Capítulo 86 - Sua farsa

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Era 17 de outubro e estávamos todos viajando para o Canadá. Era uma viagem para conhecer a nova casa de Leon e Emilly, fomos passar o final de semana inteiro com eles. Meu primeiro pensamento ao ver o lugar foi: é a cara da Emilly. Tudo era lindo e cheirava à grama.

— Sua casa é um verdadeiro cartão postal — digo quando Emilly e eu andávamos pelo "quintal" enquanto bebíamos café.

— É perfeito, não é? — Disse ela com os olhos cintilantes. — Eu amo esse lugar.

— Me faz querer largar a cidade e morar no campo também — digo bebericando minha bebida quente.

— Você não ia se arrepender — afirma ela com um sorriso.

— Não sei, acho que o cinza da cidade urbana combina comigo — digo reflexiva enquanto fito a montanha.

— Diz isso por conta dos seus sentimentos ou é só uma analogia à moda?

— Acho que todos os sentimentos que sobraram em mim são cinzas — digo segurando minha xícara com as duas mãos para esquentá-las do frio.

— Você não deve se cobrar tanto em trazer cor para sua vida tão rápido — diz Emilly em seu tom sábio e místico. — Além do mais, você pode permitir que as pessoas ao seu redor te ajudem com isso.

Olhamos para o mesmo ponto. Lá longe, no final da cerca, estão Tracey e Leon. Os dois conversavam, aparentemente, sobre a floresta.

— É difícil amar outra pessoa quando seu amor antigo acabou mal-resolvido — comento olhando especialmente para o ponto distante que era Tracey.

— As pessoas nunca amam outras da mesma forma que as anteriores — diz Emilly e penso a respeito. Será que de alguma forma, completamente diferente, eu amava o Tracey? — Sabe, apesar do amor ser teoricamente um sentimento, a gente não sente amor, apenas o vivemos. Sentir e viver são completamente diferentes.

— É possível amar uma pessoa sem sentir nada por ela? — Perguntei confusa a encarando. Ela abriu um sorriso.

— É claro que você vai sentir coisas, mas você não precisa sentir a todo instante para saber que ama uma pessoa. O amor não se trata apenas de sentir — disse Emilly encarnando um monge de duzentos anos.

— Eu só não quero enganar Tracey com falsos sentimentos — digo olhando para onde ele está novamente.

— Se você sempre for verdadeira com ele, não vai — diz Emilly e coloca a mão em meu ombro. — Você sempre foi sincera com as pessoas, Lau, seja assim também consigo mesma.

— Obrigada — digo colocando minha mão sobre a dela. — Você sempre me ajuda com os seus conselhos.

— Vó Rebecca sempre disse que sou uma falastrona nata.

— Ela não está totalmente errada — digo e sorrimos com cumplicidade.

— Vamos, preciso colocar a torta para assar — disse Emilly e antes de a seguir, dou uma última olhada para Tracey.

Naquela noite fizemos uma fogueira no quintal. Bebemos vinho e assamos marshmallow enquanto conversávamos. Fora uma noite muito agradável.

Gêmeos em AçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora