Capítulo 14

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Minhas queridas flores, desculpem a demora em voltar para vocês. Estava numa fase complicada, mas determinei minha cura e agora estou de volta. 

Dedicado à todas que estavam esperando ansiosamente por mais um capítulo. Meninas, agora vai ! 


Toda a adrenalina me impediu de dormir. Na verdade, não apenas a adrenalina, como a possibilidade de ser mãe.  Gabi dorme tranquilamente e passou uma noite bem tranquila. Segundo os médicos, mais dois dias e estará de alta.  Ana e as crianças estão muito bem e serão incluídos no programa de Proteção à Testemunha. Coitadas das crianças, já têm uma história sofrida e agora sabe-se lá o que acontecerá com eles. 

Soube pelo comando que as crianças que conseguirem  ter suas famílias localizadas, estas serão também colocadas no Programa. No final do dia  metade das crianças foram devolvidas aos pais e o restante aguardava. Duas famílias negaram receber seus filhos de volta. Segundo me foi informado, eram famílias numerosas e muito pobres, que eram gratas por terem menos uma boca a alimentar. Com isso, duas crianças tinham o destino incerto: Gabi e o bebê Davi. 

Ana estava muito feliz pelas crianças terem encontrado suas famílias, mas também se entristecia por Gabi e Davi. Ela veio visitar Gabi e as duas se davam muito bem. Somente aquelas infelizes conseguiam odiar Ana.

Uma Assistente Social acompanhava o caso de perto e, junto com um Juiz definiam o destino das crianças e de Ana. Enquanto Ana estava no hospital, fui até o comando para  me atualizar. Estou conversando com o Comandante Adrian e entra na sala uma senhora baixinha, num terninho conservador e óculos grandes. 

- Capitã Natália, esta é a oficial Alessa que  esteve em campo nesse caso do orfanato. Oficial Alessa, esta é a Capitã Natália, Assistente Social  que acompanha o caso. Novidades sobre os familiares dos dois que faltam? - pergunta o comandante sem perder tempo.

- Localizamos as famílias, mas eles são os casos em que  realmente a retirada da família original é o melhor para a criança. A mãe do bebê Davi, Maria, deu a criança para o Conselho Tutelar. Segundo os registros, Davi é o mais novo de oito filhos. A mãe é viciada em drogas e se prostitui para manter o vício. Os filhos estão com parentes ou os possíveis pais. A mesma já foi internada diversas vezes para tratar do vício, mas foge ou abandona o tratamento voltando para as ruas. A visitamos e verificamos que não tem a menor condição de ficar com a criança. Está na rua e ao que parece  está muito doente. Nos dispomos a levar para o hospital mas ela se recusa. Um dos que vivem com ela nos disse que ela está só esperando a morte chegar. A menor Gabriela está em situação parecida. O pais morreu em uma guerra que teve na comunidade que moravam e a mãe não era um exemplo para ninguém. Deixava a menina solta na rua, com fome  e doente. O Conselho Tutelar tirou da mãe e deixou com a avó materna, mas ela faleceu meses depois e nenhum dos outros parentes quis ou pôde assumir a guarda da menor, apenas uma prima da mãe. Ela ficava com a criança, recebia uma ajuda do governo, mas não mandava criança para a escola e a obrigava a vender balas no sinal. Uma vizinha denunciou e o Conselho Tutelar a tirou da prima e ao que parece, ela foi vendida para uma família americana e não fosse a doença dela provavelmente não conseguiríamos localizá-la. Resumindo: nenhuma das crianças tem família e deverão ser encaminhadas para adoção, mas ambos tem poucas chances já que o pequeno Davi te aparentemente um atraso mental devido ao uso de drogas pela mãe e Gabriela por ter uma saúde frágil e que exige cuidados e por ser negra, um perfil pouco procurado pelos pretendentes. - encerra fechando sua pasta aonde tinha anotadas todas essas informações. 

Somos militares, treinados para resistir às diversas situações, mas não tinha um com os olhos secos na sala. Tão pequenos e com uma história tão grande e pesada. Não podia deixar de me manifestar.

- E se eles não conseguirem uma família o que será deles?

- Infelizmente ficarão em abrigo até completarem 18 anos e depois estarão por conta própria. 

O Comandante agradeceu as informações e demos por encerrada a  reunião.  Fiquei ainda mais um tempinho na sala tratando assuntos da próxima missão, mas dessa vez não estava tão animada. Sentia que minha missão ainda não havia se encerrado. 

Sai da sala e ia para meu carro, precisava voltar para o hospital e vejo Natália exaltada no telefone.

- Não! me recuso a entregar essas crianças para esses caras que compraram elas. Tem que ter uma família aqui no Brasil que os aceite.  Sei, sei que eles estão habilitados, mas não se esqueça que eles tentaram comprar essas crianças. Ta. eu sei que no Brasil será difícil. Não tem ninguém? Nenhuma família? Não é possível... procura ai que buscarei também. Liga para todas as 5.500 comarcas do Brasil, mas uma tem que ter. Pede para o juiz segurar até amanhã. - ela desligou o celular e sentou parecendo cansada e derrotada. Me aproximei sem nem mesmo perceber e quando dei por mim estava a consolando com um abraço.

- Você está muito nervosa para dirigir. Vamos tomar um suco e conte comigo para te ajudar. 

Sentamos na primeira lanchonete que encontramos e entre um gole e outro do suco ela me conta que o juiz quer dar as crianças para o casal que as comprou pois eles tem habilitação, mas essas crianças irão para os Estados Unidos e sabe-se lá do que são capazes, se apelaram para uma organização criminosa. Tenho até amanhã para achar uma ou duas famílias para as crianças para impedir que essa família comece aproximação. 

- Mas não deve ser difícil. O Brasil é grande.

- Você que pensa. Temos um cadastro com todas as famílias habilitadas e o perfil desejado e nenhum deles aceita crianças com o perfil deles. Não sou contra adoção internacional, mas meu coração diz que essa não é a melhor opção para elas e minha intuição não falha. 

- Vamos fazer o seguinte: vou passar no hospital e pedir para a  Ana ficar com a Gabi enquanto te ajudo. Temos que achar essa família. 

Fizemos assim. Claro que Ana não se negou a ficar com Gabi e fui para o escritório de Natália. Ligamos para todas as comarcas do Brasil.  Eu, ela e a assistente dela viramos a noite mas não teve jeito. Nenhuma família se interessou. Já eram 6 da manhã, todas cansadas e esgotadas física e emocionalmente.

- Que situação! Se eu fosse casada eu mesma adotava essas crianças. São tão fofas! Que pena! - desabafei quando estávamos juntando todos os papéis para ir ao fórum informar ao juiz.

- Mas pode! Não precisa ser casada, apenas ter uma estrutura familiar. 

- Olha, não brinca comigo! Seria um prazer para mim ser mãe, principalmente deles, mas era apenas uma idéia. Não conversei com meus pais nem nada. Nem sei por onde começar.

O nosso cansaço instantaneamente se foi e a esperança brilhava no rosto de Natália e sua assistente. Ainda estava atordoada. Ontem pensava na possibilidade e hoje isso?  Será Deus agindo? 

- Liga para o juiz e fale com ele que em 3 horas chegaremos lá com a solução. - diz para a assistente que sai correndo para cumprir o pedido.

- Você tem certeza que aceitaria ser a mãe dessas crianças?

- Eles são lindos. Não sei! Sou enfermeira mas nunca cuidei de alguém nesse nível. Deixa eu falar com meus pais. Preciso conversar com eles.

- Claro. Vamos fazer o seguinte, você sabe que temos um prazo limitadíssimo. Conversa com eles e me dá uma resposta o mais rápido possível. 

- Tá. Vou ligar para meus pais. - respondi ainda atordoada com a velocidade de que tudo está acontecendo. - Jesus!




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