Capítulo 3

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Depois do primeiro corte a biblioteca passou a ser mais frequentada. Para nós quatro nada mudou. Só de não estarmos na lista de corte já estava de bom tamanho, mas estar entre as melhores era demais!

Ao longo do primeiro ano, a cada prova teórica ou física o grupo reduzia mais e mais, acabando no primeiro ano com apenas 70.  Com tanta preocupação em se manter lá dentro, não havia mais tempo para bullying e ainda assim terminamos o curso com 50 formadas. Nós quatro nos destacamos por nossas habilidades e fomos direcionadas para uma formação adicional de 6 meses na base de Brasília para trabalhar com o pessoal da inteligência militar. Minha mãe chorava de saudade toda vez que eu ligava enquanto meu pai era só orgulho! 

O pessoal lá era casca grossa, mas conseguimos vencer mais essa etapa. Pouco sabíamos da vida pregressa de cada uma, mas isso não importava aqui dentro. Sabíamos que a qualquer hora nos separaríamos e para evitar a dor não nos apegávamos muito, era o que pensávamos, mas éramos irmãs nascidas de mães diferentes. 

E a hora da separação chegou. Taiane foi  designada para trabalhar numa Força Tarefa com a Polícia Federal em um caso de corrupção no estado do Rio de Janeiro, Daiane foi designada para a Procuradoria do Exército e Nádia e eu fomos destacada para a Força Nacional e ajudava a combater o crime  no país.

Nossa primeira missão foi em conjunto com a Polícia Civil de Goiás, numa invasão a uma fazenda em que trabalhadores rurais eram mantidos em regime de escravidão. Ao que parece a fazenda era de um político influente na Polícia Militar do Estado. Era degradante de ver. Os trabalhadores estavam acomodados em um quarto, trancados e depois ficamos sabendo que eles eram convidados a trabalhar com a ilusão de ter uma renda considerável, mas quando chegava lá era cobrado deles uma série de despesas e eles ficavam eternamente devendo a fazenda e tinham que pagar com trabalho e aqueles que se rebelavam eram castigados física e psicologicamente, pois ameaçavam a família dos mesmos.

Já fomos convocadas para controle de manifestantes em Brasília e invasão de favelas. Até agora missões rápidas de no máximo 1 semana fora, mas com a visita de férias da Família Real Inglesa ao Brasil fomos designadas para auxiliar em sua segurança por 3 meses. Somos uma equipe de 30 agentes trabalhando em escala e de babá para o príncipe Harry. Passamos por uma instrução junto aos agentes da Scoland Yard e tivemos aulas intensivas de Inglês. Passamos quinze dias em treinamento em direção defensiva e técnicas de escolta. Ai de nós se o príncipe machucasse um dedo.

A equipe era formada por agentes das diversas forças, além dos que ficavam por trás dos panos. Ficávamos em alojamentos e minha relação com Nádia ficava mais estreita a cada missão. Em um final de semana antes da chegada do príncipe resolvemos sair e ir para uma boate. Sempre gostei de dançar e estava sentindo falta. Fazia já uns bons 4 anos que não ia a uma danceteria.

- Menina, quero dançar muito hoje. Quem sabe não tiro o atraso também hoje. Tem muito tempo que não dou um beijo na boca.  - diz Nádia toda animadinha.

- Pára com isso Nádia! - me fechei para o mundo, mas sou humana e sinto sim vontade de viver um amor, mas não assumo isso.

- Pára você! Ainda estou viva e jovem. Dizem que no grupo do turno da noite tem cada gatinho! E hoje todos vão para a mesma boate. Quem sabe nosso príncipe encantado não usa uniforme e sabe desmontar e montar uma pistola ? - diz Nádia com ares de sonhadora. Qualquer dia pergunto o por quê dessa fixação por armas.

Me arrumei como ela exigiu. Coloquei um dos poucos vestidos que tenho, um scarpin e maquiagem bem leve e meus cachos livres do coque usual. Entramos e peço um refrigerante. Vou para a pista de dança com Nádia e logo me entrego à música.

- Lessa, olha que gatos ali! - ela aponta um grupo de rapazes que deduzo serem militares pelo corte comum do cabelo. Tem para todos os gostos, loiro, moreno, ruivo, baixo, alto, mais musculoso, menos musculoso...  Papai acode! É muita gostosura junto. Por mais que não queira me envolver ainda tenho sangue nas veias e estou longe de ser cega.

Nádia logo se anima quando o grupo se aproxima e  continuamos a dançar perto deles, especialmente dois deles, que puxam conversa com a gente: um loiro, de olhos verdes que se apresentou como Charles e um moreno, alto, com os olhos castanhos mais enigmáticos que já vi que se apresenta como Leonardo. Charles é da minha altura e sou alta, mas Leonardo me faz olhar para cima para encarar aquele olhar que parece me virar do avesso.

Logo estamos os quatro dançando e  Nádia me coloca um copo de uma bebida rosa na minha mão. Experimento e é bem docinha, não deve fazer mal nenhum.

- Alessa, que nome incomum. - diz Leonardo puxando assunto.

- Sim. Coisa da minha mãe que juntou o nome do meu pai com o dela - Alex e Vanessa.

- Combina com você, exótica, linda e única. Você dança muito bem já te disseram? - é impressão minha ou ele está me cantando? Não tenho muita experiência com paquera. Fico tímida e me faço de desentendida. O DJ toca uma música mais lenta e ele me puxa para os seus braços.

Menina! Ficou quente aqui de repente. Ele olha no fundo dos meus olhos e me conduz. Nossos corpos colados, sinto seu cheiro másculo e sua boca carnuda perto da minha orelha. Ele dá um beijo na minha orelha  e morde o lóbulo.  Socorro! Ave Maria! Que umidade é essa no meio das minhas pernas.  Olho para o lado e vejo Charles e Nádia em um beijo que não sei dizer se são um ou dois ali. Na mesma hora lembro da Carla com  Lúcio naquele maldito baile e de toda humilhação e dor que senti. Largo Leonardo e corro para o banheiro.

Não consigo chegar ao toalet. Em um canto escuro um homem está  com as calças abertas segurando uma mulher que está com o vestido levantado até a cintura e com as pernas enlaçando sua cintura enquanto se devoram, porque aquilo não é um beijo. Percebo que ele está dentro dela e quando interrompem o beijo posso ver o prazer no semblante da mulher. O homem a penetra e aparentemente também é prazeroso para ele. Eles estão em um mundo particular e o prazer parece ser tanto que eles esquecem aonde estão. Ambos soltam gemidos de prazer e a mulher solta um gritinho quando ele a penetra com mais força, mas de forma alguma ela aparenta dor, diferente de como me lembro. Vejo quando ambos chegam ao clímax e se separam.

Meu Deus, sou uma depravada que fica olhando os outros em seu momento íntimo. E agora? Como passo sem entregar que vi tudo. A bebida me deixou mole  e a cena sem reação, tão me deixo levar e sou imprensada contra a parede. Um par de olhos pretos e enigmáticos me encaram e antes que possa seque pensar sinto seus lábios nos meus.

Não me sinto agredida e seu toque é suave, poderia facilmente me livrar da prisão de seus braços, mas está tão bom! Me sinto tão bem quando ele invade minha boca com sua língua! A língua dele procura a minha e começamos uma dança em que um quer provar o sabor do outro.

Esqueço meus traumas, minha história, meu nome e até aonde estou. O beijo se intensifica e me sinto consumir. Meu corpo está em total alerta, meus seios rígidos e pesados, minha calcinha está arruinada tamanha umidade no meu sexo.

- Está aí né safadinha? - Somos interrompidos por Nádia e a ciência de onde estou, com quem estou e o que estava fazendo me deixam constrangida e mais uma vez fujo, mas agora para minha cama.

As sensações não me abandonam. Sinto ainda sua boca na minha e o calor de seu corpo a me envolver. Revivo cada segundo dessa experiência única da minha vida. Quando Nádia chega finjo que durmo e ainda com a lembrança da segurança que senti em seus braços adormeço com um sorriso no rosto.





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