CAPÍTULO DEZESSETE

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Alguns meses antes...

Destravei  o cinto de segurança e esquivei-me para olhar o imenso gramado do outro lado do muro baixo. O sol batia reluzente na folhagem verde chamando toda a atenção para lá.

Se não fossem as lápides no chão e os milhares de corpos enterrados em baixo da relva, diria que seria um excelente lugar para um piquenique.

Fiz uma careta repreendendo-me por pensar naquele absurdo e então olhei para trás, onde Alice estava com seus olhinhos minúsculos olhando curiosa para o teto.

Nas três primeiras semanas eu não quis sair de casa, com exceção à primeira consulta dela e ao ensaio fotográfico New Born que Anahí insistiu em fazer, mas aquele dia era especial, e embora um cemitério não fosse o melhor lugar do mundo para se levar um bebê recém-nascido, eu sentia que precisava fazer isto.

Eu sabia que era até anti-higiênico, mas todos os anos, desde que Victor faleceu, eu ía com Christopher lá, e aquele era o primeiro ano que o filho dele não compareceria já que ninguém teve notícias dele desde que ele foi embora, então, que presente de aniversário melhor que apresentar a ele a neta que ele tanto sonhou?

Saí do carro e depois de levar um coro ao tentar armar o carrinho dela, fui conferir se ela estava agasalhada o suficiente, pois, apesar do sol o tempo ainda estava bem frio. Ela fechou os olhinhos quando a tirei do carro expondo-a ao sol e resmungou. O mais longe que ela tinha ido até agora era na varanda da casa da minha mãe onde eu estava passando o resguardo.

— Esse sol é muito forte, mamãe.

Minha voz mudava completamente quando eu falava com ela, e encantadoramente ela tentava achar de onde estava vindo. Eu sabia que tudo que ela podia enxergar eram borrões à sia frente, mas sabia também que ela podia me reconhecer pela voz.

Depois eu a coloquei no carrinho, peguei dentro do carro as flores que eu havia comprado no caminho e entrei no cemitério, atravessando o enorme corredor de pedras até onde Victor estava enterrado.

Enquanto caminhava eu sentia meu coração se apertar e por fim me bateu uma saidade imensa dele. Olhando para Alice no carrinho, não deixei de notar que ela tinha traços fortes dele, mas sabia que poderiam mudar logo.

Andei uns bons metros até poder dobrar a esquerda e chegar à lapide dele, e não deixeo de notar que as flores que estavam ali estavam murchas e velhas, o que com certeza deu a entender que ninguém ia ali há algum tempo. Quando eu ainda estava com Christopher, eu sempre o acompanhava em datas comemorativas, porque era importante para ele, mas depois eu nunca maos fui ali.

— Olá, Victor! — Olhei em volta para garantir que ninguém estava me olhando conversar com uma lápide e pensando que eu era louca. — Eu não posso ficar muito tempo, mas não fica bravo comigo. — Tirei as flores velhas e coloquei as novas e depois tirei com um sopro as folhas secas caídas sobre a lápide. — Eu acho que você já deve saber porque estou aqui, porque acredito que possa me ver de onde está... então não é surpresa que seu filho e eu não estamos mais juntos faz algum tempo.

Dei um passo para trás e olhei Alice que tentava chupar a própria mão que estava com a luva. Ela sugava com tanta força que eu sabia que logo começaria a chorar com fome.

— Lembra quando você falava que íamos ficar juntos e te daríamos netos lindos? Então... quase deu certo, mas aqui está sua neta. — Peguei a pequena no carrinho e ela fez um biquinho de choro. — Ela se chama Alice, como você gostaria que o Christopher se chamasse se fosse menina, e bom... eu dei o seu sobrenome a ela, mas ninguém sabe disso, então é um segredo só nosso.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora