Sora

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Ele estava em silêncio, sentado na cama enquanto observava a mulher preparar algumas coisas que havia trazido naquela bandeja. Ela era tão delicada no que fazia... E até mesmo cantarolava enquanto isso! Thierry não parava de olha-la, não conseguia evitar de ver uma pessoa daquele tamanho, mas também com aquela beleza. Quando criança, eles havia ouvido histórias sobre gigantes monstruosos e demônios bebedores de sangue, mas jamais poderia imaginar que um deles fosse se tornar real, e não fosse, exatamente, um monstro.

- Deve esta tudo muito confuso para você, não é querido? - Sora perguntou com suavidade, apesar de seu tamanho, ela tinha uma voz fina, doce, maternal. - Mas tudo vai ser explicado com o tempo, eu lhe prometo.

- Assim como o seu tamanho? - Thierry perguntou mas logo percebeu o erro que havia cometido e logo tentou se desculpar quando viu que Sora o olhou com surpresa. - E-Eu sinto muito, senhora, fui indelicado.

Sora levantou a cabeça com um sorriso no rosto e colocou a bandeja sobre as pernas de Thierry e retirou o pano por que cobria o que ela havia trazido para ele.

- Não se preocupe, você não foi indelicado. Eu compreendo que você nunca tenha visto alguém do meu tamanho... - ela respondeu ajoelhando-se na frente de Thierry e o fitando com serenidade. - Agora... Você, rapazinho, precisa comer. Se não vai ficar fraco... Você tem ai um chá de ervas bem quentinho, pão de nozes e uma sopa deliciosa de cogumelos que eu mesma fiz. - ela franziu os ombros em um suspiro orgulhoso. - Digamos que é a minha especialidade.

O jovem mosqueteiro olhou para a refeição completa bem diante de si e sentiu um aroma muito bom. Mal se lembrava de quantos dias ele não comia algo direito ou algo bom e de boa aparência. Ele suspirou, pensando nos seus companheiros de viagem que com certeza dariam suas vidas por um prato de comida como aquele depois de dias poupando suprimentos no pequeno barco em que eles estavam. Sora observou enquanto o rapaz se perdia em seus pensamentos, sem tocar na comida, apenas a contemplando, quando ela estendeu sua mão até Thierry e virou seus dedos para tocar-lhe a testa.

O toque assustou Thierry, que levantou a cabeça rapidamente e viu Sora puxar a mão de volta.

- Calma... - ela sorriu gentilmente. - Só estava querendo ver se você ainda está quente.

As sobrancelhas de Thierry franziram. Sora virou seu corpo e começou a arrumar alguns lençóis e panos que foram usados na noite anterior, eles precisavam ser lavados então ela teria que levá-los o quanto antes.

- Você teve uma febre muito alta ontem a noite... Meu marido disse que o encontrou no meio da chuva, no frio da noite, como se tivesse vindo do mar. Foi muito difícil fazer você cuspir toda aquela água salgada... - ela o olhou sobre o ombro.

- Eu tive muita sorte de sobreviver... - Thierry comentou em um quase murmúrio, pegando a colher curiosamente dourada e dando uma primeira colherada na sopa de cogumelos.

Quando levou a comida até a boca, quase sentiu êxtase. Estava bom, muito bom! E ele não perdeu tempo em continuar a comer. Sora se sentiu satisfeita, ele não era uma criança que daria trabalho para se alimentar como muitos já apareceram para ela. Ele parecia jovem, apesar da barba em seu rosto, tinha cabelos ondulados de fios finos e cheios que chegavam até seu pescoço e cobriam suas orelhas. Sim, ele era um menino bonito. Tão bonito quanto os meninos que ela tinha.

- Se você se sentir a vontade, pode me contar o que aconteceu com você. Eu sou uma ótima ouvinte. - sorriu Sora encantada com o seu mais novo belo rapaz. - Apesar da sua febre ter abaixado, não acho uma boa ideia você sair por aí com os pés descalços. Se quiser dar uma volta, coloque as botas.

Thierry assentiu corado, nunca havia recebido ordens de uma mulher antes. Apesar das palavras de Sora não parecerem ordens e sim conselhos.

- Eu me lembrarei disso, não se preocupe. - ele respondeu educadamente enquanto ela voltava a dobrar mais alguns lençóis satisfeita. - A senhora... Bem, não sei se isso é insensível ou indelicado da minha parte de pergunta-la sobre isso mas...

A Ilha WalgonreiOnde histórias criam vida. Descubra agora