Encaro a parede com um olhar vazio, quase tão vazio quanto a dor pulsante no meu peito. Meus olhos estão ardendo e eu posso sentir a trilha úmida que as lágrimas deixaram pelas minhas bochechas. Meu celular não para de tocar e eu sei que é Luke. É sempre ele. Dizem que quando você ama alguém e essa pessoa não é, como dizem, a pessoa perfeita pra você, você a molda até que ela seja. Eu fui idiota de achar que podia fazer isso com ele.
Desde o primeiro dia Luke me conquistou, seus olhos azuis, aquele maldito piercing que me deixava louca e aquele sorrisinho que me fazia querer beijar ele o tempo todo. E quando ele disse que sentia o mesmo por mim, foi como um sonho, achei que nós teríamos o relacionamento que eu fantasiava de madrugada quando não conseguia dormir. Mas foi só isso que foi: um sonho. Um sonho lindo, mas longe da realidade.
- Samantha! Abre a porta! Por favor! Eu posso explicar! - sua voz ecoa pelo apartamento, junto com as batidas fortes na porta. - Por favor!
Não vou abrir a porta, não mesmo. Não posso correr o risco de deixar ele entrar e me ganhar de novo. Por isso tiro meu celular do bolso e disco o número dele. Luke atende no primeiro toque.
- Amor, abre a porta.
- N-não. - minha voz sai baixa demais e eu preciso tossir. - Não.
- Sam. - ele bufa. - Pelo amor de Deus, você tá sendo dramática.
- Dramática? - solto uma risada amarga. - Eu pego a porra do meu noivo aos beijos com uma vagabunda e eu sou dramática? Nossa, Luke. Você é mesmo a porra de um filho da puta!
Ouço o soluço seco que ele solta, surpreso com o meu ataque e sinto a dor no meu peito diminuir. É bom saber que eu to machucando ele tanto quanto ele me machucou.
- Samantha, por favor - choraminga. - Não é o que você tá pensando! Ela que me beijou!
- Assim como aquela garota no bar, a seis meses? Ou aquela sua prima misteriosa no natal? Ou a sua assistente?
Ele solta um grunhido, definitivamente não esperando que eu soubesse de todos os seus casos e é isso que dói mais, eu o amava, eu o amei, tanto que ignorava tudo. As mensagens, as fotos, porra, até o que minha própria mãe me falava. "Ele vai mudar, mãe. Ele me ama.", eu costumava a dizer.
E a pior parte é que eu acreditava na minha própria mentira. Eu achei que se o amasse o bastante, que se eu me doasse o bastante, ele iria parar. E foi exatamente o que eu fiz, eu o amei tanto que acabei me destruíndo e o que eu ganhei em troca? Fui obrigada a ver ele dando meu amor para outras.
- Amor. - sua voz não passa de um sussurro ofegante. - E-e-eu... Como?
- Para alguém tão grande seu cérebro é bem pequeno, hein? - rosno, praticamente, espumando veneno. - Eu não sou idiota, Luke! Eu sabia, eu sempre soube! Mas fui burra demais achando que você ia parar! E você não parou! Você nunca parou!
- Samantha. - insistiu.
- Eu te amei! Eu te amava e você me traía! - gritei, não conseguindo mais segurar o choro.
- Me desculpa! - grita entre soluços.
- Você é um filho... - suspirei. - Você é tão falso, que me enoja. - sussurro, com desprezo escorrendo na minha voz. - Para de chorar! Para de fingir que sente muito! Você não sente e sabe disso!
- Me escuta, por favor! Eu não sei porque eu fiz aquelas coisas, eu não sei! Eu tava tão cansado da rotina e achei que pudesse segurar um relacionamento.
- Aí se cansou de mim também e resolveu me trair? Nossa, que ótima explicação. Até me sinto menos corna agora.
- Quem é você? - ele sussurra depois de alguns segundos, parecendo assustado. - A minha Sam nunca diria essas coisas.