O grande salão

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Já totalmente vestido, Thierry tentava assimilar o que havia acabado que acontecer consigo. Para falar a verdade, ele não conseguia entender muito bem tudo que havia passado... Estava desorientado, com as mãos no rosto enquanto seus cotovelos estavam apoiados em seus joelhos e então se jogou na cama, olhando para o teto daquele quarto soltando uma respiração pesada. Nem se lembrava de quando havia chorado daquele jeito, já fazia bastante tempo, ele pensou. Chorar de dor por ferimentos durante seu dever de mosqueteiros era comum, chorar pelo luto ao perder um irmão durante alguma missão também era comum, mas chorar por constrangimento não era comum. Mosqueteiros não se sentiam constrangidos facilmente, imaginou o que Marlon diria ao saber do que aconteceu, logo ele que sempre falava sobre "se adaptar as circunstâncias".

Porém, foi inevitável. Sora foi gentil e delicada, ele não a culparia por temer que ele terminasse por desmaiar e se afogar na banheira. Thierry tinha que ser racional e examinar tudo que havia o levado para aquela situação. Mas não conseguia olhar Sora nos olhos, não sabia o por que...Porém se sentia sem jeito para encara-la depois do que havia feito para ela na casa de banho.

- Você ficou quietinho...- comentou Sora ao terminar de arrumar o pano que havia usado para secar Thierry e o dobrando em seu braço. Ela o avistou perdido em seus pensamentos, olhando quieto para o teto e suspirou. - Sinto muito se o que fiz tenha lhe deixado magoado. Não era essa minha intenção.

- Eu sei que não, madame. - ele apoiou seus braços na cama para poder se sentar novamente, mas não olhando para Sora. Ele havia voltado a trata-la com formalidade. - Eu só estou... pensando em tudo que aconteceu. Não estou lhe culpando.

- Você chorou. - ela respondeu o fazendo franzir os lábios para dentro. - Se estiver chateado, Thierry, por favor me diga...

- Não é culpa sua. - ele falou seriamente ponderando tudo que havia o levado para aquele local, primeiramente. - Tudo isso é culpa minha, unicamente minha.

- Do que você está falando? - Sora indagou.

De ter ganhado um mapa num jogo de azar, de ter juntado uma tripulação para uma viagem sem volta, de ter ignorado os pedidos de Paul para ficar em Paris, de ter levado seus tripulantes para a morte, de ter chegado naquela Ilha achando que seria fácil conseguir um barco para voltar a França... A lista de culpa invadiu a mente de Thierry como um turbilhão, ele sabia que tudo aquilo não tinha outro responsável a não ser ele mesmo, a quem ele poderia culpar?

Mas ele forçou um sorriso e finalmente olhou para Sora naqueles olhos azuis profundos, tocando cada um dos seus dedos indicadores em sua língua e afinando as pontas se seu bigode como costumeiramente fazia.

- Nada muito importante, só estou pensando alto de mais. - ele respondeu. - Minhas mais sinceras desculpas pelo o que fiz na sua casa de banho.

Sora sorriu com a simplicidade do rapaz, nem todo menino ficaria daquele jeito após um banho completo, Otto mesmo havia ficado bastante chateado quando chegou na Ilha, mas Thierry estava calmo e não parecia nem um pouco irritado, estava só pensativo. Distante. As marcas do banho ainda estavam visiveis nele, como os cabelos molhados e o nariz vermelho pelo choro. Se ele queria esconder dos outros, estava fazendo isso muito bem.

- Não precisa se desculpar, não tem problema algum em chorar ou tentar impedir. É normal, tudo bem? - ela sorriu lhe entregando um copo que parecia ser de bronze pela tonalidade, Thierry franziu o cenho. - Tome isso, vai ajudar com as tonturas que você está tendo.

Os olhos de Thierry desceram até o copo e ele avistou um líquido escarlate.

- O que é isso?

- Beba tudo, se algo tiver acontecido com você internamente, isso vai lhe curar por completo. - confirmou Sora ao ver a expressão de desgosto no rosto do jovem mosqueteiro. - Vamos, se beber rapidamente nem vai sentir o gosto.

A Ilha WalgonreiOnde histórias criam vida. Descubra agora