Um grande passo

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- Muito bem... acho que vou ter que usar a pomada de calendula para não deixar esse corte inflamado. - comentou Sora ao mexer em um pequeno baú em baixo de uma das janelas daquele quarto, olhando potinho por potinho do material medicinal que ela guardava propriamente para os filhos, até que retirou um deles e fechou o baú.

- Existem... calendulas aqui? - Thierry falou pela primeira vez, perguntando com curiosidade.

- Existem. Eu e algumas amigas cultivamos varias mais ao Sul da Ilha, é uma flor com muitas propriedades e é bom ter algumas dela por perto quando se tem filhos em casa. - respondeu Sora caminhando de volta a cama com o potinho de pomada em mãos e um pano no qual ela molhou na bacia de água que Dardeno havia trazido para ela. - Você conhece essa planta?

- No forte da guarnição, era o que eu mais usava nos meus companheiros quando eles se feriam. - comentou Thierry ao tirar o pano da testa mais uma vez.

- Entendo... - disse a mulher. - Então você está familiarizado com esse procedimento, não é mesmo?

- Podemos dizer que sim. - respondeu-lhe o rapaz.

- Que bom. - ela sorriu ao se sentar atrás do jovem mosqueteiro e dobrando seus joelhos e dando alguns tapinhas nele. - Deite a cabecinha aqui, meu bem. Será mais fácil para enxergar o machucado.

Thierry não protestou, apesar de ainda está totalmente pelado debaixo daquela manta, mas pelo menos ele estava coberto. Engatinhou na cama de tecidos escuros até chegar ao colo de Sora, onde ele se virou de barriga para cima e deixou sua cabeça lá.

- Pronto, vamos cuidar desse dodói agora. - Sora sorriu gentilmente ao usar o pano molhado para começar a limpar o sangue que havia ficado no corte e ao seu redor, ela fazia com delicadeza e com calma.

Thierry estava familiarizado com a dor, a dor de ferimentos como esse, não com a dor de tapas em sua bunda. Ainda doía, é claro, e só de pensar na ameaça de apanhar de palmatória de madeira o fez estremecer. Mas deixaria Sora o ajudar, de muito bom grado. Melhor ela com sua delicadeza e gentileza do que Dardeno ainda irritado.

- Querido, retire a agulha da água, por favor. - Sora pediu ao marido que estava sentado diante a cama, na cadeira de antes.

Dardeno assentiu, foi até a lareira que existia no quarto deles e que estava com uma tigela de água fervendo no fogo com uma agulha dentro, segundo Sora, aquilo servia para diminuir os riscos de infeções nas crianças. O homem retirou a tigela do fogo com cuidado e despejou a água pela janela mais próxima, retirando a agulha quente de dentro e a pondo sobre um pano limpo.

Sora pegou a agulha e colocou uma linha preta nela. Thierry observava a calma das ações da loira rosada, sentindo-se péssimo por dentro. Ela estava ali, cuidado dele mesmo depois de tudo eu ele havia dito para ela. Era difícil de entender, mas Thierry sabia que não merecia essa compaixão dela.

- Eu vou costurar agora, você quer alguma coisa pra morder? Algo pra segurar? Talvez isso doa um pouco mesmo sendo pouquinhos pontos. - perguntou Sora que recebeu um aceno negativo da cabeça de Thierry.

- Não, senhora. Eu estou bem, pode fazer. - o menino respondeu.

Sora sabia que aquela era a faceta de um homem que não queria mostrar que sentia dor. Que podia aguentar. Céus, ele era um soldado antes de chegar em Walgonrei, ele com certeza deve ter aprendido a esconder suas dores muito bem. Mas Thierry era diferente, ela sabia. O show de gritos e choros durante a disciplina que Dardeno lhe deu era a prova disso.

A grande mulher começou então a dar os pontos no corte da testa do jovem mosqueteiro com calma e paciência, a agulha era bem pequena para a mão dela e bem fina, não machucaria tanto Thierry. Mas ela começou a vez expressões de dor começarem a aparecer no rosto do pequeno homem que mordia o lábio inferior e apertava a manta em seu corpo com força.

A Ilha WalgonreiOnde histórias criam vida. Descubra agora