital, mas eu lembro como se a escutasse todos os dias. Eu já pensei na possibilidade de que talvez ele tivesse levado meu livro consigo e até já cheguei a andar pela mesma área onde nos encontramos algumas vezes para ver se eu o vejo e pergunto pelo meu livro. É para isso mesmo que eu quero o encontrar, não é ? Para pedir meu livro ? Mas eu simplesmente poderia comprar outro. Por que então estou tão intrigada com esse rapaz ?

-Porque você é perturbada, Alexia! -Digo comigo mesmo voltando a realidade e batendo no volante do carro.

     O cemitério está cheio de pessoas e começo a minha busca anual por uma vaga, o que demora mais de cinco minutos rodando feito barata tonta, mas acabo encontrando uma rara depois que outro carro sai e eu posso estacionar o meu. Entro no cemitério e voluntariamente, começo a colocar bandeirinhas americanas em alguns túmulos que ainda não tem enquanto sussurro um "obrigado" ou um "descanse em paz" para quem quer que esteja ali. Fico ainda por mais alguns minutos até o sol começar a esquentar demais, então volto para o carro e conduzo para casa. Hoje marquei de sair com a Avery e com a Peggy para irmos ao cinema e jantar fora. Quando liguei para a Peggy, ela começou com seu discurso que não iria sair comigo se a Avery fosse, começando uma briga por ligação.

-Okay, Peggy. O problema é todo seu!

-Como é ?

-Se você não quer ir, eu vou sozinha com a Avery.

-Você já está me trocando pela sua amiga escrava ?

-Quer saber ? É melhor mesmo você não ir. Você é tóxica demais para sair com nós duas. -Digo e encerro a chamada. Eu nunca tive tantos problemas com a Peggy em relação a isso, até porque não temos tantos amigos em comuns e os amigos negros que eu tenho, ela não faz parte do circulo de amizade. Mas agora se ela acha que vai falar mal da Avery comigo por perto em nome da nossa amizade, ela está muito enganada. Não vou mais aturar esse preconceito, mesmo que isso custe a nossa amizade.

     Chego em casa por volta das 13h30 e abro todas as janelas para entrar um ar fresco. O calor está insuportável e eu ando para o banheiro enquanto tiro as roupas e coloco no cesto. Coloco a água no mais frio possível e entro debaixo do chuveiro, sentindo meu corpo sendo refrescado. Fecho os olhos para lavar os cabelos e a primeira imagem que vem, é do rapaz do hospital. Lembro de tocar seu braço para sentir se estava quente e do sorriso que ele me deu, então acabo dando um sorriso involuntário sem perceber. Balanço a cabeça imediatamente para expulsar aqueles pensamentos e vejo que isso parece está saindo do meu controle mental. Decido que não quero mais saber daquele livro e que irei comprar outro para acabar com esta agonia. Acabo de lavar os cabelos e enrolo em uma toalha seca, depois pego outra e enrolo em volta do meu corpo, indo para o quarto. Visto uma roupa confortável para ficar em casa e ainda deixo a toalha nos cabelos. Vou para a cozinha e preparo qualquer coisa para comer, enquanto isso, pego meu celular em um móvel da sala e vejo que há uma mensagem do Estevão, uma da Avery e outra da Peggy.

7 DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora