CAPÍTULO CINQUENTA E OITO

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Ali sentada na cama, agora enrolada em um cobertor e ajnda tremendo de frio fiquei olhando para Christopher que andava de um lado parano outro no quarto, com o telefone na mão ligando para Alfonso.

Contei a ele exatamente o que tinha acontecido e depois de ficar um tempão em silêncio, ele simplesmente surtou e eu nunca o vi tão bravo com a mãe dele como estava vendo naquele instante.

— Mas que droga, ele não atende o celular. — Ele jogou o celular na cama e passou a mão pelo rosto.

— Chris, ele deve estar ocupado.

— Caramba, por que é tão difícil as coisas darem certo?

— Eu não sei. — Me encolhi, sentindo-me culpada. Eu munca devia ter ido lá.

— Eu vou... eu vou lá em baixo, tenho que dar comida pros dois, já passou da hora.

Olhei para Santiago e Alice que brincavam distraidamente no chão com alguns brinquedos e depois para Christopher que agora desaparecia porta a fora. Eu sabia que ele me culpava, ainda que não admitisse isso, e eu não podia de modo algum julgá-lo por isso, aliás, por que diabos eu precisava meter meu nariz ali? Se eu tivesse dito não a ela, tudo seguiria igual agora.

Depois de colocar os dois para dormirem eu fui me deitar sem nem mesmo jantar. Fiquei um tempo longo rolando na cama de um lado para o outro até o sono finalmente aparecer e eu domir feito uma pedra.

No dia seguinte acordei com o som do despertador. Notei então que Christopher nem mesmo tinha passado a noite ali, percebi isso pelo modo como o lado dele na cala estava impecavelmente arrumado e frio.

Tomei um banho quente, e depois de me arrumar para o trabalho desci até o andar de baixo. O único som que ouvia parecia vir da cozinha, trazendo consigo um cheiro bom de café e bolo.

Chegando lá, vi Christopher tirando uma forma do forno e soltando-a na pia, fazendo careta de dor, provavelmente por que estava queimando a mão.

— Ai, ai, ai!

Alice e Santiago que estavam sentados em seus respectivos cadeirões começaram a rir do sofrimento do pai. — Bom dia.

Desejei, ainda um pouco sem graça. Christopher olhou para mim, desfez a careta e estendeu a mão para mim. — Está mais calma?

Fui até ele enquanto fazia sinal positivo com a cabeça. — E você?

— Eu estou bem. Fiz um bolo, come agora que tá quentinho.

Olhei bem para o rosto dele. Ele parecia exausto, como quem não tinha dormido em momento algum durante a noite.

— Onde você dormiu?

— Eu não dormi. Desculpa não ter ido pra cama, não queria atrapalhar você.

— Vai ficar tudo bem. Tem que ficar. — Dei um abraço apertado nele. — Ele é nosso filho, ninguém pode tirar ele da gente, né?

— Eu estou torcendo por isso.

— Ninguém vai separar nossa família. — Roubei um selinho nele. — Vou comer algo, preciso ir trabalhar, mais tarde a gente conversa melhor.

— Tá.

Foi difícil tentar esquecer toda aquela situação enquanto trabalhava, mas necessário.Eu precisava aprender a nunca levar meus problemas pessoais até meu emprego, até porque eu já tinha falhado demais.

Tentei ocupar-me o máximo que pude enquanto estava lá, e nas horas vagas entre uma consulta e outra eu sempre arrumava algo para fazer. O ruim foi a hora do almoço, por que não consegui comer nada e fiquei lá no restaurante olhando para o meu prato, apenas tentando pensar em algo bom.

Depois do trabalho eu fui direto para a academia na esperança que os exercícios me ajudassem a relaxar e me permitissem uma noite mais tranquila.

Chegando em casa já na hora do jantar, topei com Christopher deitado no sofá, dormindo enquanto Santiago e Alice estavam presos no cercadinho assistindo TV, tão distraidos que nem perceberam minha presença. Ele provavelmente não dormiu durante o dia e devia ter chegado na exaustão.

Sentei-me na beirada do sofa e deu um beijo na bochecha dele. — Chris? — Chamei-o com a voz baixa — Amor, vai deitar na cama, vai.

— Eu tô acordado. — Ele resmungou, virando o rosto para o canto. A última coisa que ele estava era acordado e dava para perceber isso na respiração pesada dele que quase simulava um ronco.

— Eu cuido deles. Eles já comeram? — Ele não respondeu. Soltei um suspiro e fui até a cozinha.

Estava tudo impecavelmente limpo e arrumado, com exceção aos pratos e copos de Santiago e Alice no escorredor, o que significava que ele já tinha dado o jantar dos dois e que ele não tinha comido ainda.

Coloquei um macarrão para cozinhar a subi para tomar um banho rápido. Quando desci, já estava no ponto. Fiz um molho simples e servi dois pratos, levando-os até a sala.

— Christopher, acorda, vai. — Coloquei os pratos na mesa de centro. — Eu fiz macarrão pra gente.

— Eu estou sem fome. — Respondeu sem nem mesmo abrir os olhos.

— E daí? Eu fiz, agora vai comer.

— Não pedi pra você fazer.

— Ok! Dá pra parar com isso? Não vai começar com isso, né? Eu tô cansada, você também, então, ou a gente conversa ou a gente ignora isso, mas ficar aqui nessa situação não dá.

Passei a mão pelo rosto, sem paciência alguma. Sem falar nada ele se sentou no sofá esfregando os olhos, depois pegou um dos pratos e começou a comer, rápido demais para quem não estava com fome.

— Você devia ir falar com sua mãe.

— Não foi preciso, ela veio aqui.

— Oi? — Olhei para ele que agora enchia a boca com mais uma garfada de massa. — Vocês brigaram, né? Por isso tá assim.

— O cara vai querer a guarda dele. — Disse depois de engolir. — Ele quer um teste de paternidade.

— Tá falando sério? — Ele assentiu, olhando fixamente o chão e então vi seu rosto se molhar. Aquilo partiu mei coração.

Peguei o prato da mão dele, coloquei de novo na mesa de centro e o puxei para se deitar em meu colo. — Eu não quero perder meu filho, Dulce. Ele é um pedaço de mim.

— A gente não vai perder ele. — Fiquei acariciando seis cabelos ondulados. Estavam grandes e bagunçados e eu adorava quando ficava assim. Há alguns anos eu costumava dizer que ele parecia um ursinho quando estava nessa situação.

— Eu chamei o Poncho, ele disse que vem aqui amanhã. Não sei se ele pode ajudar.

— Christopher, a gente vai mover céus e terra para ter ele com a gente. Não é justo esse cara aparecer agora e tomar o Santi da gente, tá? Você cuida dele desde que ele nasceu, você é o pai dele.

Segurei firme o choro, precisava ser forte por ele. Depositei um beijo em sua testa e fiquei ali, apenas acarinhando sua cabeça enquanto ele chorava feito uma criança. Chorou até pegar no sono novamente.

Com todo cuidado do mundo para não acordá-lo, saí do sofá e fui preparar a mamadeira dos dois, que já estavam começando a se irritar por ficarem presos tempo demais.

Peguei os dois e levei para o andar de cima. Troquei a fralda de cada um e deixei eles no quarto de brinquedo enquanto tomavam a mamadeira. Sentei-me entre as almofadas e fiquei lá com eles, segurando para nao dormir.

A noite não foi muito confortável, porque no final, fui vencida pelo cansaço e acabei apagando ali mesmo. Sorte a minha os dois terem se comportado e quando o sono bateu, eles deitaram ali comigo.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora