-Não sou filho de sangue, sabe? Sou adotado... Na verdade, nem isso, estou mais para... filho da máfia.
Fiquei totalmente perdida. Do que raios ele estava falando? Louis era ou não era seu pai? Espera, Louis não era jovem demais para ser pai de um rapaz de sei lá, dezoito anos?
-Vejo que está confusa - disse Mark vendo minha nítida incompreensão facial. Ele tinha um pequeno sorriso no canto dos lábios.
-Louis não é seu pai de sangue, não é mesmo? - perguntei impulsivamente, a curiosidade era maior do que qualquer coisa naquele momento.
-Não, ele não é - disse Mark e se jogou na grande poltrona de veludo preto. - Minha mãe fazia parte da máfia, ela era uma excelente contadora, se envolveu com um dos integrantes e engravidou - ele contava como se aquilo não tivesse a mínima importância. - Mas ele morreu antes do meu nascimento e minha mãe faleceu no parto. É, bem triste - ele sorriu debochado.
Ele realmente não se importava, não tinha o menor afeto ou sentimento pelos seus falecidos pais. Na sua essência, ele era tão frio.
-Fui criado por uma das empregadas nesta casa, junto com Louis - continuou Mark com sua história. - Louis nunca viveu um romance e como não havia ninguém para obrigá-lo a casar e ter filhos, quando ele completou vinte anos me adotou como futuro dono da facção... E com apenas doze anos passei a ser filho da máfia... - sua última frase foi carregada de ódio, ficou muito óbvio para mim que aquilo não era o que Mark queria para sua vida.
-É terrível privar um ser humano de viver - digo sentindo empatia por Mark. Ele me olha surpreso, mas logo volta a colocar sua máscara de arrogância.
-Não faço ideia do que Louis viu de tão interessante em você - disse Mark e inclinou a cabeça para o lado, seus olhos passaram por todo meu corpo e um sorriso debochado formou-se em seus lábios. - Ou talvez eu saiba.
Revirei os olhos e lhe dei as costas, me encaminhei novamente para a varanda e lá fiquei, mesmo com frio. Tentava enxergar alguma coisa naquela espessa escuridão, algum flash de luz ou movimento, mas era impossível. A cada segundo perdido naquela varanda, de braços cruzados, sem poder fazer nada, meu peito se comprimia mais. Tentava ser otimista, dizendo a mim mesma que Emilly estava bem e que logo a encontrariam viva e em perfeito estado. Mas havia outra voz que me culpava e acusava, dizia que o meu egoísmo tinha causado aquilo, e talvez seja verdade, afinal, se eu não estivesse tão ocupada com minha vidinha amorosa Emilly poderia estar segura agora, em um dos milhares de quartos que existiam ali, dormindo tranquilamente. Se eu tivesse pedido, implorado para Louis tirar Emilly daquele cativeiro horrível... Mas não, estava preocupada demais com as porcarias dos meus sentimentos!
O vento forte levava consigo as lágrimas de raiva que começavam a rolar pelo meu rosto. Será mesmo possível sentir tanto ódio de si mesmo? Pois era isso o que eu estava sentindo naquele momento.
-Emilly, não é? - a voz de Mark ressoou atrás de mim e levei um sobressalto. Ele estava muito perto, tratei de me afastar e sequei as lágrimas bruscamente com as mãos. - Esse é o nome da garota?!
-O que tem ela? - perguntei apoiando minhas mãos no muro da sacada.
-Eu teria odiado me casar com ela, normalmente não gosto de... - ele hesitou - pessoas malucas - disse ele deixando claro em sua voz seu deboche e desgosto por Emilly. - Se a encontrarem, viva, me lembre de agradecê-la por ter se casado com outro.
Virei para ele bruscamente e tive vontade de lhe dar uns bons murros, mas como eu ainda não havia perdido o pouco de juízo que me restará, mantive minhas mãos coladas ao corpo. Ao invés de espancá-lo, ia pelo menos dizer umas verdades em sua cara, mas desisti de falar quando tiros foram disparados na escuridão atrás de mim. Mal deu tempo de pensar em sair correndo, pois subitamente fui puxada para dentro do quarto. Caí com brutalidade no chão, meu corpo doía com a pancada. Mark estava ao meu lado, sua mão segurava uma arma com firmeza, seus olhos eram atentos e bem treinados com o perigo. Engoli em seco e me afastei alguns centímetros dele, não gostava da ideia de estar tão próxima de uma arma.
Estava em pânico. E se um daqueles tiros havia acertado Emilly? Ou até mesmo Louis? Meu coração disparou freneticamente com a possibilidade de um dos dois ter sido baleado. Então, num impulso de adrenalina levantei em um pulo e corri para à porta. Ouvi Mark sussurrar palavras distintas como "Merda", "Louca" e "Pare", mas de qualquer forma, não dei importância. Atravessei o cômodo em disparada e quando alcancei a porta a mesma se abriu. Forcei meus pés a freiarem, mas já era tarde demais, me choquei contra a pessoa do lado de fora do quarto. Olhei para cima e me acalmei em ver que era Louis.
-Achei que tinha dito para ficar de olho nela, Mark - disse Louis em seu tom grave e então seus olhos severos caíram sobre mim. - E você, o que pensa que está fazendo?
Sinceramente? Não estava nem aí para a bronca que ele ia me dar por tentar sair no meio de um tiroteio, estava tão aliviada por ele estar ali, bem e seguro, que impulsivamente o abracei. Envolvi meus braços em volta de sua cintura e o apertei, escondendo meu rosto em seu peito e puxando seu cheiro de eucalipto e menta para os meus pulmões.
-Mark, cuide das coisas lá embaixo, desço em instantes - ouvi Louis dizer autoritário e logo passos foram distribuídos pelo quarto, até que escutei a porta atrás de Louis sendo fechada e todo o som no corredor morreu.
Senti os braços de Louis envolverem meu corpo num abraço e a paz veio junto com a sensação de segurança e de que tudo ficaria bem.
-Você me surpreende a cada segundo - disse Louis encaixando seu queixo no topo da minha cabeça.
-Estava preocupada com você... - sussurro envergonhada, é estranho demonstrar sentimentos bons por seu sequestrador. Nesse instante Louis intensificou mais o abraço. - O que está acontecendo?
Notei que o tiroteio já havia sido cessado e que uma chuva se iniciara.
-Encontraram os invasores e houve uma troca de tiros, mas já está tudo sob controle - disse ele e me afastei abruptamente para olhá-lo com desespero.
-E Emilly?Conseguiram encontrá-la?Ela está bem? - perguntei sem qualquer pausa. Ele hesitou por dois segundos antes de responder.
-Não, a garota não estava com eles...
-O QUÊ? COMO ASSIM? - gritei incontrolável, logo as lágrimas começaram a cair.
-Calma, meu doce - e ele me abraçou novamente, seus dedos acariciam meus cabelos numa tentativa de me acalmar. - Já mandei uma equipe de buscas para procurá-la, parece que ela conseguiu fugir... - seu tom era baixo.
-Fugiu? Então ela está bem? -perguntei enxugando as lágrimas.
-Isso eu já não posso te garantir... - disse ele, sua postura e voz eram hesitante. Parecia que ele estava tentando esconder algo...
-O que você não quer que eu saiba? Diga o que você está escondendo - disse em um tom sério e áspero. Era a primeira vez que estava me impondo a ele.
Vi o seu peito subir e descer com o suspiro forte que ele soltou. Ouvi um barulho estranho vindo há poucos metros até de mim, mas estava muito angustiada para me preocupar com aquilo. Ele passou a mão pelos cabelos e puxou o ar novamente para os pulmões. Suas palavras seguintes foram esmagadoras...
-A garota se jogou no rio para escapar... Mas a essa hora ela já deve estar morta.
No mesmo instante senti uma dor enorme atravessar meu corpo. Minhas pernas fraquejaram e eu caí no chão. Meu coração parecia desacelerar, minha vista ficou turva e a última coisa que lembro de ter acontecido antes de cair para o lado e apagar, foi de ter ouvido um tiro.
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Gêmeos em Ação
Teen FictionLeon e Lauren são totalmente o oposto um do outro, enquanto ele é calmo, intelectual, minucioso e simples, ela é agitada, vaidosa, espontânea e mimada. Apesar da diferença gritante entre eles, os dois continuam gêmeos e melhores amigos. Lauren sempr...