A proposta

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O inverno seria duradouro, eles imaginavam. Já havia tido invernos mais rigoroso em Walgonrei porém aquele não parecia ser um deles, o equinócio da primavera iria chegar mais cedo do que todos imaginavam. Um mês de inverno ja tinha se passado, um mês inteiro, enquanto houvessem suprimentos e comida para as crianças, tudo estava em devida ordem na fortaleza Newgate.

Era hora do jantar na casa do Norte, as conversas fluiam altas e misturadas, não dava se quer para distinguir quem falava ou não. Dardeno estava em sua grande cadeira, ao tomar um copo de chá bem quente, não havia sentido ele beber rum naquela hora da noite e depois ele havia prometido a Sora que diminuiria seu consumo da bebida forte em álcool. Sora, por sua vez, estava sentada ao lado de seu marido como sempre ao tricotar algumas roupas de frio para seus filhos e filhas, as crianças as vezes, acidentalmente, rasgavam as roupas, quando iam brincar na neve ou aproveitar o tempo apenas para treinar, então a mãe tinha que remendar ou fazer roupas novas para eles. Thierry não tinha roupa de frio, por isso Sora havia tomado a responsabilidade de lhe fazer uma, o menino não podia ficar no frio, mesmo agora sendo um vampiro.

O quarteto consegiu se sentar perto da porta mais uma vez, como sempre gostavam de fazer, e se serviam enquanto jogavam conversa fora. Já faziam vários dias que Thierry havia terminado a sua transformação, ele agora era um bebedor de sangue assim como todos daquela fortaleza mas o que o deixava mais intrigado eram seus novos dentes. Suas presas. E ele não parava de mexer nelas com a língua e se surpreender do quanto elas eram afiadas.

- Thierry, faz o favor de guardar suas presas e terminar de comer. - pediu Darlan já inquieto por ver o mais novo não parar de brincar com as presas. Se fosse só naquele dia, tudo bem, mas já faziam vários dias que Thierry fazia aquilo. - Se você não comer o seu pão de nozes, eu vou comer. - ameaçou o mais velho.

- Ele ainda está surpreso pelas presas... - Romazi sorriu ao jogar uma castanha em sua boca e mastiga-la. - Você vai ter muito tempo para aprender a conviver com elas, irmão. Já que seu desenvolvimento humano parou assim que elas saíram, não precisa de pressa para sentir costume.

- Se machucar com elas é normal nos primeiros anos, nós já te falamos isso. - comentou Otto calmamente ao levar seu copo de chá até a boca e dando um gole suave.

- Eu sei. - respindeu Thierry divertidamente. - Mas é que ainda é tão surreal... - Ele comentou ao levar um dos dedos até seus dentes e toca-los. - Jamais imaginaria que fosse ter algo assim, algo que eu só conhecia através de lendas e histórias.

- É, pena que nas histórias eles não falem como é o processo do nascimento das presas. - Romazi sorriu. - Mas você aguentou muito bem, de acordo com a mama.

- Ela ajudou bastante também, a dor era muito forte, como se os ossos do meu rosto estivessem sendo quebrados. - lembrou-se Thierry do momento em que suas presas nasceram e sentiu um calafrio só de lembrar da dor excruciante que ele sentiu naquele dia. - Depois eu senti uma fome... muito grande! Como se eu não comesse a dias!

- É a sede de sangue, você também vai aprender a se acostumar com ela. Como já te explicamos, você vai precisar se alimentar de sangue apenas uma vez por semana. - Otto lembrou ao mais novo e avistou Thierry assentir com a cabeça. - Você pode se alimentar de sangue animal ou pode pedir para a mamãe te alimentar com o sangue dela, mas nunca, em hipótese alguma, você deve se alimentar de algum humano que se aproximar dessa Ilha.

- Eu fui criado e treinado para proteger pessoas e não mata-las. Eu não sou um assassino, Otto. - Thierry rebateu o irmão.
- Ninguém aqui é, mas alguns já tiveram seus momentos de fraqueza. Você precisa lutar contra seus instintos de predador, não é fácil mas se você por na sua cabeça de que não vai atacar alguém, você não irá atacar. - Romazi respondeu calmamente ao encostar seu corpo na parede do salão de refeições e cruzar os braços.

A Ilha WalgonreiOnde histórias criam vida. Descubra agora