Capítulo 38

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- Qualquer que fosse o esquema é inadmissível recrutas despreparadas para servir nossa pátria. - alertei.

- Isso é a mais pura verdade. Você sabe que isso pode se tornar um grande escândalo e colocar em xeque todo o Departamento e pior, todo o corpo do Exército levando muitos inocentes para a lama.

- Senhor, eu entendo e espero que ele não tenha cometido nenhum estupro e que todas as relações tenham sido, de certa forma, consensuais pois vimos com essa gravação que ele é capaz de usar as fragilidades das alunas para conseguir o que quer.

- Caso isso tenha acontecido aí não tem jeito. Teremos que acionar a polícia militar e só nos restará rezar para que a merda não espalhe demais.Com as turmas passadas reparar esse erro é complexo, mas e essa turma?

- Tenho uma sugestão. O senhor pode determinar que seja aplicada uma prova final para todas as alunas, tipo um provão. Caso a recruta se saia melhor do que na última avaliação terá sua última nota substituída. O que acha?

- Perfeito. Resta saber quem formulará essa prova e corrigirá.

- Também pensei nisso. Acredito que podemos reaplicar a mesma prova da última avaliação. Quem sabe a matéria a fará facilmente e a correção posso fazer com o senhor, se não for pedir demais. Nossas secretárias podem ajudar já que as provas são de múltipla escolha e tem gabarito.

- Boa sugestão e quando você sugere que eu o faça? Temos poucos dias.

- Se tiver como editar essa determinação em uma Portaria ainda hoje antes do almoço e enviar à Diretoria para ciência, posso aplicar hoje que o Professor Amadeu não está na base, desde que tenha esse respaldo.

- Gostei. Na Portaria te nomearei como responsável pela aplicação e correção da prova, assim ninguém vai questionar sua atuação.

Nem bem cheguei ao meu escritório recebi a Portaria. Como já tinha me adiantado e feito uma matriz das provas foi fácil imprimi-las. Nem mesmo almocei, tamanha tensão sentia. Separei os pacotes das turmas e assim que minha secretária retornou do almoço solicitei que convocasse todas as turmas para se apresentarem no auditório para cumprimento imediato da determinação da Portaria 054 do Comandante Geral do Centro de Treinamento.

Após os cumprimentos iniciais, lemos a Portaria às alunas e iniciamos a aplicação da prova. Intercalamos as alunas nas carteiras, permitimos apenas canetas, lápis e borracha nas carteiras e solicitamos que todos os instrutores presentes nos auxiliassem. 

Para minha surpresa o Comandante fez questão de acompanhar todo o processo. Assim que as alunas receberam as provas, ficou bem claro quem estava burlando o sistema. Coincidentemente, dentre as primeiras a entregar as provas, muitas foram as que tiveram notas baixas e tenho certeza que o Comandante também reparou nisso.

Finalizada a prova, o Comandante determinou que somente tivessem no recinto eu, ele, e nossas secretárias e os instrutores. Nós corrigíamos as provas, passávamos as provas para os instrutores conferirem e cantarem as notas para as secretárias incluírem nas planilhas.

As planilhas de notas foram publicadas nos murais do Centro de Treinamento e plataformas. Os instrutores presentes serviram de auditores de todo processo e no fim assinaram junto comigo e o Comandante. 

Verdade seja dita, bastava a assinatura dele, mas nesse momento um processo transparente seria ideal.

Nem retornei para minha sala. Minha secretária trouxe minha bolsa e as chaves do carro enquanto dispensávamos os instrutores e a Secretária do comando publicava as planilhas. 

Eliza aguardava do lado de fora da sala desde que acabou sua prova e preferi que ela fosse para casa comigo. Pode ser considerado excesso de zelo, mas meu instinto não falhava e hoje ela iria para minha casa, quero ver alguém sequer pensar em invadir minha casa.

Estávamos já me despedindo do Comandante quando o Professor Amadeu ligou para Eliza e ela entrou na sala tremendo, sem saber como agir. Foi muito oportuna essa ligação justo quando estávamos com o Comandante. Ela atendeu no viva voz para que ouvíssemos.

- E ai, posso te pegar na base?

- Professor, não estou entendendo.

- Estou perdendo a paciência. Você vai dar para mim ou vou ter que te reprovar?

- Professor, por favor.

- Não tenho tempo não menina. Como vai ser? Já teve muito tempo para pensar.

- Professor, prefiro reprovar do que ter que me vender.

- Olha, então a marrentinha é virgem. Agora mais do que nunca você será minha. Se prepare.

Meu corpo se arrepiou todo. Agora mais do que nunca Eliza ficaria sob a minha mira. Saímos da base e fui direto para casa. Ia comprar um lanche para o jantar, mas deixei para pedir delivery.

No caminho liguei para Léo, passei por alto a situação e na mesma hora ele falou que estava indo para casa. O Comandante me informou que passou a situação para o Comando Central  e que a partir de agora ele estava sendo monitorado 24 horas, inclusive com quebra de sigilo telefônico.

Agora eu estava um pouco menos tensa. O Comandante havia tomado uma atitude concreta mesmo temendo seu futuro no cargo. Em casa apresentei Eliza a todos e claro que as crianças adoraram uma visita e mais ainda pizza em plena terça feira. 

Notei que ela ficou tímida quando Léo chegou, mas logo estava a vontade de novo. Por motivos óbvios, eu e Léo passamos a noite na sala vendo filmes e séries, mas atentos às câmeras de segurança. Somente lá pelas 3 da manhã recebemos uma mensagem do Comandante informando que o Professor Amadeu havia sido preso tentando entrar a força no alojamento.

Somente depois disso pude cogitar um cochilo. Léo ainda fez mais uma ronda antes de deitar. Antes de subir para o quarto avisei Eliza do ocorrido e tenho certeza que agora ela também dormirá um pouco antes de mais um dia que tem tudo para ser bem exaustivo. 

Como esperado, o dia na base amanheceu bem agitado. A notícia da prisão do Professor Amadeu se espalhou como rastilho de pólvora. Por ser de tão alta patente, o Comandante Geral em pessoa foi para a base junto com representantes do Ministério da Defesa. 

Tão logo essas pessoas foram recebidas pelo Comandante da base e inteirados de tudo que motivou as últimas ações, fui chamada e sabatinada. Apresentei todos os vídeos e documentos que tinha e por fim chamei as alunas que ainda estavam na base para darem seus depoimentos.

Todas foram ouvidas e pude ver no rosto de boa parte dos presentes a repulsa. Chamaram o Professor para se defender das acusações e qual não foi a surpresa geral quando o mesmo não apenas afirmou que sim, mantinha relações sexuais com alunas  e oferecia a elas vantagens. 

Questionado se agia contra a vontade das alunas ele ainda teve a cara de pau de afirmar que todos tem seu preço e que ele apenas sabia descobri qual. Quando questionado sobre as ameaças à aluna Eliza ele riu e disse que ela atrapalhou seu esquema e ele não conseguiu a colega dela, agora a queria.

Com sua confissão e tantas evidências, ele foi transferido para uma unidade prisional aonde ficaria até o Tribunal Militar julgá-lo. Finalmente! 

Do meu tamanhoOnde histórias criam vida. Descubra agora