CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO

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Afastei-me dela quando os bombeiros chegaram. Alice seguia chorando a todo vapor e aquilo estava me irritando. Vê-la naquela situação sem poder fazer nada, era cruel demais para mim.

  — Há quanto tempo ela está assim? — Perguntou um dos dois bombeiros que estavam presentes. 

  — Eu não sei. Uns quarenta minutos, eu acho... só... tira ela daí, por favor.

— Tentaram puxá-la?

— Claro, mas ela gritou. Tava machucando ela.

—  É minha culpa, eu não a vi sair. —  Christopher começou a falar. —  Foi alguns minutos apenas, eu só estava de costas.

— Tira ela, por favor. —  Pedi, sentindo meus olhos ficarem inundados. —  Tira minha filha daí.

— Senhora, a gente vai tirar sua garotinha, tá bom? Deixa a gente trabalhar agora.

— É, Dulce, vamos lá fora um pouco, você precisa respirar um pouco.

Christopher tocou meu braço, mas eu me afastei. Estava brava com ele, e naquele momento eu não o queria perto de mim. Olhei mais um pouco para Alice e em seguida sair em passos largos.

Foram trinta e sete minutos. Trinta e sete minutos longos e assustadores, até por fim eu ter minha filha em meus braços novamente. Trinta e sete minutos de tortura, enquanto os bombeiros quebravam cuidadosamente a privada, pois seria o único jeito de tirá-la de lá sem machucá-la.

  — Pronto, amor, já acabou. —  Enxuguei o rostinho dela e dei alguns beijos em sua cabeça. —  A mamãe tá aqui, agora, tá?

Depois de dar um banho nela e vesti-la com roupas limpas, fiz a mamadeira dela e ficamos as dias deitadas na minha cama e enquanto mamava, ela me encarava e s gurava a manga da minha blusa. Eu sabia que aquilo tinha a traumatizado e que seria difícil convencê-la a usar o vaso sanitário por um bom tempo. Não seria uma tarefa nada fácil.

Fiquei um tempo observando ela tomar o leite como quem estivesse com fome demais para tomar devagar. — Vai com calma, filha. Você vai se engasgar. — Disse, enquanto arrumava o cabelo desajeitado dela.

O tempo que fiquei ali, usei para pensar no que estava acontecendo. Como minha vida tinha mudado tão repentinamente. Se Christopher não tivesse voltado, provavelmente eu estaria sozinha com minha filha no meu pequeno e aconchegante apartamento, mas ao contrário disso, estava vivendo el uma casa enorme, com Christopher e... Santiago.

Esperei Alice dormir e fui ver como ele estava. Já acordado, porém ainda quieto no berço, brincando com um carrinho. Vendo-o assim me fazia pensar como duas crianças que viviam juntas podiam ser tão diferentes? Alice quando acordava não parava de gritar ou chorar enquanto não a tirássemos do berço, enquanto ele não fazia questão alguma de sair dele. Eles eram diferentes demais. Não se pareciam em absolutamente nada. Nem física nem emocionalmente.

Quando me viu ali parada na porta, ele deixou o carr nho de lado e se levantou, já abrindo um sorriso e dançando dentro do berço.

— Quanta animação pra quem acabou de acordar! — Fui até ele e o peguei no colo. — Tá com fome? Hum? O que acha de comer e ir passear com a mamãe?

— Passear? Onde vamos?

Olhei por cima do ombro e vi Christopher parado na porta segurando uma mamadeira. Soltei um suspiro leve e voltei a dar atenção a Santiago, que agora mexia curiosamente no pingente pendurado em meu pescoço.

— Vai ficar me ignorando?

— Não vamos a lugar algum. Eu vou! — Falei, tentando manter a calma. Eu estava com um total de paciência zero para ele, e o que aconteceu com Alice só fez piotat ainda mais a situação.

Desci até o jardim e fiquei lá, sentada na cama de gato, com Santiago em meu colo, observando o sol se pôr enquanto ele mamava.

Christopher não tentou falar comigo, pelo menos não até eu colocar as duas crianças no carro, entrar no banco do motorista e ligar o motor.

Senti meu coração acelerar quando ele bateu um pouco forte na janela do lado do carona, e antes que eu pudesse pensar em travar a porta, ele entrou.

— O que tá acontecendo?

— Nada!

— Caramba, Dulce! A gente... a gente tava indi tão bem e agora você simplesmente ficou estranha.

— Eu só quero ficar sozinha um pouco, será que eu posso? — Segurei firme o volante el minhas maos e olhei pelo retrovisor. No banco de trás Alice ainda dormia, e Santiago estava vidrado na tela onde pssava algum desenho animado. Seus olhos castanhos brilhavam apesar da pouca luminosidade e seu sorriso... aquele sorriso eu conhecia.

— Dulce?

— O que é? —Gritei, sentindo-me irritada demais. No banco de trás os dois se assustaram e Alice, como eu já podia prever, começou a chorar.

— Caramba, dá pra agir como adulto?

— Sai da porra do carro, Christopher! Eu não quero ver você, será que não entendeu ainda? — Alterei ainda lais a minha voz. Eu sentia meu sangue ferver em minha pele, e minhas mãos pareciam não ter mais controle.

— O que é que eu fiz pra você estar tão brava comigo? Só por que me descuidei por um minuto da Alice? Ah... você tá estranha não é de hoje, acho que isso é só uma desculpa.

— Puta que pariu, eu já pedi pra você sair daqui. Me deixa em paz! — Fechei meus olhos, tentando manter a calma. Eu não ia começar a falar, não naquele estado. Não sem ter a certeza.

— Eu saio, mas você não vai sair com meus filhos, ok?

— Ouse tirar os dois daqui pra você ver. Ouse!

— Vamos ver então.
Ele saiu do carro, disposto a pegar os dois, mas antes mesmo que ele fechasse a porta da frente, eu arranquei. O arranhão na porta fora inevitável, mas eu não me importei.

Não me importei com ele tentando se jogar na frente do carro enquanto eu manobrava o carro para fora da garagem, eu simplesmente fui. Esperei ter uma distância boa da casa e fechei a porta que estava aberta.

Quando cheguei ao meu destino final, eu sabia que meu anjo da guarda era forte. Eu não conseguia prestar atenção em nada do que estava fazendo, só sabia que eu precisava chegar lá.

Saído carro, sentindo-me trêmula demais, e caminhei até o portão marrom. Lá, meu dedo custou encontrar o botão do interfone.

— Quem é?

— So...sou eu... a Dulce!

— O que houve? Você tá bem?

— Só abre pra mim, por favor!

— Eu já vou.

Escorei-me na parede, escondendo o rosto em meu braço. Tinha algo preso em minha garganta, e já estava doendo demais, talvez fosse hora de sair. E saiu! No instante em que Christian tocou meu ombro, eu desabei.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora