Capítulo 8

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Bom. Depois daquela reunião fui chamada pelo meu comando para ser instruída. Fui elogiada por manter a pose e não entregar meu desconforto, que alguém viu pois assim que sai da sala do meu chefe vomitei até o que ainda ia comer, tamanho nojo.

No dia seguinte voltei a meu trabalho como se nada tivesse acontecido, mas uma coisa me intrigava: o papel do Leonardo nisso. Será que ele está monitorando o outro lado? Como em tão pouco tempo ele conseguiu ganhar tamanha confiança a ponto de ser ele a entregar a propina?

Bom, seja como for, tenho que confiar. Esse foi nosso primeiro encontro depois de nossa despedida no aeroporto. Ainda sonho as vezes lembrando de nossos dias juntos. Foi mágico e ter isso para o resto da vida seria um sonho.

Fui chamada para uma reunião com meu chefe e lá fui informada que esse final de semana teria que ir a uma festa na casa do tal Fubá. Ainda tentei recusar, mas o deputado foi bem enfático dizendo que o Fubá poderia se ofender e isso atrapalharia sua merendinha. O que não fazemos pelo país? Se as pessoas soubessem o que temos que aguentar como militar....

Ainda bem que o vestido que tinha usado naquele resort entrou em promoção assim que entreguei e não resisti. Estava quase dado, com o desconto de 90%. Vou usá-lo nesse final de semana. Não posso atrair desconfiança, afinal, em tese, eu tenho grana para desperdiçar com um vestido.

Na sexta feira me preparei para o evento: recebi escutas mais discretas que a do dia a dia, um colar lindo, que na verdade tinha uma câmera e gravaria tudo e um ponto eletrônico acoplado a um par de brincos de dar inveja.  No sábado de dia fiz minha unha, limpeza de pele e hidratação nos cabelos afinal de contas, meus cachos merecem esse mimo. Ah, e o psicológico né?

Me arrumei linda e fui para a festa. Com certeza o Leo estaria lá e poderíamos quem sabe dar uma fugida para um canto e matar um pouco da saudade? Otimista, muito bem humorada, fui para a festa em um condomínio de luxo. A casa do tal Fubá era linda. Se não fosse a forma que ele ganha dinheiro, teria inveja dele. A comida só do bom e do melhor. Salgadinhos e aperitivos  chiques preparados por chefes profissionais e tudo regado a wisk e champanhe. Sinceramente, prefiria a coxinha que minha vizinha fazia e uma Brahma bem gelada, mas são ossos do ofício.

Fui apresentada ao tal Fubá, um senhor bem apresentável que mostrava orgulhoso sua casa e seu patrimônio. Sua esposa parecia constrangida, uma senhora que estava bem vestida, mas que se via ser humilde. Enquanto seu marido nem olhava para os garçons, ela tratava os funcionários com carinho os chamando pelo nome, pedindo para servir um convidado e agradecendo e recebendo um sorriso deles. Com certeza era amada.

Enquanto seu marido se orgulhava de suas posses, ela se retraia e puxava a conversa para a família, dizendo estar muito feliz com a filha mais velha, que estava noiva de um bom rapaz. O marido concordou com a esposa e disse que o rapaz entrou na casa como segurança, mas que logo ganhou não só a confiança dele como o coração da sua filha amada e que tinha um grande futuro.

- Já estou levando ele para o negócio da família e o rapaz tem futuro. - disse Fubá todo orgulhoso.

- Isso é bom. Não deixar o negócio na mão de terceiros é a melhor coisa a fazer. - disse o deputado.

- Inclusive, foi ele quem foi levar a merendinha para você essa semana. - na hora minha atenção à conversa redobrou. Como assim? Quem  levou foi o Leo e não o genro dele. Ai meu Deus! - Olha eles aqui, meus orgulhos. Não são um casal lindo? - disse ele apontando para uma moça linda realmente, em um vestido deslumbrante e abraçada ao Leo, que estava lindo num terno. Na hora meus olhos arderam de lágrimas, mas tinha que me controlar. Não podia deixar as lágrimas rolarem.

Ele estava sorrindo para o casal com que conversavam e não bastasse isso, a beijou. Meu mundo caiu. Pedi licença e me tranquei no banheiro mais próximo. No ponto eletrônico recebia a instrução para voltar para a festa, mas precisava me  recuperar antes.

Coloquei um sorriso no rosto e fui para a festa. Tinha agora que ser profissional e assumir que fui feita de idiota mais uma vez. Voltei para o grupo e agora foi a vez do Leonardo ficar desconcertado quando me viu. O sorriso em seu rosto estava congelado e depois se desfez. Não fui com a cara da noiva dele. A mulherzinha era tão pedante quanto o pai e faltava pouco bater na mãe, que não podia abrir a boca sem levar um fora da filha.

Na primeira oportunidade, dei uma desculpa e sai daquele lugar. Estava na porta da casa esperando o taxi quando sinto sua presença. Ele veio atrás de mim! Leonardo coloca a mão no meu ombro mas não me viro. Não sei se consigo segurar as lágrimas vendo -o diante de mim.

- Alessa, desculpe. Um dia vai entender, mas agora preciso estar aqui.

- Tudo bem. Eu que sou idiota de acreditar em promessas. É bom que a gente aprende.

- Não! Eu fui sincero. Não pense que não te quero. - diz ele tentando me virar para ele, mas o táxi chega e entro sem olhar para ele. Assim que o táxi começa a andar não resisto e olho para trás e vejo a pedante da noiva dele se aproximando dele e o abraçando.

Idiota! Sou uma grande idiota por mais uma vez acreditar em um homem. Quando Lúcio me quebrou a frieza e o exército me protegeram da dor e quando penso ser possível viver uma história levo outro tombo, mas dessa vez bem mais dolorido.

Por semanas me iludi pensando que talvez, pela primeira vez, viveria uma história de amor e quem sabe conquistaria meu felizes para sempre. Desembarquei em casa com uma certeza... Não iria derramar uma lágrima sequer, nem pelo Leonardo, nem por homem nenhum. Vou me dedicar mais ainda ao meu trabalho.

A partir de hoje, os bandidos que se cuidem pois chorarão como bebês quando os pegar e os primeiros da minha lista são meu chefe e aquele tal de Fubá. Eles que me aguardem!

Do meu tamanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora