CAPÍTULO QUARENTA E CINCO

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Apesar de estar olhando fixamente para o carpete impecavelmente limpo em baixo dos meus pés, eu podia ver Alice e Santiago, ainda que sem foco algum, brincando do outro lado da sala com Lucas, o cachorro Labrador de Christian. Eu queria sorrir da maneira que eles riam enquanto brincavam, mas naquele momento eu estava em choque.

— Toma, vai te fazer bem.

Olhei para cima, e então vi Christian parado, servindo em uma taça, um pouco de vinho tinto.

— Eu não posso beber. Estou dirigindo e tenho duas crianças para transportar.

— Dulce, querida! Eu sou seu amigo, lembra? Acho que você tá precisando disso aqui, e não é pouco. — Ele colocou a taça em minha mão. — Não se preocupe com os pirralhos, eles estão bem.

Soltei um suspiro longo e me rendi. Enquando eu beberricava o líquido, Christian se sentou na poltrona à minha frente enquanto me olhava, apenas esperabdo eu começar a falar.

— O quanto você conhecia a Natália? — Voltei a encarar o carpete, tentando não voltar a chorar.

— Por que isso agora?

— Só... me... responde. Eu... eu preciso de respostas.

— Dulce... pensei que tivesse deixado essa história pra trás.

— Eu preciso... — Minha voz saiu baixa. — Preciso saber o quanto ela conseguiu me dazer de idiota e burra todo esse tempo.

— Como assim? Eu não estou entendendo. — Minhas mãos começaram a tremer de forma incontrolável, a ponto de deixar a taça cair ao chão, fazendo o branco impecável tornar-se vermelho. Arregalei meus olhos vendo aquilo. — Calma, ta?

—Desculpa... eu... eu perdi o controle das minhas mãos.

— Relaxa. — Ele pegou minhas mãos e me fez encará-lo. — Me diz o que tá pegando.

— Você a viu depois do que houve? — Negou. — Ela... Christian, eu... ah meu Deus! Eu sou um monstro! Eu...

— Para de falar assim de você, Dulce! — Ele parecia estar se irritando. — A Natália nunca foi flor que se cheire, sabemos disso. Ela estava disposta ao que fosse para separar vocês dois, simplesmente porque ela era apaixonada por ele.

— Você não tá me entendendo. — Encuguei a lágrima que escapara do meu olho. — O Santi não é filho do Christopher.

— Oi?

— Ah, qual é? Vai falar que você também não desconfiava? A Annie, minha mãe, a Alexandra...

— Eu não faço a menor ideia do que você está falando. Dá pra explicar?

Puxei minhas maos de volta, peguei a garrafa de vinho agora posta sobre a mesa de centro e comecei a beber diretamente dela.

— No dia da festa da Ali, a mãe do Christopher me disse que o Santiago não é filho dele.

— Como ela sabe disso?

— Porque de alguma maneira ilegal, ela coletou DNA da Alice e do Santiago, sem minha permissão e fez o exame. Ela não gosta dele, então deve estar se sentind aliviada por não ter obrigações com ele agora. E caramba!!! Eu sei que não muda o fato de eu ter esse menino como meu filho, mas sei lá... eu estou apavorada.

— Mas se não muda nada, por que tá assim então?

— Você não conseguiu ver? — Ele negou. — Talvez o Christopher não tenha me traído, Christian... e talvez eu tenha destruído nosso relacionamento por algo que nunca aconteceu. Eu... talvez eu tenha sido a má nessa história toda e o Christopher apenas uma vítima. Eu escondi a Alice dele, fiz todos vocês mentirem pra ele. Por um momento entre o que houve e agora, eu quis que ele morresse por que achava que ele tinha me destruído. Eu quase matei a minha filha!

Christian tomou a garrafa da minha mão e me olhou com os olhos arregalados. Eu tinha falado demais! Desesperada, eu voltei a pegar a garrafa e como se estivesse apenas aquilo na vida, tomei tudo de uma vez.

— Eu acho que não deveria perguntar, né?

— Não muda nada! — Olhei na direção das duas crianças que estam, a todo custo, tentando montar no cachorro. — Eu continuo sendo um monstro. — Entreguei a garrafa vazia a ele e ele me olhou incrédulo. — Tem mais?  Por favor, eu tô mesmo precisando.

— Tá, mas só por que você está desmoronando e isso vai te acalmar. Todo esse lance de taquicardia... não quero perder uma amiga.

Vi ele ir até a adega e pegar outra garrafa. — E se ele souber disso? — Christian deu meio sorriso enquanto abria a garrafa.

— Dulce, acha mesmo que ele esconderia isso logo de você? Acredita que se ele soubesse que o menino não é filho dele e que a probabilidade dele nunca ter transado com a Natalia fosse maior, você não seria a primeira pessoa que ele contaria?

— Eu não sei. — Olhei para Santiago que agora estava, não sei como, pendurado em cima do cachorro que agora estava rodopiando tentando derrubá-lo. Eu devia fazer algo, mas naquele momento eu não consegui raciocinar.

— Lucas! Para agora! — Christian alterou a voz e ele parou, olhando para Christian com a cara mais inocente do mundo.

Christian foi na direção dele e tirou Santiago de cima, e ele agora parecia estar fora de si, talvez pelos rodopios, mas ao mesmo tempo ele ria.

— Christian! — Arregalei meus olhos, quando vi Alice ser abocanhada pela parte de trás da fralda e ser jogada no chão, para em seguida começar a ser arrastada pelo chão. Ao contrário do que imaginei, comecei a ouvir gargalhadas histéricas enquanto Christian corria atras deles com Santiago no colo.

— Lucas para agora! Você vai machucar a Ali, seu malcriado!

Tentei levantar para ajudar, mas com o estômago vazio a garrafa inteira de vinho subiu mais rápido que o previsto. Deixei-me descansar mo sofá, certa de que ele daria conta. Ele precisava dar.

Ouvi Christian brigar com o bicho enquanto ele o colocava para fora da casa, o que era injusto, já que ele estava apenas brincando com as crianças, que por sinal, estavam provocando ele.

— Eu acho melhor ir embora, o Christopher deve estar preocupado.

— Por quê estaria?

— Porque eu meio que fugi com os dois. Aliás, ele deve tá uma fera comigo, mas sei lá... eu precisava respeirar, então agi sem pensar. Droga! Ele debe tá querendo me matar agora. — Minha voz voltou a falhar. — Tava indo tudo tão nem, a gente ia viajar e tudo mais, mas quem ia ficar com eles era a Alexandra, mas agora não quero nem saber dela perto dos meus filhos. Eu to muito puta!

— E quem vai ficar com eles agora?

— Como? Pra quê? Acho que não entendeu né? Eu quase passei em cima dele com o carro, ele tava indo tirar as crianças do banco de trás. Eu fiquei irritada o dia todo com ele, piorou depois que ele descuidou da Ali e ela ficou entalada no vaso sanitário, e agora isso. Acha mesmo que tem chance de viajarmos? Não!

— Espera! Como assim a Alice focou entalada no vaso, Dulce? — Christian começou a rir descontroladamente enquanto olhava pra ela, que agora estava distraída com algum brinquedo. — A vida de vocês é muito mais empolgante que a minha, quer trocar de papel? E sim, vocês vão viajar nem que sejam amarrados. Briguem, se matem, mas no final façam muito sexo e se reconciliem. Vocês têm dois filhos. Não um, mas dois filhos que precisam de vocês dois tá bom? E eu já cansei dessa briga de vocês dois. Todo mundo já cansou!

— Nossa! — Desviei o olhar. — Desculpa!

— Não é pra mim que tem que pedir desculpa, sabia? — Assenti. E como sabia.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora