CAPÍTULO QUINZE

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— Droga, a panela!

Peguei Alice que estava sentada em cima da mesa enquanto me olhava fazer um suco de laranja e fui mecher a comida com a mão que ficara livre.

Se eu já estava nervosa pela não conversa que tive com Christopher, fiquei ainda mais quando Paco disse que estava indo jantar na minha casa novamente. Primeiro que eu não estava nem um pouco a fim de cozinhar e segundo que eu não queria vê-lo e não entendia o porquê. Ele não tinha culpa alguma do que estava acontecendo comigo.

— Filha, o que é que você colocou na boca? — Perguntei, como se um bebê de nove meses falasse.

Vi que ela parecia mastigar algo e estava fazendo o mesmo biquinho que ela fazia enquanto comia.

Desliguei tudo do fogão e coloquei ela sentada no balcão, depois forcei-a a por seja lá o que era para fora. Arregalei meus olhos quando vi que era a tampinha do detergente, e não sabia se ria ou se chorava, ou se me preocupava com a possibilidade de ela engolir aquilo ou de saber que ela havia ingerido uma pequena quantidade de detergente.

— Onde você pegou isso? Não pode colocar na boca, tá?

Joguei aquilo no lixo e depois dei um pouco de agua para ela. Eu ia ter cabelos brancos cedo se ela continuasse aprontando assim.

Quando Paco chegou, eu peaticamente joguei Alice nos braços dele e voltei para a cozinha para terminar a janta. Ela não gostou inicialmente de eu ter feito isso, mas logo ele conseguiu cala-la. Sempre que ela ficava resfriada era todo um mimo.

— Dia difícil?

— O que acha?

— Que você está extremamente estressada. — Ele ficou parado na porta, deixando Alice fazer gato e sapato do cabelo dele.

— Não estou.

— Só comeu três vezes mais do que costuma e agiu de forma, digamos... muito esquisita.

— Ah, eu estava realmente atrasada. Precisava cumprir horas hoje, desculpa.

— Dulce, o que está acontecendo?

— O quê?

— Eu não vim jantar, vim conversar. Foi apenas uma desculpa, porque acho que está precisando de alguém e eu ainda estou aqui. Sempre vou estar pra você.

— Não vai.

Mantive minha atenção à panela que borbulhava à minha frente. Engoli a súbita vontade que tive de chorar e voltei ao que estava fazendo.

— Claro que vou. Apesar de tudo, ainda somos amigos, né? Ou você não quer mais a minha amizade?

— Eu sinto que isso não vai acabar bem e que logo eu estarei sozinha lutando contra isso e eu não vou aguentar. Você logo vai arrumar alguém e tudo bem, porque você merece alguém que te faça feliz, mas eu sou egoísta e não quero ter que deixar você ir, mesmo sabendo o quanto eu posso machucar você.

— Não entendi.

— Hoje eu vi como você ficou com aquela mulher. Eu... eu fiquei brava e eu não tenho direito disso. Talvez seja melhor a gente se afastar. De vez.

— Dulce... — Engoli mais uma vez o choro que se apertava cada vez mais para sair.

— Estou machucando você, estamos machucando um ao outro, e isso não é justo.

— Vem aqui.

Ele desligou tudo sobre o fogão e então me puxou para um abraço terno, e então eu desabei. Eu sentia o peso do mundo sobre mim e sentia que ninguém conseguiria me ajudar a tira-lo dali.

[Revisão] Forgive (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora