CAPÍTULO SESSENTA

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Sentei-me em uma das espreguiçadeiras enquanto tomava um pouco de chá que Christopher me obrigou a tomar, enquanto observava ele e Alfonso brincarem no gramado com as crianças e o novo cachorro. Anahí se sentou na beirada, observando a afilhada e Santiago rirem animadamente enquanto rolavam no chão.

  — Acho que o Christopher acertou em pedir o cachorro. Hoje eles dormem cedo.

— Maravilha! Tô precisando de um tempo a sós com o Christopher.

— Danadinha! —  Ela deu um tapa leve na minha perna e eu revirei os olhos.

— Mente poluída, não é por isso. —  Ela me fitou e eu balancei os ombros, tomando mais um gole de chá. —  Tem tanta coisa a ser conversada.

  — Você quer conversar? Sabe que pode falar o que quiser comigo, né? —  Assenti. —  Eu não sei muito bem o que houve, o Poncho não me contou tudo. Ele não costuma de assuntos profissionais, por que é coisa de cliente, sabe...

  — Pensei que ele tinha dito, por que são nossos amigos, né? Mas enfim... —  Olhei os quatro brincando. —  Eu descobri que o Christopher nunca me traiu, Annie, tem noção de como tô me sentindo? 

—  Ah, Dulce, não é por que o Santiago não é filho dele que significa que ele não te traiu.

— Não, Annie. Ele realmente não me traiu. — Mordisquei o lábio inferior. —  Eu descobri o que houve aquele dia, e vai por mim, ele é tão vítima quanto eu, na verdade, acho que foi pior pra ele.

— Não entendi. O que houve naquele dia, Dul? Ele bebeu, não bebeu? O que a Natália tava fazendo na casa dele? Na cama dele?

— Ele bebeu sim, um copo de suco com sonífero dentro. Eu vi os vídeos da câmera de segurança daquela noite, e vai por mim, nada do que ele tenha feito foi por que quis. Ele tava quase inconsciente e duvido que ele tenha transado com ela. 

— Então... ele foi dopado? —  Assenti. —  Nossa! E eu que pensei que ele não tinha mudado.

— Ele ía me pedir em casamento, sabia? —  Minha voz falhou, mas que diabos eu tava tão sensível? —  Saiu sim para beber com uns amigos, mas ele não bebeu, nem mesmo estava lá mais quando eles chegaram. Foi tudo rápido demais, pelo que me contaram.

— Caramba, Dulce, eu não sei o que dizer. —  Ela fitou o chão e vi suas bochechas corarem levemente. —  Acho que devo desculpas a ele, né?

— Vai por mim, não é você que deve desculpas a ele.

—  O quê? —  Ela me olhou incrédula. —  Espera, você não podia nem sonhar nessa possibilidade, né? O que você viu... quem imaginaria?

— Eu sei, mas mesmo assim. Ele dizia que não se lembrava e eu não conseguia acreditar. Escondi a Alice dele até ele descobrir de uma maneira nada agradável, eu quis que ele morresse e odiei ele ter voltado e trazido um filho junto. Eu falei coisas horríveis pra ele, e no final, ele é completamente inocente de tudo. 

—  O que importa é que agora vocês estão juntos, né? Você perdoou ele sem saber que isso tudo era uma mentira, isso é o que conta.

— E eu continuo fazendo merda. 

  — O que você fez, Dulce Maria?

— Resumindo tudo? Se não fosse por mim, a gente não estaria assim agora. Já sabíamos que o Santi não era filho de sangue dele, por que a mãe dele fez um teste de DNA sem nossa autorização, eu fiquei brava, o Chris também e proibimos ela de ver a Alice. Ela enlouqueceu, foi atrás pra saber o que houve e me chamou pra conversar, e eu, ingênua, fui. Acabei entregando tudo, por que no final, o cara que ela descobriu que sabia da história toda, é ninguém mais, ninguém menos que o pai biológico do Santiago. 

— Caralho, o que tu foi fazer lá, menina?

—  Pois é. Eu até tentei sair, mas ele viu a foto dos dois com o Christopher no meu celular, e depois eu saí, ou melhor, fugi. A Alê veio atrás de mim, e acabei gritando e me entregando. O cara ouviu.

— Putz! O Christopher deve tá uma fera com a mãe dele.

— Tá brincando? Ele não quer nem ouvir falar na mãe, e tenho certeza que ele tá se segurando para não falar umas boas verdades pra mim.

— Ah, mas você não imaginava que ela ia fazer isso né? Se você não fosse, talvez ela mesma contaria do menino. Você só... estourou.

— Sim, mas e daí? No final, quem falou fui eu, e não ela, então parte da culpa é minha. Eu não devia ter ido lá e agora eu vou fazer ele perder o Santi. 

—   Vocês não vão perder ele, vai dar tudo certo, e pare de se culpar, tá bom? Se a Alexandra não tivesse feito isso de ir atrás da história, vocês estariam bem.

— Claro! —  Desviei o olhar até o chá. —  Eu não quero mais beber isso, não tá gostoso.

— Não é pra ser gostoso, é pra você não surtar e sofrer um pirepaque de novo. 

— Eu estou bem. 

—   Harram! Você tava chorando a hora que eu cheguei, só não comentei.

— Hmm... é que pediram o exame de paternidade e eu surtei. Por falar nisso... —  olhei para Christopher que agora estava deitado no chão, com Santiago sentado em cima de sua barriga. Mesmo de longe era possível ver o modo como ele olhava para o filho, um misto de amor e medo.    —  eu acabei descontando a raiva nele, como sempre, por que é isso que eu faço. Disse que a culpa era dele.

— Caramba, mas você também, hein? Podia segurar sua língua dentro da boca às vezes.

— Eu tava com raiva, sei que ele não tem culpa.

— Vocês deviam voltar pra viagem, estavam ótimos lá. Ah, sei lá, como vocês estão sexualmente? — Ergui minha sobrancelha, aliás, a gente não conversava muito sobre isso, pelo menos há um bom tempo.

— Devíamos ter ficado por lá mesmo, e levado as crianças pra lá. Mas nem tudo dura pra sempre, né? —  Forcei um sorriso. —  A gente não tem feito desde o que aconteceu, sei lá, tudo que a gente faz é ficar calado, cada um num canto, dando atenção para as crianças, e eu tô sempre cansada demais, então qualquer brexinha, eu durmo. 

— Vish, tá precisando transar, amiga. Deve ser difícil, né? Dois bebês em casa.

— Dois empata sexo. Já perdi as vezes de quantas vezes estávamos quase lá e eles começaram a chorar. —  Ela deu uma gargalhada. 

— É por isso que desistir de ter filhos, pelo menos por agora. Gosto das minhas noites prazerosas com meu gatinho, então, enquanto puder adiar, eu vou. Já tenho minha afilhada linda e fofinha e que não atrapalha minhas noites de sexo.

— Você devia ficar à noite com ela, né? —  Ela negou e eu ri. —  Madrinhas são pra isso, Annie. 

— Tô fora! Você que fez, agora aguente. Ninguém mandou não usar camisinha.

— Dentro do armário de roupa da minha mãe.

—  Vocês têm problemas sérios, não é atoa que ela é uma peste. — Fiz um biquinho enquanto pensava. Ela tinha razão, talvez Alice fosse assim por que foi gerada em um momento muito fora do contexto. 

— Eu tô com fome. — Passei a mão na barriga involuntariamente. Com certeza já era mais de meio dia e tudo que eu tinha eram poucos goles de um chá nada gostoso no estômago. 

— Eu também, pensei que não ía comentar sobre isso, o que tem pra comer?

— Sei lá, acho que nada pronto. Vou ver o que tem pra fazer pra gente poder almoçar.

 

 

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora