Capítulo 44

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A cara de descrença da Vivien me assustou. Parecia que ela estava de frente para um fantasma. Ah, eu precisava saber o que rolava ali.

- Sim, é a Mari, você a conhece?

- É uma longa história. Ela trabalhava na Santini comigo e ela foi demitida e eu meio que tenho parte nisso. Desde então nunca mais a vi e não sabia dela. Ela sempre foi linda, mas algo nela mudou e não foi a barriga. Parece que ela perdeu o brilho, sei lá.

- Ela sempre me deu a impressão mesmo de sofrida, mas sei muito pouco dela.

- Então me faz um favor, levanta tudo o que puder sobre ela, inclusive essa história do namorado e o que ela está precisando. depois que você voltar de lua de mel  marcamos para tomar um suco e te conto a história toda. - achei estranho o seu pedido, mas faria o que ela me pediu,mesmo porque é muito prudente conhecer as pessoas que nos rodeiam afinal, o trabalho do Léo de certa forma colocava um alvo na nossa família

- Claro, assim que tiver alguma informação entro em contato com você.  preciso me preocupar com ela? - precisava perguntar.

- Não, acho que não. Na verdade acho que ela é mais uma vítima. Pode ficar tranquila.

Aquilo me acalmou, mas ainda assim procuraria saber mais dela. Até poderia usar meu trabalho e o do Léo para levantar algo, mas prefiro primeiro ter uma conversa com ela, se sentir que há algo a ser investigado ai sim, apelo para esse caminho. Perfeito, mas agora precisava me concentrar em me despedir dos convidados.

As crianças estavam acabadas de tanto brincar no parquinho. Estava cansada,mas queria ficar até o final para ajudar Ana e quem sabe levantar alguma coisa.  Meus pais ficariam lá em casa e quiseram levar as crianças para dormir. Meus filhos nunca sentiram falta dos avós. Bastava meus pais estarem na cidade para eu perder meus filhos de vista.

Ana mandou muito bem na festa, estava encantada até agora. Sentei para descansar meus pés enquanto desmontavam toda a festa e pessoas andavam de um lado para o outro carregando bolsas, caixas e bandejas.

Vendo todo o trabalho que eles estavam tendo para desmontar a festa, não pude deixar de concordar com Léo quando ele começou a dar uma gorjetinha para todos que estavam lá. Não sei se ele estava vendo o mesmo  que eu ou se a bebida estava deixando ele mais genoroso.

Estava quase acabando e Ana me perguntou o que faríamos com os presentes.

- Ana, falei sério, vou doar tudo. Você já viu lá em casa, daqui a  pouco não cabe mais nada. Já falei para o Léo pegar leve, mas é como falar para a parede. - Ana ria da minha indignação.

 - Tá, mas e então o que faço com esses aqui?- insistiu Ana.

- A Mari ainda está aqui?

- Está sim, tá fechando a cozinha.

-Tem como chamar ela para mim? 

- Claro. - e Ana saiu atrás dela.

Logo chega até mim uma linda mulata de sorriso largo, mas que não disfarçava as olheiras de cansaço e a barriga de quase 9 meses trazendo  nas mãos  duas caixas grandes e uma menor.

- Parabéns pelo bebê dona Alessa. Sobrou lanchinhos, doces e bolo, leve para as crianças. é sempre bom comer depois da festa, principalmente se tem visita em casa. Os refrigerante e cervejas que sobraram já foram para sua casa. - disse ela e me entregou as caixas.

- Obrigada, estava tudo muito gostoso. Você pegou um pouco para você também levar?

- Ela não ia levar não, mas eu já arrumei para ela também. - interrompeu Ana, minha fiel escudeira.

- Obrigada, é sempre um prazer trabalhar com vocês.

- Mari, vou deixar você descansar, mas preciso te fazer só uma pergunta. Como está as coisas da sua filha? Tem fralda e tudo o mais? - notei que ela ficou meio sem graça.  - pode ser sincera.

- Sinceramente, não tenho praticamente nada. Fui mandada embora mas não me pagaram nada, então peguei o dinheiro que estava guardando para pagar o aluguel.

- Você se importaria de ganhar algumas coisinhas, pacotes de fraldas?

- De forma alguma. Eu agradeceria qualquer pacote de fraldas que ganhasse.

- Então hoje é seu dia de sorte. -fui com ela até a caixa que estava com todos os presentes. - Pode levar, é seu.

Mari me abraçou agradecendo e à Ana. Pegou um pacote de fraldas e estava saindo.

- Mari. - a chamei. - Não vai levar o restante?

Ela parou, virou e chorando me abraçou. ela estava realmente emocionada e me fez também chorar.

- Muito obrigada, muito obrigada.

- Não precisa agradecer. Com certeza a Isa vai ficar linda e essas coisinhas trarão muito alívio para você. Meu bebê já está sendo muito mimado. Pode ter certeza que deve sair algumas coisas de lá também.

- Sou tão grata! Muito obrigada. Realmente me ajudará muito todos esses presentes. -  Ana me abraçou muito feliz com minha atitude, mas não poderia tomar outra atitude, seria muito egoísta da minha parte.

- Já falei que não precisa agradecer. Agora pede para alguém te ajudar a levar essa caixa para  seu carro.

Ela abaixou a cabeça e sabia que tinha algo errado. - Você está de caro, não é Mari? - perguntei,mas estava claro que não.

- É, eu não. vim de ônibus

- Ainda bem que isso resolvemos fácil né?  Ana, você pode levar ela para casa? Chamo um táxi para me  levar para casa com o Léo.

- Que isso, eu chamo um táxi então. 

- Imagina! Lá Ana ainda vai poder te ajudar a carregar as coisas e eu posso namorar um pouquinho. - disse piscando para ela.

Já tive muita emoção por hoje e não me faria bem, por hoje chega! Chamei Léo e fui para casa.

Precisava descansar, mas antes de me render ao sono duas coisas passavam pela minha cabeça: a primeira que, se continuasse assim eu teria que buscar outra babá porque Ana tem potencial para ir muito longe e a segunda foi Mari e sua luta para sozinha e sem emprego fixo sustentar a si e à filha.

Sob muitos aspectos eu era sortuda !

Do meu tamanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora