Capítulo 11

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Dedicado à budique95 e todas as  outras que acompanham, riem e choram juntinho com a Alessa.


Adoro meu trabalho, mas confesso que esse foi bem puxado. Não pelo trabalho em si, mas pela carga emocional. Tentei me manter o mais neutra possível, mas o Léo no meio disso tudo e meu carinho pela Dona Graça  e o nojo imensurável pelo meu chefe forçaram por demais meu emocional que já não estava lá essas coisas depois de quase 1 ano sem ver meus pais. 

Embarquei naquele mesmo dia em que meu coração mais uma vez se quebrou, mas agora não mais me derramo em lágrimas. Dormi toda a viagem e já madrugada cheguei à casa de meus pais, que me esperavam na sala e me receberam de braços abertos. Tomamos um lanche e fomos dormir. Teria duas semanas para colocar a fofoca em dia e matar a saudade. 

Hoje não tenho mais vergonha de sair nas ruas. Ergo a cabeça, mantenho a postura militar e sigo meu caminho. Não é arrogância, é auto proteção. Encontro pessoas que estudaram ou trabalharam comigo e sou simpática com aqueles que já foram comigo, mas para aqueles que eu era girafa desengonçada aproveito minha altura para olhá-los de cima.

Com isso de trabalhar infiltrada, meu soldo, ou salário, é ainda melhor que um militar que fica no quartel e como sou bem econômica posso dizer que viverei  bem por um tempo. Ajudo minha mãe, porque meu pai não admite receber qualquer ajuda minha. Levo minha mãe para um spa e fazemos muitos tratamentos de beleza e nos divertimos. Claro que fizemos compras e nos divertimos no shopping. Hoje minha mãe parece mais minha amiga. Claro que a respeito, obedeço e ainda temo levar uns cascudos, porque minha mãe é dessas, mas sou adulta e já sei o que é certo e errado, eu acho.

Minha última noite na cidade e meus pais vão comigo jantar no restaurante mais exclusivo e caro. Estamos todos lindos, minha mãe em seu vestido novo, meu pai de terno e eu com um vestido que destaca minhas curvas. Estamos rindo de uma piada que meu pai contou e vejo, para meu total e pleno desprazer o Lúcio. Ele entra no restaurante com uma beldade qualquer e quando me vê simplesmente paralisa e me encara. Finjo que não o vi e continuo a me divertir com meus pais que nem sei quando verei de novo. Deixo a mesa com a desculpa de ir ao banheiro para dar um espaço para meus pais namorarem um pouco, mas vou pagar a conta e tomar uma última taça de vinho no bar. 

- Olha que o tempo foi bem gentil com você. Será que na cama está tão melhor quanto na aparência? 

Se não é o auto controle que adquiri no meu treinamento já teria dado uma surra nesse babaca. Que audácia se dirigir a mim.  Finjo que não o ouvi e continuo a bebericar minha taça calmamente enquanto converso com um cavalheiro ao meu lado. 

- Amigo, se quer uma noite quente com uma mulher fogosa e fácil esquece porque essa ai não dá pra ninguém. Demorei quase um ano para conseguir e mesmo assim não valeu a pena- disse o Lúcio para o cavalheiro ao meu lado. Me subiu uma raiva que você não pode nem imaginar. Estava quase virando para dar uns tapas nele quando o cavalheiro saiu em minha defesa.

- Não o conheço e não tenho amigos tão.... deselegantes como o senhor. Retrate-se com a dama. - gente, que minha boca até abriu tamanha surpresa. 

- Olha o cara! Vê bem. - Lúcio só podia estar bêbado ou drogado. O cavalheiro além de mais educado era muito mais alto e forte do que o Lúcio. Estava claro que se partissem para as vias de fato ele não ia levar a melhor.

Não quero me envolver com nada disso. Simplesmente passo no meio dos dois para deixar bem claro que estou saindo. Agradeço a companhia ao cavalheiro, ignoro Lúcio e vou até a mesa dos meus pais para buscá-los para irmos embora.

Meus pais ainda queriam ir ao teatro, mas aleguei cansaço e que tinha que arrumar minhas malas. Os dois foram para o teatro e eu fiquei com meus pensamentos enquanto o sono não chegava. 

Com muitos beijos e abraços de meus pais, fui para o quartel general e mais uma nova missão. O comando já antecipou que essa operação seria barra pesada. Ainda não sei os detalhes, mas para dizer que é barra pesada é porque é pesadíssima. 

Quando o comandante quis falar sobre a missão merendinha e o Leonardo pedi para que ele apenas falasse de trabalho. Ele elogiou o meu desempenho e disse que a dona Graça era a única da família a se livrar da cadeia, que ela estava bem triste com a situação do marido e filha e o assédio da imprensa mas que todos os funcionários e amigos a estavam apoiando. 

Durante a reunião nos foi passado que estaríamos infiltrados numa  quadrilha suspeita de tráfego humano. Ao que parece crianças, homens e mulheres eram levados para outros países e estados com os mais diversos fins, desde prostituição e trabalho forçados a tráfego de órgãos. Me arrepiei dos pés à cabeça.

- Aqui estão apenas os melhores em missões infiltradas por que sabemos que essa é uma missão que exigirá muita firmeza e despendimento emocional . Se algum de vocês não se sentir apto ou preparado para a missão que diga. - disse o comandante


Ninguém se pronunciou - Senhores, sei que como militares não podemos escolher missão, mas para essa estamos abrindo uma exceção pois a missão é realmente bem desgastante. pode ser que algum de vocês sejam obrigados a participar de sequestros, aliciamento de menores e sabe -s e o que mais. A última agente que foi designada para essa missão teve que pedir baixa por problemas psiquiátricos. 

Apesar de minha última missão e do desgaste algo me dizia que  eu devia estar nessa missão. Até pensei em desistir, mas algo impediu de me manifestar junto com os outros agentes.  Fiquei com uma equipe pequena e com quem ainda não tinha trabalhado. Todos muito sérios e na sua, mas ali não era um concurso de popularidade. 

Após uma conversa com a psicóloga que devia acompanhar os agentes desse caso, recebemos um dossiê sobre a quadrilha e o que tinha se apurado até o momento. Confesso que me deu nojo. Um braço da quadrilha seduzia mulheres a partir de 12 anos com propostas de trabalharem como modelos e as colocavam em casas de prostituição em cidades da fronteira ou em outros países, outro garimpava homens de regiões pobres para trabalharem em grandes obras nas metrópoles os atraindo com salários altos para colocá-los em trabalhos escravos em fazendas do interior do país. Triste, mas pior era a área em que estaria infiltrada. Eu ficaria com a área que sequestrava bebês e crianças para adoção ilegal ou tráfego de órgãos. Parece que a quadrilha tinha influência em orfanatos, hospitais e outras instituições que poderiam facilitar seu trabalho.  

Me preparei o máximo que pude. Se participar do roubo da merenda de escolas me abalou eu corria um sério risco de sair dessa missão arrasada. Ainda não sei por que cargas d'água não pedi para sair, mas me lembrei do que minha avó dizia:

- Deus não dá o frio maior que o cobertor. 

Do meu tamanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora