CAPÍTULO QUATRO

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O som do meu bip me despertou de meu transe e eu dei uma última olhada na tela antes de verifica-lo.

— Jhon, eu preciso ir, tenho uma emergência, depois eu acerto com você.

— Relaxa, Dulce. Vai lá.

Então eu disparei novamente para a ala pediátrica, quase esbarrando em algumas pessoas que ficavam paradas no corredor. O fato de o elevador estar no último andar me fez instantaneamente subir a escada correndo até o quinto andar.

— Sophia, o que temos?

Perguntei e ela já veio me entregando a ficha. Como se houvesse uma parede invisível à minha frente eu travei. Aquilo só podia ser coincidência. Uma péssima coincidência.

— Santiago Von Uckermann, doze meses. Acompanhado pelo pai, Christopher Von Uckermann.

Eu não percebi como eu estava trêmula até que deixei as folhas caírem no chão.

— Dulce, está tudo bem?

Ela perguntou e eu não consegui responder. Minhas mãos formigavam, minhas pernas pareciam não ter força e tudo ao meu redor parecia estar girando.

— Dulce, é uma emergência!

A palavra "emergência" me despertou fazendo-me voltar ao ambiente que eu estava. Peguei novamente as folhas e saí em direção ao quarto indicado. Não sei como eu consegui atende-lo, porque eu mal conseguia enxerga-lo à minha frente. Eu estava tonta, completamente fora de órbita. E Christopher estava lá, ao lado dele o tempo todo, tão atônito quanto eu, e eu não sabia dizer se estava preocupado com aquela criança, ou com o que eu estaria pensando.

Quando consegui estabilizá-lo, eu saí de lá. Era como se eu fosse desabar a qualquer instante, mas nem isso eu consegui. Sentia como se tivesse levado um soco bem no alto da barriga. Sentia náuseas, sentia ódio.

— Tudo bem, quando o resultado dos exames chegarem, me informe Sophia.

— Não vai conversar com o pai?

— Não. Não agora, eu preciso respirar.

— Não foi tão ruim assim. Já atendeu crianças em situações piores.

O garoto tinha sofrido convulsão e depois uma parada cardíaca, mas passava bem. Pelo que li na fixa, os sintomas eram o mesmo da virose, porém eu não tinha atendido nenhuma criança em emergência.

— Está tudo bem, está tudo bem...

Eu repeti inúmeras vezes enquanto andava na minha sala de um lado para o outro por quase uma hora seguida e eu não conseguia parar de tremer.

— Dulce, posso entrar?

Kelly perguntou colocando apenas a cabeça para dentro da porta. Eu assenti e continuei andando de um lado para o outro, incapaz de me concentrar e me aquietar.

— O que aconteceu lá? — Como eu não respondi, ela continuou. — Me disseram que você hesitou. O que aconteceu?

— Eu não posso, eu não posso.

— O que houve? Você já atendeu casos mais delicados, porque isso agora?

— Não, não é o caso, e sim quem. Eu não posso Kelly, eu não posso. Não com ele.

— Para de andar e me conta o que está acontecendo. — Disse, começando a ficar impaciente. Era raro vê-la falar dessa forma, mas ela parecia nervosa e preocupada, não sei se comigo, com o paciente que eu poderia ter perdido, ou com os dois.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora