Dedicado a AlexandraMercs. Obrigada pelo carinho!Se a missão anterior foi punk essa seria bem pior. Mexer com criança era fogo. Eu ia trabalhar como enfermeira/ cuidadora em um dos orfanatos que estava sob investigação. Me mudei para uma cidade do interior de São Paulo, perto do orfanato a princípio. Minha meta seria ganhar confiança suficiente para ficar no local 24 horas por dia.
Não podia ser boazinha demais, senão nunca teria a simpatia de quem precisava. Por isso, me vesti com uma roupa bem sóbria e sem graça e adotei uma postura rígida como a Diretora Agatha Trunchibull do filme Matilda. Cruel não?
Assim que pus meus pés no orfanato meu coração doeu. As crianças me olhavam com olhar assustado e praticamente se esconderam de mim. A diretora me apresentou a todos eles e passei a verificar as crianças. Precisava ganhar a confiança da Diretora rápido pois cada dia que demorasse mais pessoas patifes.
A diretora me dava medo. Se eu me fazia de séria, ela era bem pior que eu. Uma das cuidadoras era boa e carinhosa com as crianças, mas eu via como os outros a tratavam com descaso e desrespeito, inclusive a diretora. Ana era seu nome e seria minha aliada, mesmo sem ela saber.
Quando a diretora ou algum funcionário que não fosse Ana estava por perto eu era bem rígida com as crianças e aplicava castigos não físicos como deixa- los sentados de cara para a parede ou ameaçando dar uns cascudos, mesmo com meu coração apertadinho.
Algumas pessoas visitavam o Orfanato com frequencia e conversavam muito com a Diretora, principalmente o Sr. Almir que, segundo Ana, era do Conselho Tutelar e que ajudava as crianças a encontrarem uma família. Com 15 dias no trabalho abriu uma vaga para uma cuidadora que dormisse no orfanato pois a pessoa que estava no cargo mudou de cidade. A Diretora logo me chamou e me ofereceu a vaga, claro que tratei de espalhar entre as funcionárias que estava sendo despejada e não tinha local para ficar.
Minha história triste mais o pavor que as crianças estavam de mim fizeram que ue fosse a pessoa certa, na visão da Diretora Dona Vera, para o cargo. Enquanto estava lá vi que algumas crianças foram levadas pelo tal Almir que alegava que uma família nova o esperava. É claro que me inteirei do ECA e de toda legislação sobre adoção e achei muito estranho essas adoções em nenhum período de adaptação ou escolha da criança. Bebês já vi que ali não ficavam mais do que 2 noites. Parecia que ali era um mercado de crianças.
Em uma noite uma das meninas apresentou febre muito alta, gritava de dor na barriga e estava tendo convulsões febris. A levei para o hospital de emergência e de lá liguei para a Dona Vera avisando. Ela não ficou nada feliz com a notícia, mas não se opôs à minha atitude. Gabriela ficou internada para observação e os médicos desconfiavam de apêndice supurado e dependendo do resultado dos exames a encaminharia direto para sala de cirurgia.
Gabi era uma menina de 3 anos muito fofinha que chegou no Orfanato junto comigo. Parece que o Conselho Tutelar a tirou da mãe com a alegação de maus tratos, mas se via de longe que a menina era bem educada e um amorzinho. Fiquei com ela no quarto a consolando e aguardando o parecer médico. Logo o médico vem coma enfermeira a preparar para cirurgia. É realmente apêndice supurado, grave e a menina corre risco de vida se não for feita a cirurgia o mais rápido possível. Não liguei novamente para Dona Vera, mas liguei para Ana que ficou no Orfanato e fiquei em oração aguardando Gabi sair da cirurgia.
Estava já começando a amanhecer e o médico veio até mim na sala de espera.
- Bom dia! A cirurgia acabou e a menina perdeu muito sangue e teve algumas complicações, mas conseguimos reverte e ela está indo agora para a UTI pediátrica por precaução. Se quiser pode ir vê-la, mas ela ainda está sedada.
Graças a Deus! Cheguei na UTI e ela estava com seus cachinhos espalhados pelo travesseiro, pálida e dormindo tranquilamente. Me deu uma vontade de chorar. Tadinha! Sentei na cadeira a seu lado e esperei ela acordar. Quando deu 8 horas liguei para o Orfanato e para Dona Vera falando que estava com ela.
- Vem para cá, deixa ela ai. Estou te estranhando. Desde quando fica pageando criança? Está convivendo muito com a Ana. - disse Dona Vera, e não podia sair do personagem.
- Não senhora, não quero pagear criança não. Meu medo é que ela apronte aqui. Sabe como é, precisamos ficar de olho 24 horas por dias nesses pestinhas.
Parece que ela engoliu a desculpa. Ficara com a Gabi enquanto ela estivesse aqui. Ainda bem que tinha instalado algumas escutas e câmeras escondidas no Orfanato. Assim acompanharia o que estaria rolando lá e cuidando da Gabi aqui no hospital. Quem sabe com minha ausência lá não poderia rolar alguma denúncia sem levantar desconfiança para mim?
Eu não dou castigos físicos às crianças, mas exceto eu e Ana ninguém se furta a dar uns tapas nas crianças. Basta ficar atenta que logo alguém bate numa dessas crianças e vou fazer uma denúncia anônima para a polícia. Fico ao lado de Gabi esperando ela acordar e de olho no meu celular, onde recebo as imagens e sons do Orfanato.Como eu esperava, logo uma das funcionárias dá uma sacudida em uma criança que fez xixi na cama. Que sem vergonha! Peço para o comando fazer a denúncia para a Polícia e fico aguardando saber como vai se desenrolar isso. Não demora nem 1 hora e o tal Almir aparece lá. Não consegui grampear o escritório da Diretoria, mas hoje nem precisou. O tal Almir estava tão preocupado que puxou Vera para um canto, que estava com uma escuta - que sorte a minha! - e já foi entregando tudo.
- Fica de olho, alguém denunciou o Orfanato por maus tratos à Polícia. A pessoa disse que ouviu uma criança gritar pedindo para não apanhar mais. Pega leve, não podemos chamar a atenção. A sorte é que meu chapa estava de plantão. Essa brincadeira vai me custar caro. Discrição. Logo nos livramos dessa leva e chegam novas crianças melequentas. - disse o tal Valmir para Vera.
- Será que foi aquela sonsa da Ana? - questionou Vera.
- Duvido! Aquela lá é muito cagona para isso e quem denunciou não usou as vias normais, a ordem veio de cima e aquele lá não tem ninguém por ela. Deve ter sido um vizinho mesmo ou alguém que passou e ouviu.
- Deve ser mesmo. Aqui só aquela sonsa me causa desconfiança, mas não podemos nos livrar dela. A novata a princípio também me deixou com a pulga atrás da orelha, mas é das minhas e não fica de mimimi com esses pirralhos.
- Fica de olho. Semana que vem venho buscar uma para os americanos. Os caras estão no meu pé. A grana vai ser boa.
- Só tem um problema, a menina Gabi está internada. Operou e parece que não vai sair tão cedo do hospital.
- Puta merda! Vou arrumar outra então. Se bobear nem passa por aqui para não causar estranheza. Bom me avisar! Vou pedir para o chefe ver os documentos com o juiz para já levar direto a criança. Os viadinhos estão desesperados para ter um filho. Nem vão se importar de ser outra criança.
Ouvindo tudo aquilo meu estômago realmente embrulhou. Ainda bem que estou longe, não sei se disfarçaria meu asco.
O comando me garantiu que estava com o tal Almir na mira e que precisava deixar ele agir para chegar aos cabeças. Ai meu Deus, mais uma criança será arrancada de sua família, mais uma mãe vai sofrer. Me resta rezar para que consigamos depois devolver essa criança para sua família.
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Do meu tamanho
RomanceDepois de cansar de tanto bulling por causa de sua altura e uma desilusão amorosa que destruiu seu coração, a fé nos homens e seus sonhos Alessa se fechou em si e se dedicou apenas à sua profissão até conhecer Leonardo, que perturba sua vida e a faz...