Em dezessete anos houve apenas duas vezes em que me senti liberta, livre de um cativeiro quase que hereditário. A primeira vez foi em cima de um altar dizendo "sim", sem sombra de dúvidas foi o dia mais feliz da minha vida, aquela simples palavra mudou o rumo da minha vida e pude enfim ser feliz por completo. E a segunda vez aconteceu há poucos segundos, quando deixei meu corpo cair no rio e ser levado pelas suas correntezas. Senti tanta paz quando toda aquela água envolveu me envolveu, éramos um só naquele momento, me senti intocável, liberta outra vez.
Depois de afundar até o fundo do rio, peguei impulso e subi de volta para a superfície, deixei meu corpo boiar na água, não lutei contra a correnteza, deixei que ela me levasse para longe. Abri meus olhos e contemplei o céu, havia muitas nuvens, o tempo estava fechando, logo iria chover. Se eu quisesse sobreviver teria que sair do rio e tratar de achar um abrigo.
Fui levada pela água por mais alguns metros, queria ter certeza que estava bem longe de Hector. Comecei a nadar em direção à margem do rio e não foi tão fácil, pois a correnteza estava consideravelmente forte, uma pessoa despreparada teria se afogado em poucos minutos. Saí do rio ofegante, uma rajada de vento fez eu me tremer da cabeça aos pés. Se eu não me mexesse e planejasse algo depressa, iria morrer de hipotermia.
Andei um pouco para dentro da floresta, estava muito escuro, mas graças a luminosidade da lua consegui avistar o tronco de uma árvore caída. Me aproximei e fiquei feliz em confimar minha suspeita, o tronco era totalmente oco, daria para eu passar a noite ali dentro. Mas primeiro certifiquei de que não havia nenhum animal ou inseto venenoso ali dentro. Peguei um galho e passei por dentro do tronco, batendo e chacoalhando o objeto para espantar qualquer criatura. Fiz isso por alguns minutos, até ter certeza que o lugar era seguro. Depois tratei de fechar uma das entradas com madeiras pequenas que encontrei ali perto e com cascas de árvore que tive que arrancar usando um pouco de força. Para esquentar o corpo cobri a parte de dentro do tronco com folhas secas e isso não foi difícil de se conseguir já que eu estava cercada por elas.
Antes de entrar no meu abrigo precisava cuidar dos meus ferimentos, que não eram poucos. Caminhei até a margem do rio e me ajoelhei para encher as minhas mãos com musgo. Não é muito difícil encontrar musgo nas margens de um rio. Passei aquela gosma verde em todos os meus machucados, com essa escuridão não dava para saber se os ferimentos eram graves, então o musgo serviria como uma bandagem, caso houvesse cortes profundos não perderia muito sangue.
Mas antes de entrar no tronco resolvi me despir, ficar com uma roupa encharcada não ajudaria a me aquecer. Fiquei apenas com minha calcinha, não queria ficar tão exposta às possíveis doenças que uma noite dentro de um tronco cheio de folhas poderia trazer. Fiz um amontoado com minhas roupas e as deixei na entrada, logo em seguida arrastei meu corpo pelo tronco, até sentir minha cabeça encostar nas cascas de árvore e madeiras. Por sorte, o tronco era grande o suficiente para que eu ficasse totalmente esticada dentro dele.
Ouvi a chuva cair, fechei os olhos e tentei esquecer que sentia frio, e que meu corpo se tremia inteiro. Logo, um rosto se tornou presente em meio a escuridão. Um rosto muito familiar, tão familiar quanto uma mancha presa ao corpo. Mas o que era mais familiar naquele rosto, e o que eu mais gostava eram dos seus olhos, não somente pela cor fascinante que eles traziam, mas porque através deles eu conseguia enxergar o que de fato era o amor.
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Gêmeos em Ação
Teen FictionLeon e Lauren são totalmente o oposto um do outro, enquanto ele é calmo, intelectual, minucioso e simples, ela é agitada, vaidosa, espontânea e mimada. Apesar da diferença gritante entre eles, os dois continuam gêmeos e melhores amigos. Lauren sempr...