PREFÁCIO

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CDMX - julho 2015

O mal-estar tornou a tomar conta de mim e eu mal podia me concentrar nos livros à minha frente levando em conta que há poucos metros de mim, dentro do bojo da pia do banheiro encontravam-se três testes de gravidez. Eram apenas quinze minutos de espera que parecia se tornar uma longa e interminável hora.

Levantei-me quando senti minha garganta queimar e corri para o banheiro, onde logo em seguida me pus a vomitar pela terceira vez no mesmo dia. Quando me dei conta pela manhã que eu poderia estar grávida, não hesitei ao sair da universidade e ir direto a uma farmácia.

Aos vinte e quatro anos estou no primeiro ano de residência em pediatria. Moro sozinha em um apartamento que ganhei do meu pai quando passei no vestibular aos dezoito anos, ao leste da Cidade do México e namoro Christopher desde os vinte anos de idade. Nos conhecemos quando eu ainda estava no colegial e ficamos algumas vezes, mas apenas firmamos isso quando já éramos adultos suficiente para levarmos uma relação a sério.

Assim que terminei de limpar o estômago eu dei descarga e me dirigi à pia. Antes que pudesse abrir a torneira eu vi os três testes de marcas diferentes indicando que tinha dado positivo. Não sei dizer bem o que senti naquele instante, pois, apesar de já ser adulta eu ainda tinha mais de um ano de estudo pela frente e tecnicamente, mesmo já morando sozinha e estagiando remunerada em um hospital, parte das minhas despesas eram pagas por meu pai.

Christopher tem doutorado em Ciências contábeis e se formou no ano interior. Ele também mora sozinho em um apartamento há pouco mais que dez quilômetros do meu e combinamos que somente nos encontraríamos aos fins de semana ou quando eu estivesse mais tranquila com os trabalhos da faculdade. A não ser que fosse para uma emergência.

Cerca de duas horas depois eu me vi na casa de meus pais. Minha mãe sempre foi um tanto liberal, mas eu não fazia ideia de como ela e meu pai reagiriam à notícia. Eu tenho duas irmãs, a mais velha se casou e vive perto de minha mãe, mas a do meio vive na Itália, junto com minhas duas sobrinhas e o marido.

— Mamãe, o papai já chegou?

— Já sim filha, ele está tomando banho.

Assenti e me sentei à sua frente na mesa da cozinha. Ela começou a servir um pouco de café preto para mim e para ela, mas quando ela me empurrou a xícara eu me afastei. Passei o dia inteiro apenas com água e biscoito água-e-sal. Não estava aguentando sentir cheiro de nenhuma comida ou bebida.

— Não quer?

— Não.

— Você sempre quer café.

— Eu sempre preciso de café.

Suspirei e olhei no relógio. Comecei a tamborilar meus dedos sobre a mesa de madeira à minha frente e a fiquei olhando tomar um pouco do líquido quente.

— Tem falado com a Claudia?

— Ela ligou hoje. Disse que a Alessia está começando a andar.

— Sério?

— Sim. Ela mandou umas fotos por e-mail hoje, e caramba, as duas estão enormes.

— Imagino. Ela vem esse ano passar o Natal?

— É provável. Vai depender se o Andrea estiver de férias, sabe como é né?

— É, sei sim. Estou morrendo de saudades daquelas duas.

— Nem me fale. E você? Como está? Tem se alimentado bem?

— Sim.

— Ora, ora! Olha quem resolveu tirar um tempo para os dois velhotes aqui.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora