CAPÍTULO SESSENTA E SETE

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Eu sempre ouvi falar que devíamos aproveitar os momentos que vivemos, por que não sabemos quanto tempo eles podem durar, mas quando as coisas tão indo bem, você não consegue parar para imaginar que um dia, de alguma forma trágica, tudo aquilo pode se desfazer.  Os risos ouvidos, o abraço sentido, o olhar, o cheiro... são o tipo de coisa que, apesar de nunca esquecermos, são coisas que podem facilmente serem levadas para longe, e eu estava prestes a passar por essa fase completamente desagradável.

Lá estávamos nós, Ana sentada no banco de trás do carro, enquanto olhava distraidamente a cidade passar do lado de fora. Santiago estava ao seu lado, também distraído com o filme do Rei Leão que passava no tablet preso à parte de trás do meu banco. Ao meu lado, Christopher dirigia silencioso, e sem sequer olhar para mim momento algum.

Nossa manhã não começou muito bem. Ambos irritados e exaustos de não conseguir pregar o olho durante a noite, talvez por medo de que se fechássemos os olhos, o tempo passasse mais rápido, e, para melhorar a situação, a gente teve uma discussão feia, por um motivo completamente banal antes de sairmos de casa para deixar Alice na casa dos meus pais.

Tínhamos que estar no tribunal às onze horas para a audiência final, e como nos foi ordenado, precisávamos levar nosso garotinho junto, pois, dependendo do resultado, ele sequer voltaria com a gente para a casa, motivo pelo qual tínhamos uma mala com roupas, fraldas e alguns brinquedos dele no porta malas, coisa que Christopher fez questão de arrumar sozinho.

Chegando no tribunal, Alfonso já estava lá, parado na entrada do prédio, conversando com alguns conhecidos. Quem olhava aquele homem, engravatado e bem engomado não imaginava o quanto a gente já tinha aprontado na vida. Nós seis sempre fomos muito amigos, desde criança aprontávamos tudo que se podia imaginar, e piorou bastante na adolescência, e agora éramos adultos. Adultos sérios e com problemas mais sérios ainda.

Saí do carro e arrumei minha saia. Eu odiava usar roupa social, mas precisava estar bem apresentável naquele dia, assim como Christopher, que também vestia uma roupa social impecável. Ele ficava lindo vestido assim, mas gostava mais quando ele tinha um sorriso no rosto.

Christopher saiu do carro e depois foi pegar o filho no banco de trás, antes mesmo que eu pudesse alcança-lo. Era como se ele não me quisesse perto do menino, mas no fundo eu entendia. Não estaríamos ali se não fosse por mim, e era ele quem tinha que estar com Santiago naquele momento.

Sem ter muito o que fazer, fui ajudar Ana com as coisas do menino. Peguei a bolsa dele, e o ursinho que eu o havia dado quando ele foi no meu apartamento pela primeira vez. Ele adorava aquele brinquedo, e muitas das vezes recusava-se a dormir sem ele. Vi que Christopher já tinha se dirigido à entrada e então o segui em silêncio enquanto olhava Alfonso estender os braços para o menino, mas ele se recusou a ir no colo dele.

— Bom dia, Poncho. — Desejei quando me aproximei deles.

— Bom dia meu anjo, como você está?

— Bem... — Desviei meu olhar. — Alguma novidade?

— Não. Bom dia Ana. Vamos entrar? Já está quase na hora.

— Tá.

Ele nos levou até o corredor de acesso ao local onde seria a audiência, e então deixamos as coisas no banco. Explicou-nos então que Ana ficaria em uma sala reservada com o menino enquanto a audiência ocorresse, acompanhada de uma assistente social e um guarda policial, para evitar futuros conflitos, e que, caso Matias ganhasse a guarda definitiva do menino, teríamos alguns minutos para nos despedirmos antes dele o levar.

— Agora precisamos entrar. Já vão dar início a audiência.

— Eu não vi o Matias e a Advogada dele ainda.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora