Eu tentava conter minhas lágrimas. Não era justo mostrar minha face fraca para quem sempre me dava forças. Dentre alguns minutos Shawn chegaria e talvez, com algumas palavras, eu conseguisse ver que nem sempre a culpa era minha. Sabe aquele amigo que você tem, que serve pra toda, e qualquer, hora? Que está sempre disposto a te aconselhar, te consolar, ou só te fazer rir, quando tudo vai de mal a pior? Esse era Shawn Mendes pra mim. Eu o conhecia desde minha feliz infância e, de lá pra cá, muitas coisas mudaram, inclusive o "feliz" para "triste". Droga de adolescência, droga de vida, droga de família, droga de ex namorado.
Pode parecer tosco, mas era por isso que eu queria chorar, a droga do meu ex. Eu me perguntava o que eu fiz de errado, por que isso tinha de acontecer. As palavras dele ditas naquela tarde ensolarada ecoavam na minha mente, e a cada palavra pronunciada, facadas e mais facadas se cravavam em meu peito. Eu não conseguia acreditar, a culpa era minha? Sim a culpa era minha. Precisava ter sido tão doloroso e humilhante?
"Você acha mesmo que eu te amei, garota?"
Uma lágrima involuntária rolou pelo meu rosto.
"Você foi a pessoa mais otária que eu conheci em toda minha vida"
Logo mais lágrimas escaparam, mas isso não era comparado a dor que eu estava sentindo.
"Qualquer garota aqui é melhor que você"
Não isso não podia ter acontecido, eu estava num pesadelo só pode, não, não.
"E se você ainda não se tocou, está acabado, ou melhor, precisava existir pra acabar"
A risada que ele soltou depois de jogar tudo pro ar. Ah, isso eu nunca iria esquecer, eu preferia morrer, aliás por que eu ainda estava viva? Eu sou péssima, eu não sabia como conter minha dor, que era muito pra mim, eu nunca quis passar por isso, quando eu finalmente achava que as coisas podiam dar certo, acontecia isso. Eeu não aceitava, eu não suportava.
Corri até o banheiro e vi o estado detestável que eu estava, eu sentia nojo de mim, nojo da minha vida, nojo da minha existência. Eu posso estar sendo infantil ou tosca, mas era a verdade. Para uma pessoa me dizer tudo isso, sem o menor remorso no olhar, essa era a única explicação, já bastava minha mãe me lembrando disso todos os dias, que eu sou mais um fardo, eu tive também essa confirmação, vinda de uma das pessoas que eu mais amava em toda minha vida. O universo jogava tudo isso pra mim, pra mostrar que nada importava, que, no final, o que aconteceria era a morte, degradação. Que, depois de uma merda de vida cheia de decepções, maldade, depois de tantos demônios enfrentados, nós estávamos destinados a mais amargura, era isso que me esperava, mas eu podia facilitar, eu podia acabar com tudo isso.
Meu choro ecoava pelo banheiro e eu não me importava mais de conter o que tinha em mim, eu soluçava, mil e um pensamentos de como acabar com tudo aquilo passavam pela minha cabeça, eu conseguiria mesmo enfrentar tudo isso? Eu poderia sorrir de novo? E o mais importante, essa ferida gigante se curaria?
Eu deslizei pela parede, caindo no chão e me curvando, eu ficava sem ar, eu não tinha forças pra nada, eu poderia vegetar no chão daquele banheiro até o resto da minha vida. A visão estava embaçada, pra mim nada importava mais, nada, nada. Vi alguns vultos e uma voz desesperada chamando pelo meu nome. Logo braços fortes e aconchegantes me abraçaram, eu sabia quem era. Uma parte de mim pedia para que ele fosse embora e me deixasse jogada ali, naquele chão frio, e a outra pedia para que ele me abraçasse mais forte. Logo ele me levantou, ainda me abraçando, eu sentia seu abraço quente tentando me proteger de mim mesma, sua respiração rápida batendo contra minha cabeça, o coração dele batia rápido. Eu me aconcheguei mais em seus braços, ainda chorando, ele não me perguntava o que tinha acontecido, não dizia palavras vagas, como "Vai ficar tudo bem, calma", ele só sussurrava "Calma, eu estou aqui agora, não vou deixar mais nada de ruim te acontecer".